Edição

A sociedade somos todos nós, cidadãos

30 de abril de 2006

Compartilhe:

Tal tendência está tão arraigada na criatura humana que as pessoas parecem não perceber que agem com maldade. Os piores facínoras encontram amplas justificativas perante si mesmos, para seus atos anti-sociais. Al Capone  considerado o inimigo público nº 1 nos Estados Unidos afirmava não saber porque era perseguido pelas autoridades, já que proporcionava prazeres ao povo, ajudando-o a divertir-se.

Mafiosos sanguinários referem-se aos crimes que praticam como “circunstanciais”, próprios de seus negócios, sem nenhuma intenção dolosa. Tiranos cometem atrocidades proclamando defender o bem-estar social e o progresso da nação…

O egoísmo sempre encontra justificativas para toda a sorte de inconseqüências, desenvolvidas e consumadas com a presteza de quem defende interesses pessoais, por mais escusos se apresentem.

Exemplo típico: o chamado crime passional em que o indivíduo a pretexto de “lavar a honra”, comete brutal assassinato, recusando-se a avaliar a enorme distância entre a natureza do mal que sofreu e o mal que está produzindo, algo como jogar uma bomba na casa do vizinho porque seu carro esbarrou em nosso muro.

Normalmente, mesmo aqueles que cogitam apenas do bem, convivem pacificamente com o mal e até se envolvem com ele por fraqueza de múltiplas formas: O cigarro é um flagelo social. Provoca variados distúrbios de saúde abreviam existências, … No entanto, milhões de pessoas fumam, após a iniciação feita geralmente na idade escolar. É que ao adolescente pesa o constrangimento de sentir-se diferente entre os companheiros fumantes. Então ele assume o vício, tornando-se prisioneiro dele, por imitação.

Há um acidente de trânsito. Prejuízos consideráveis são provocados por um motorista imprudente. E ele procura distorcer os fatos, de modo a furtar-se às suas responsabilidades.

As pessoas prejudicadas procuram testemunhas, que tendo presenciado o acontecimento, disponham-se a depor em juízo, a fim de que se faça justiça. No entanto, ninguém se habilita. Há o medo de envolver-se.

A ganância de ganhar dinheiro induz muitos industriais ao desprezo por elementares medidas de preservação do meio ambiente, por dispendiosas. Poluem a atmosfera, matam rios, intoxicam a população e semeiam enfermidades.

O movimento ecológico vem sendo articulado com o propósito de defender a Natureza, os progressos, entretanto, são lentos, porquanto, pouca gente  se dá ao trabalho de participar, em absoluta indiferença.

Grande parcela da população permanece alheia, não por descrença, mas simplesmente por comodismo.

Vivemos num mundo de relatividade, condicionados pelo ambiente em que nos situamos, o que determinará que cada indivíduo, tenha suas próprias idéias.

Há indivíduos indolentes e indisciplinados que vivem em situação difícil por sua própria culpa. Mas há também os que experimentam amargas privações decorrentes de circunstâncias, situações alheias à sua vontade (o doente sem recursos, o operário desempregado, a criança abandonada).

Imagina-se que as providências a respeito do assunto são de alçada exclusiva do governo chamado ao atendimento da população carente e à erradicação da miséria.

No entanto, a sociedade somos nós, cidadãos que a compomos.

O governo, na verdade, é apenas uma representação. Não podemos portanto, debitar-lhe inteiramente a solução desses problemas,

A sociedade, como um todo, formada pelos cidadãos que a compõem pode e deve exercitar essas faculdades, na medida que, diante das misérias humanas, sempre haverá alguém capaz de fazer algo, ao passo que a interferência de prepostos governamentais vai depender de os encontrarmos, de estarem dispostos a fazê-lo e desfrutarem de disponibilidade para tanto.

Há outro aspecto importante: O governo representa não apenas a sociedade, mas também suas tendências. Ele se vincula à história da Nação, suas características, sua maneira de ser. A Alemanha de Adolfo Hitler foi a materialização da belicosidade e das pretensões de hegemonia racial de grande parte do povo alemão.

A sociedade legítima deve ser construída de baixo para cima. Não há fórmulas mágicas para isso. É apenas uma questão de trabalho, muito trabalho no esforço do Bem.

Muitos delinqüentes são formados na dura escola da miséria da necessidade mais premente como opção de sobrevivência, por falta de uma orientação adequada de um amparo efetivo.

Nas grandes cidades brasileiras, há multidões de menores abandonados a perambular pelas ruas. Até aos 10 anos pedem esmolas. Depois,  meninos e meninas se prostituem, transformam-se em trombadinhas, convertendo essas cidades em autênticas selvas, cheias de perigos e tentações. Ninguém desfruta de tranqüilidade em suas ruas.

Poderá o governo resolver essa grave situação? Talvez em parte sim.

Mas os habitantes dessas cidades sitiadas pela violência poderiam modificar radicalmente a situação. Se cada uma dessas crianças tivesse uma família que se interesse por ela, que a ajudasse, que a orientasse, que trabalhasse em favor de sua promoção; se cada uma das famílias de classe média ou abastada, fosse ao encontro do menor carente, prodígios seriam realizados em favor da solução do problema, favorecendo a edificação de uma sociedade mais justa. Mas, programas dessa natureza devem estender-se a todas as faixas da população carente beneficiando idosos, doentes, desempregados, presidiários…

Todos ansiamos pela lei e pela ordem. Queremos viver em paz, exercer nossas atividades profissionais, cuidar da família, construir um futuro melhor. Mas tememos por ele, em face da escalada da violência urbana.

Esperamos que o governo imponha a ordem. Que se aumentem os efetivos policiais, que se ampliem as prisões, que sejam mais severas as leis.

Imperioso reconhecer, entretanto, que só há uma lei capaz de acalmar os ânimos e impor a ordem no mundo, harmonizando indivíduos e coletividades. É a lei do Amor, insistentemente preconizada por Jesus, a explicar que cumpri-la é fazer ao semelhante o bem que desejaríamos nos fosse feito.

A coerção, a repressão, a prisão, a ação policial, porque todos os recursos de força com os quais se pretenda conter os impulsos criminosos do homem o atingirão sempre de fora para dentro, como um ato de violência, provocando reações semelhantes e exarcebando sua agressividade.

É por essa razão que os reformatórios são escolas de delinqüência, e o criminoso sempre sai mais endurecido da prisão.

Há que ser um trabalho que opere de dentro para fora, que atinja o indivíduo em sua intimidade, que contenha os seus impulsos inferiores, que desperte dentro dele o processo de sua própria renovação e a partir daí, possamos renovar a sociedade para a construção de um mundo melhor.

Por isso, o grande desafio a que somos convocados, talvez seja vencer a inconseqüência e a nossa imaturidade política e social.

Precisamos amadurecer buscando um comportamento mais consciente e disciplinado, a fim de cumprirmos nossa destinação; ajudando-nos a superar a inércia e o acomodamento, demonstrando que é preciso assumir nossos compromissos diante da vida e reconhecer nossos deveres diante do próximo.