A missão e os compromissos da Universidade no mundo contemporâneo

5 de janeiro de 2001

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As comemorações alusivas aos quinhentos anos do nosso descobrimento, assim como as transformações decorrentes da mudança de século e milênio, estão a induzir-nos a uma reflexão mais aprofundada a propósito do mundo em que vivemos, do estagio atual da civilização humana, das instituições que nos governam e dos valores que nos regem.

Vive-se uma nova era, em uma sociedade competitiva, exigente e veloz, de mudanças significativas, talvez por isso mesmo geradora de crises que se multiplicam: crises de governo, de Estado, de segurança, de habitação, saúde, moralidade, educação. Aí estão as, guerras, a violência, a fome, o desemprego, a miséria, as drogas, o analfabetismo, a infância desprotegida e outros males que estão a povoar o nosso cotidiano. Mas, paralelamente a tais indicadores, vive-se também um mundo sem precedentes em termos de conquistas cientificas e tecnológicas. A espantar-nos, pelos seus avanços, temos o laser, o DNA, a engenharia genética, as, pílulas do homem e da mulher, a informática e seus computadores, os satélites artificiais, o rádio, a televisão e os variados aparelhos eletrônicos de ultima geração, os meios de comunicação e de transporte cada vez mais eficientes, rápidos e seguros.

É um formidável mundo novo, muito mais sedutor que o idealizado por Huxley e bem diferente do descrito pelos profetas da futurologia, um mundo construído pelos gênios e milhares de anônimos, pelos que lutam pelos direitos fundamentais da cidadania, pelos direitos humanos de primeira, segunda e terceira geração. Os primeiros, de resistência as agressões do Estado-Poder, direitos à liberdade. Os segundos, de cunho predominantemente social, igualitário, para exigir prestações positivas do Estado-Governo, dentre os quais o direito a educação. Os terceiros, direitos a uma melhor qualidade de vida, ao meio-ambiente saudável, ao direito de ser feliz.

Nesta moldura, de carências e conquistas, cabe a educação, e sobretudo a Universidade, como ponto culminante da pirâmide do sistema dos seus valores, indicar os rumos da transformação social e do progresso da civilização, quando se recorda que o sistema educacional de um povo é o reflexo mais nítido do estagio histórico em que vive a comunidade, espelhando o ideal de homem projetado por essa sociedade.

O Prof. Caio Tácito*, em conferllncia proferida em Minas Gerais, nos anos setenta, após destacar que em todos os tempos nunca foi a Universidade apenas um organismo voltado a formação profissional de nivel superior, missao imediata e quotidiana porque del a depende basicamente o acesso a um estagio superior da sociedade, alertou para o papel essencial das elites universitarias na revisao e difusao dos valores culturais. E assim esquematizou suas quatro finalidades fundamentais:

a) a prestação do ensino superior, visando a oferecer as habilitações legais necessarias ao exercício das profissões;

b) a pesquisa científica com o duplo objetivo de integração no processo didatico e ainda de busca e domfnio do conhecimento científico (ciência pura);

c) a prestação de serviços a comunidade e as atividades produtivas (ciência aplicada);

d) a formção de elites dirigentes e a avaliação dos problemas nacionais e regionais, atraves da difusao e ampliação da cultura”.

Se quisermos, e este e o apelo que nos desafia, juntos poderemos realizar este que, mais que uma utopia, e o sonho de todos nós: um mundo sem tantas desigualdades sociais e agressoes, um mundo de paz, mais justo, solidario e feliz.

Sendo a Universidade a instância do novo, o centro de cultura por excelência e a alavanca para o desenvolvimento, mais do que qualquer instituição a ela o instrumento maior para a transformação da sociedade e a construção desse novo mundo.

Dai a razao para acreditarmos que a Universidade brasileira alam das suas aspirações de crescimento quantitativo, acolha em seu ideario tambem o compromisso com a excelência do en sino superior no Pais e com a transformação da nossa sociedade.