24 de agosto de 1954 – dia de luto nacional

31 de agosto de 2007

Compartilhe:

Na história do Brasil, a data de 24 de agosto de 1954 constitui, inquestionavelmente, a data mais triste, lamentada e chorada pela população em todos os rincões do país. O carinhoso e pungente acompanhamento popular ao corpo do presidente Getulio Vargas, no trajeto do palácio do Catete ao aeroporto Santos Dumont, se constituiu, até hoje, na maior homenagem e mais grandiosa manifestação pública havida e prestada a um político no país.

Esta data marca o sacrifício do maior estadista brasileiro que praticou o suicídio para evitar que a Nação se envolvesse em uma guerra civil e transformasse o país em um mar de sangue.

Getulio Vargas, então presidente da República acuado pelas acusações mais infamantes, imorais e mentirosas, divulgadas pela imprensa e televisão coordenadas pelas forças mais reacionárias, sofreu uma virulenta campanha política oposicionista liderada por Carlos Lacerda, orador veemente, sem escrúpulo e o maior farsante político da época.

Lacerda foi um infante verrinário, desprezível e sistemático contra o Presidente Getulio Vargas, usando os métodos mais escabrosos como acusações e inverdades desmoralizantes, contando ainda com a oposição e o conluio de uma oligarquia organizada e uma elite retrógrada, que se juntaram para derrubar o governo e derrotar o grande líder político popular.

O prestígio popular e político de Getúlio Vargas decorreu da ação social que implantou no país durante seus dois governos. Foi paternalista, concedendo sem reivindicações populares os primeiros direitos aos trabalhadores, tornando-se ainda o governante brasileiro que, indiscutivelmente, propiciou, preparou e realizou no país o início do desenvolvimento em todos os setores da vida nacional.

É certo que governou discricionariamente, causando, até hoje, críticas veementes que esvaecem se considerarmos as condições existentes em 1930, quando assumiu o governo, decorrente de uma revolução que derrotou as elites oligárquicas que dominavam o país desde o Brasil-colonial.

A legislação trabalhista consolidada em 1943, permanece até hoje, decorridos 64 anos. Foi acusada de fascista, arcaica e retrógrada, mas tem sido a garantia dos direitos assegurados e salvaguarda dos trabalhadores, que, até hoje, através de seus órgãos de classe, defendem-na com intransigência.

Foi durante seus governos, 1930/1945 e 1950/1954, que o Presidente Vargas iniciou o processo de modernização da indústria, da agricultura, da pecuária, comércio, da infra-estrutura viária, das finanças e da administração pública, preparando o País para o grande salto de desenvolvimento que se deu a seguir.  Com a assistência financeira e técnica, e a ajuda do Presidente Roosevelt em 1944, conseguiu a implantar a indústria siderúrgica – CSN – em Volta Redonda; a exploração e o refino do petróleo com a criação da Petrobrás; o grande incentivo concedido para a modernização das usinas da indústria do açúcar e álcool, inclusive o plantio da cana; a fundação da Cia. Vale do Rio Doce; a criação da Eletrobrás; e, em especial, a criação do BNDS que propiciou o financiamento dos grandes empreendimentos no país.

Sua sensibilidade de estadista apontou para a necessidade de criar em apoio ao Centro Nacional de Ensino e Pesquisas Agronômicas, criar a Universidade Rural e os órgãos de experimentação a ela articulados, que, mais tarde, veio a transformar-se na EMBRAPA, hoje reconhecida mundialmente como um centro de excelência voltado às pesquisas agronômicas, agropecuárias e de tecnologia de alimentos.

Na área da saúde criou programas de combate à malária, à tuberculose e expandiu os centros de atendimento médico para a população menos favorecida, dando ênfase às ações preventivas promovidas pelos sanitaristas.

Implantou um programa de construção de casas populares jamais visto no País, transferindo para os institutos de previdência social a obrigatoriedade de implementá-lo, garantindo a seus segurados residências de boa qualidade – os grandes conjuntos residenciais estão aí até hoje – e a preços ao alcance dos trabalhadores.

Preocupado com a cobiça alienígena da Amazônia e com a necessidade de sua ocupação efetiva, promoveu várias ações de apoio à região, como a criação do Banco da Borracha e a encampação dos serviços de navegação pluvial, oferecendo mais regularidade e segurança a seus usuários.

No País, tudo era preciso ser feito, até então a máquina administrativa do Estado funcionava ainda nos moldes do Império. Sem que houvesse uma radical modernização de conceitos e equipamentos, todas as suas ações de governo corriam risco de não lograrem êxito. Ciente disso, criou DASP, que desenvolveu e implantou uma nova mentalidade no serviço público, criando a obrigatoriedade de concurso público e promoveu, igualmente, a reforma do judiciário.

Para tornar as eleições mais democráticas, implantou o voto secreto o direito de voto para as mulheres, transformando-as de cidadãs em igualdade de condições com os homens.

Como forma de garantir recursos para a modernização do sistema viário nacional, criou os Fundos de Marinha Mercante, Viário, Ferroviário e Automobilístico, que possibilitou a implantação da primeira indústria de veículos auto motores do país, a Fábrica Nacional de Motores.

As ações efetivas e a história mostram que Getúlio Vargas implantou no País um período ditatorial, por razões de Estado, o Mundo estava em Guerra e eram necessárias tomadas de ações que garantissem a integridade nacional.

As considerações e afirmações deste editorial refletem a admiração e a saudade de quem teve o privilégio de integrar a administração do brasileiro que mais dignificou o Poder Público no país, se tornando por tudo que fez pela sua pátria e pelo seu povo, indiscutivelmente, o maior estadista do Brasil.