Bernardo Cabral “uma história de heroísmo”

30 de junho de 2010

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O Chanceler da Confraria Dom Quixote, Bernardo Cabral, é o mais novo imortal da Academia Internacional de Direito e Economia. Ele tomou posse no último dia 10 de maio, em solenidade realizada no Rio de Janeiro. Esta edição traz, além do agradecimento do homenageado e as boas-vindas do imortal Ernane Galvêas, o discurso proferido por Ney Prado, Presidente da Academia, que destacou a “inteligência, a vasta cultura geral e alentada produção jurídica” do jurista. “A Academia Internacional de Direito e Economia sente-se, portanto, enaltecida em receber em seus quadros um talentoso brasileiro, apaixonado por ideais, e um exemplo de combatividade e destemor na defesa dos princípios, principalmente quando ameaçados pelo arbítrio”, disse Prado.
Discurso proferido por Ney Prado, Presidente da Academia Internacional de Direito e Economia
“ Em uma solenidade como a presente há que se seguir uma liturgia protocolar. A rigor, não cabe a mim, nesta oportunidade, prestar homenagem ao novo titular da Academia a qual presido. Essa tarefa está a cargo do Ministro e também Acadêmico, Ernane Galvêas.
Desejo, no entanto, tecer breve, mas sincero, elogio à figura de Bernardo Cabral, e cumprimentá-lo enfaticamente por mais esta conquista em sua já rica biografia.
O brilho de sua inteligência, a vasta cultura geral, sua alentada produção jurídica, a notória competência profissional, comprovada no exercício da Advocacia, do Magistério, da Política, e, em especial, na relatoria do texto de nossa Constituição atual o tornam merecedor do honroso título de Membro Efetivo outorgado pela Academia.
A Academia Internacional de Direito e Economia sente-se, portanto, enaltecida em receber em seus quadros um talentoso brasileiro, apaixonado por ideais, e um exemplo de combatividade e destemor na defesa dos princípios, principalmente quando ameaçados pelo arbítrio.
Julgo, todavia, prudente e oportuno falar brevemente a respeito das peculiaridades da nossa Academia.
Poder-se-ia perguntar o porquê de mais uma Academia, em especial de Direito. Ocorre que, não obstante o Direito seja um valioso instrumento civilizatório, no sentido de regular as relações entre indivíduos, grupos e nações, ele não é, por si só, tão autônomo a ponto de o intérprete desconsiderar outras áreas do saber, em particular a Economia.
Foi dentro desta perspectiva que notáveis juristas e economistas, brasileiros e estrangeiros, resolveram agregar ao Direito o pensamento econômico em uma única instituição.
Mas não fica aqui a peculiaridade da Academia. Em um mundo globalizado, tanto o Direito como a Economia deixaram de ser tratados meramente no plano interno e da soberania nacional. Daí porque, nos congressos e estudos que produzimos, está sempre presente esse novo mundo envolto por tratados internacionais e economias internacionalizadas.
Quanto à representatividade do nosso sodalício, basta consultar a lista de sua composição, toda ela preenchida por personalidades de grande prestígio e de notável saber jurídico e econômico.
Meu caro Bernardo, pelos seus inegáveis méritos, creio que a melhor homenagem que os Acadêmicos poderiam lhe prestar é dar-lhe a merecida posse como imortal, na vaga aberta com o falecimento do inesquecível Benedicto Ferri de Barros.
Parabéns, do sempre amigo e permanente admirador, Ney Prado
Discurso proferido por Ernane Galvêas, Consultor Econômico da Confederação Nacional do Comércio
“ Meu querido e fraternal amigo Bernardo Cabral, certamente poderei encontrar razões plenas que justifiquem o alto privilégio e a subida honra que me conferiram os companheiros da Diretoria e do Conselho para, em nome de todos, fazer-lhe esta saudação de boas-vindas ao quadro de nossa Academia Internacional de Direito e Economia.
Essas razões se assentam, claramente, na sólida e fraternal amizade que nos une e que construímos e cultivamos ao longo do tempo, mais intensamente nos últimos sete anos em que vimos trabalhando, lado a lado, diariamente, na Presidência da CNC, sob o esclarecido comando de nosso amigo comum, o Presidente Antonio Oliveira Santos.
O currículo de Bernardo Cabral é uma odisseia, uma história de heroísmo inserida brilhantemente na História do Brasil, contando coisas da vida de um verdadeiro Ulisses, que venceu na Amazônia, sua terra natal, ganhou todas as batalhas em Brasília e chegou vitorioso ao Rio de Janeiro, onde vive cercado pelas legiões de amigos e admiradores, daqui do Rio, de São Paulo e de todos os recantos do Brasil, uma constelação de notáveis como ele, Bernardo, que se reúnem hoje nesta honrosa Casa do Comércio, para homenageá-lo.
Bernardo Cabral não é apenas um amigo leal, sincero, dedicado e prestativo. Igual força de sua inteligência e personalidade o acompanha desde os bancos escolares, desde a infância e a juventude em sua Manaus querida. Aluno exemplar, desde cedo destacou-se nos estudos, até chegar à Universidade Federal do Amazonas, onde, como primeiro aluno entre colegas brilhantes, recebeu, em 1954, o merecido diploma de bacharel em Direito. Era a porta que se abria para o Brasil, um salto para o mundo, para uma carreira profissional vitoriosa e gloriosa.
Deputado Estadual em 1962, ingressou na carreira política pelas razões do Destino, como a provar que a vida pública também pode ser exercida com altivez, dignidade e elevado espírito público, para exemplo de seus pares e compatriotas.
Bernardo Cabral foi cassado durante a contra Revolução de 1964, mas sempre insisto em dizer que não foram os desígnios da Revolução nem o destempero de alguns militares radicais que o levaram à cassação, e sim mesquinharias políticas regionais, de adversários inescrupulosos, que não foram capazes de abatê-lo, pois apenas adiaram a gloriosa carreira que a Vida já lhe havia reservado desde o berço.
Em 1981, foi eleito Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, onde exerceu uma gestão única, sem par. Não é preciso mencionar os feitos de nosso herói à frente do órgão máximo dos advogados do Brasil, basta saber das legiões de juristas, de promotores, desembargadores de todos os rincões do País, que permanentemente rendem suas homenagens ao Presidente ilustre.
Em 1987, numa disputa memorável, que honra e dignifica sua fé de ofício, Bernardo Cabral, já então eleito Senador da República pelo Amazonas, foi escolhido Relator do Projeto da Constituição da República Brasileira, que viria à luz em outubro de 1988. Cada capítulo da nossa atual Carta Magna é uma história de luta, embate, convicções, ideologias e patriotismo. Naqueles dias tumultuados de retorno aos quadros da democracia sem amarras, foi pelas mãos de Bernardo Cabral que se escreveram páginas lapidares, que se mantêm de pé nesses quase 25 anos e que respondem, ainda hoje, pela garantia e segurança de um processo eleitoral livre e ordeiro, que caminha sem tropeços para as próximas eleições democráticas de outubro.
O Presidente Lula declarou, em uma oportunidade, que deve a sua eleição para a Presidência da República à plena liberdade de imprensa, liberdade essa que poderia não existir, se não tivesse sido expressamente inserida na Constituição Federal pelas mãos de Bernardo Cabral.
O Professor Ives Gandra arrematou, em outra ocasião: “Graças à sua excepcional capacidade de articulação, aliada à de Ulysses Guimarães, é que hoje temos um texto constitucional de excepcional qualidade no cenário internacional. Pode-se dizer que a lei suprema brasileira é, fundamentalmente, fruto do trabalho de Bernardo e Ulysses”.
Ao entregar-lhe o primeiro exemplar da Constituição de 88, o lendário Deputado Ulysses Guimarães, um outro Ulisses,  redigiu a seguinte dedicatória: “Ao Bernardo Cabral, relator histórico da Constituição de 1988, que tem a marca do seu talento e da sua cultura, o abraço fraterno do amigo e admirador”.
Em maio de 2005, por ocasião da homenagem que lhe rendeu o Conselho Superior da UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, conferindo-lhe o diploma de Doutor Honoris Causa, disse o professor Aurélio Wander Bastos, aqui presente: “A confiança na Justiça, a certeza compreensiva do papel dos juízes no encaminhamento de dissídios e conflitos humanos, permitiu que o Senador Bernardo Cabral fizesse da Reforma do Poder Judiciário o projeto central das suas esperanças, dos tantos anos dedicados ao Senado Federal e ao Congresso Nacional”.
Presente àquela solenidade, concluiu o nosso querido amigo comum, Orpheu Santos Salles, competente e criterioso Editor da Revista “Justiça & Cidadania”: “Bernardo Cabral tem seu espaço na História do Brasil, pela grandeza e competência com que exerceu os cargos de Deputado, Senador, Presidente da OAB, Ministro da Justiça e muitos outros que assinalaram sua destacada atuação como homem público de tantos serviços prestados ao seu Estado e ao seu País”.
Bernardo Cabral é, sem dúvida, um dos mais festejados e consagrados profissionais do Direito, no Brasil e no exterior. Não vou estender-me por uma odisseia consagradora de sua vida exemplar. Mas não me furto de lembrar o que, em março de 2007, ao outorgar-lhe o honroso título de Doutor Honoris Causa de sua querida Universidade Federal do Amazonas, disse o Professor Clynio de Araújo Brandão: “Diante de todo o País, vosso trabalho na Constituinte, Doutor Bernardo, foi consagração da inteligência e vitória do espírito. Inteligência que se esmerou na missão filosófico-científica de fazer coincidir a verdade e o bem na justiça constitucional”.
E, continuando: “Eis aqui entre nós, senhores, o advogado da redemo­cratização e o grande constituinte de 1988. Eis o defensor do ensino jurídico. Eis aquele que já foi chamado de patrono das águas. Eis aquele que completou o nosso próprio nome: Universidade Federal do Amazonas. Eis um homem integral: seus talentos se doaram às instituições, ao povo, à natureza, desenvolvendo em torno de seus contemporâneos um círculo de completa honra”.
Presente àquela solenidade na UFAM, em 27/3/2009, no mesmo dia em que Bernardo Cabral completava seu 77º aniversário, seu querido amigo e irmão Claudio Chaves, nosso amigo comum, ressaltou que: “Como prova de gratidão, a UFAM lhe outorga o seu maior galardão, o título de Doutor Honoris Causa, no mais justo reconhecimento da comunidade universitária amazonense”.
E, por já ter citado Orpheu Salles, vale dizer também que Bernardo Cabral, Chanceler da Confraria Dom Quixote, é um Dom Quixote brasileiro. Sonhador, idealista, com o espírito e a imaginação voltados para a Nação brasileira, para o povo do Brasil. Mas Bernardo Cabral é um Dom Quixote com os pés plantados na realidade nacional. Que sonha e realiza. Assim tem sido toda sua vida e sua fulgurante carreira profissional.
A pátria brasileira tem todo um acervo de conquistas que deve a Bernardo Cabral. E nós, brasileiros, temos a registrar o nosso respeito pelo seu trabalho patriótico, assim como nós, seus amigos, exultamos pelo privilégio e pela glória de partilharmos de sua amizade.
Esta Casa do Comércio, a CNC e todo o complexo sindical empresarial do Brasil, especialmente o Sistema S, têm uma dívida de gratidão para com Bernardo Cabral, pelo que ele registrou nos artigos 8º e 240 da Constituição da República, disciplinando a livre associação profissional e sindical e consagrando a natureza privada das entidades de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical.
É evidente que o sideral currículo de Bernardo Cabral não cabe nesta modesta saudação, que me tocou fazer, nesta oportunidade. Meu caro Bernardo, como costumamos dizer, não é por vaidade profissional, que não tenho em demasia, mas devo registrar que me sinto orgulhoso e possuído da maior alegria e satisfação por ter sido escolhido pelos companheiros do Conselho para lhe fazer esta saudação e lhe dar as boas-vindas à nossa Academia Internacional de Direito e Economia.
Seja bem-vindo, Bernardo Cabral.

Discurso proferido por Bernardo Cabral, Consultor da Confederação Nacional do Comércio

“ O conceito humanístico tem prevalecido de que nada se busca no território brumoso do futuro senão através do gênio e da compreensão. E, para tanto, é necessário voltar ao passado, a fim de pôr em destaque que, desde a Academia de Platão, o imperativo de semear ideias ganhou a consistência de um modo de vida que, após o Renascimento, acabou por detonar o processo de libertação da inteligência.
A partir daí, os Centros Acadêmicos consagram a inteligência como dote supremo da vida, sem que as adjacências da mediocridade insidiosa e iníqua conturbem o perfil límpido da estética e da cultura.
Por essa razão, participando, agora, deste templo de cultura, as emoções me embargam por saber que vim situar-me entre ilustres expoentes do Direito e da Economia, entendendo que os meus destacados pares, em decisão espontânea e unânime, quiseram prestar-me um ato de homenagem, expressivo e consagrador, embora timbrado por uma indisfarçada generosidade.
Venho de longe… do meu imenso Amazonas… Manaus foi meu berço, onde vivi  minha infância e mocidade, a quem o sonho e a esperança floriram, de modo a poder eu arrostar os percalços que se ocultaram e ficaram à espreita nas grutas do tempo.
E foi, sem dúvida, a expressão telúrica da Amazônia — fascinante, imensa, montando na sinfonia do seu mapa geográfico o mais belo bailado orográfico do mundo — que teria de induzir-me aos ideais mais altos. E, assim, o menino, dentro de uma ilha humana, ainda minguada, despertou seu espírito para que nele crescessem sentimentos mais fortes a fim de poder, um dia, defender a incolumidade da gigantesca planície Rio-Mar.
À medida que se ampliavam esses sentimentos, deixei de lado — com natural desprezo — os eventuais desencantos e me fixei nos sorrisos que adornaram a minha casa de criança, como se eu tivesse de ser um andarilho da história.
Aprendi muito com Cervantes. Ele, imperecível monumento da Hispanidade, um dia voltara a Madri com as feridas de Lepanto e as angústias de um mundo tragediado. E ele mesmo, no seu “Dom Quixote de La Mancha”, tentara diluir a dúvida pertinaz de Sancho Pança, o leal Amigo e fiel Escudeiro, que encontrara um elmo e acreditava ser do rei mouro, Mambrino. E a versão clarividente de Dom Quixote é que o curioso objeto não era o elmo do monarca, mas a bacia de algum Fígaro. A transcendente intervenção sardônica de Dom Quixote visava apenas reduzir a uma dimensão exata a figura de um potentado efêmero, tão fugaz como as orgias de Paço.
Evidentemente, algo de sublime sobrepaira à veleidade dos espíritos vulgares, incapazes de ouvir o sussurro mágico da eternidade. Quantos milênios foram esgotados e quantas tempestades desfizeram a frivolidade ou arruinaram as estruturas de um elitismo artificial e insolente? E, então, por que resiste o poder da inteligência, brilhando em seu universo?
Victor Hugo afirmava que “Paris é a praça do pensamento humano”, destacando sua coerência por saber o autor de “Os Miseráveis” que a sede mundial da cultura indicava traços de compreensão diante de tantas instituições de governo que se aviltaram nas ceias bestiais do obscurantismo, impondo a morte civil dos talentos ou encarcerando artistas ou sábios.
Por isso mesmo, não reluto nem me omito do dever de exaltar esta respeitável e respeitada Academia Internacional de Direito e Economia pelo senso de equilíbrio e pela superioridade ética de abrir seu pórtico glorioso a um homem público, que, em determinado ciclo da vida republicana, fora parlamentar e depois teve cassado seu mandato, suspensos os direitos políticos por um decênio e interrompida sua carreira no Magistério, em face de um édito arbitrário e incompatível com a meridiana dignidade dos direitos humanos.
Cultor das letras da infância, postulante do Jornalismo na juventude, integrante da oficina cultural do colégio, jamais me afastei das lides do espírito. Mais tarde, advogado e representante do povo, inspirei-me na essência filosófica da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em sintonia plena com a alma da civilização contemporânea, que recusa e condena a subordinação da cidadania aos delírios de todas as tipicidades do absolutismo.
Membro efetivo — a partir deste instante — desta Academia, faço-me dignitário entre personalidades tão ilustres, que souberam derramar clarões de sabedoria sobre este recinto, quando a sua própria tribuna se converte em púlpito de místicos predestinados.
Curvo-me, por essa razão, diante da memória de Benedicto Ferri de Barros, titular da Cadeira nº 12, sem saber por onde devo começar a traçar-lhe o perfil, o que me leva a impetrar perante esta Augusta Assembleia uma ordem de bondade e tolerância para que possa, aqui e acolá, pinçar traços da vida daquele que foi professor, jornalista, poeta, ensaísta, polímata e empresário.
Nascido em Formoso, São José do Barreiro, SP (pai inspetor escolar e mãe professora), em 9 de setembro de 1920, faleceu na cidade de São Paulo aos 88 anos, no dia 12 de setembro de 2009, deixando do casamento — que festejou com Bodas de Ouro — três filhos, oito netos e três bisnetos. Por oportuno, registro a presença, nesta solenidade, do seu filho, Prof. Dr. Luiz Ferri de Barros, Mestre e Doutor em Filosofia da Educação pela Universidade de São Paulo e Administrador de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas.
Benedicto Ferri de Barros era Bacharel e Licenciado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, e também em Ciências Sociais, com estágios de especialização em Finanças e Mercado de Capitais em várias instituições norte-americanas. Aliás, quando a USP estava se estruturando, seus professores eram alemães, italianos, franceses e cada um proferia as suas aulas no respectivo idioma pátrio. O que resultou na sua formação em alemão, francês e italiano.

Atividade Intelectual

Lecionou Política e Economia na USP e Mercado de Capitais na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas. Manteve coluna semanal em “O Estado de São Paulo” e no “Jornal da Tarde” e compareceu em seus suplementos literários por mais de 50 anos, publicando mais de 1.500 trabalhos relacionados à Literatura, Antropologia, Sociologia, Economia e Política.
Integrou o Simpósio sobre “O Desenvolvimento Econômico da Europa no Pós-Guerra”, promovido em Bad Godesberg pela Friedrich Nauman Stiftung.
Especializou-se em História e Cultura Japonesa, e em virtude de publicações nessa área foi correspondente cultural para o Brasil da “The Japan Foundation”, em 1987, expositor no Simpósio sobre “Tradução e Edição de Obras Japonesas no Brasil”, São Paulo (1989), e integrante de outros simpósios sobre Cultura Japonesa. Recebeu o Prêmio de Jornalismo de 1988, concedido pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa (1989) e em 1988 visitou o Japão a convite do governo daquele país. Nessa viagem recebeu a chave de Osaka, concedida pelo governador da Província de Hyogo, e foi agraciado com o título de “City Friendship Fellow”, pela Prefeitura da cidade de Utsunomiya (Tochigi).
Fundador da Revista “Essência” (poesia), com Geraldo Vidigal, Betty Vidigal, Nogueira Moutinho e Eros Roberto Grau (1983); membro e Diretor Secretário do Clube de Poesia de São Paulo (1992); autor, entre outras, das seguintes obras: “O Mercado de Capitais dos Estados Unidos – Organizações e seu Funcionamento” (trad.); “Mercado de Capitais e ABC de Investimentos”; “Mudanças Econômicas Mundiais e a Crise Brasileira”; “Japão – A harmonia dos contrários”; “Viagem ao Japão: Rapsódia de Ouro Preto” (poesia);  “Porque sou um liberal” (in “A façanha da liberdade”).
Possui 15 obras inéditas, de histórias infantis, poesia, contos, novelas, ensaios de Antropologia, Política e Economia: “O fio e o furo” (contos); “Zig-Zag – o bichinho procurador”; “Dom Cri-cri e outras histórias” (infanto-juvenil); “Companheiro de lazer”; “A mentira” (teatro); “O viandante e sua viagem” (poesia – 5 vols.); “Poemas ingleses e americanos” (trad. 3 vols.); “Poesia, poetas e poemas” (ensaios, artigos e crítica); “O Liberalismo: Estudos humanistas: Que Brasil é este? – Lord Acton”.

Atividade Empresarial

48 anos de atuação na área financeira, imobiliária e na montagem dos mais variados projetos empresariais. Na área financeira, organizou, na década de 50, um dos primeiros fundos de investimentos do País. Administrou o “underwriting” da Refinaria de Petróleo União S.A. Colaborou ativamente na reestruturação da Bolsa de Valores de São Paulo. Promoveu a abertura de capital de várias empresas. Deu cursos sobre Mercado de Capitais em todo o País, preparando grande número dos atuais diretores e executivos do setor.
Na área imobiliária, incorporou empreendimentos que produziram mais de 5.000 unidades imobiliárias. Em associação, participou da realização do Edifício e Galeria Califórnia, Edifício Nações Unidas, Copan. Foi um dos idealizadores do plano condomínio a preço de custo na década de 50 e o criador dos grupos fechados de empreendimentos na década de 70. Incorporou L’Habitare, Transurb, entre dezenas de outros empreendimentos. Foi pioneiro na industrialização da laranja e na produção do leite homegeneizado e esterilizado.
Foi membro do Centro de Estudos Políticos e Sociais da Associação Comercial de São Paulo; fundador e primeiro Presidente da Anaai – Associação Nacional dos Agentes Autônomos de Investimentos; membro da Abamec – Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais; membro do Conselho Consultivo do Instituto Liberal de São Paulo.
Quando me encontrava a preparar este discurso, queria, a todo custo, resumir a grandeza de Benedicto Ferri de Barros com algo que ele próprio dissera a seu respeito, a fim de que este retrato pobre, esmaecido mais pela falta de aptidão do pintor do que pelo colorido das tintas que usa, não ficasse muito aquém da consagradora atuação do patrono da Cadeira nº 12.
Deixarei no silêncio das suas próprias palavras o clamor de tudo o que não poderia eu exprimir a seu respeito. Reproduzo-as:
Consegui escapar na mocidade ao niilismo do começo do século porque vivi minha infância no seio de uma família organizada e feliz, numa pequena comunidade, em contato constante com a natureza; escapei da anarquia na maturidade, por haver adquirido na adolescência e mocidade a experiência da Literatura e da História; a anomia não me pegou na velhice porque a essa altura já havia alcançado uma filosofia pessoal, produto de uma vida variada e intensa e de uma reflexão crítica continuada, que me permitiram recuperar os valores humanos fundamentais que induzem o homem e sua civilização a superar suas contingências, suas dúvidas, seus erros e seus limites. Sou um crente da verdade, da beleza e da bondade.
Senhores Acadêmicos, assinalava eu, ao começo desta oração, a decisão espontânea e unânime que proferistes, atendendo à sugestão desses três excepcionais amigos: Ernane Galvêas, Ives Gandra da Silva Martins e Ney Prado, confirmada, a seguir, pela comunicação oficial desta Augusta Presidência.
Agora, em caráter solene e oficial, quero agradecer as palavras do Acadêmico Ernane Galvêas, com quem convivo, diária e ininterruptamente, ao longo destes últimos quase oito anos, e, em nenhum momento, jamais vislumbrei nos seus lábios o sorriso rasteiro da subserviência.
Autor de uma dezena de livros, de inúmeros artigos e estudos de Economia e Política Econômica, em jornais, revistas nacionais e estrangeiras, além de advogado, Ernane Galvêas tem uma formação acadêmica notável, que se iniciou no Brasil, continuou no México, se ampliou nos Estados Unidos da América do Norte, tendo se consagrado profissionalmente na Sumoc, hoje extinta; como Diretor do Banco do Brasil – Cacex –, onde ingressou muito jovem, em 1942; na Presidência do Banco Central; na Presidência da Aracruz Celulose; como Ministro de Estado da Fazenda; e, atualmente, como Consultor Econômico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.
Sua biografia comprova que passou a vida dedicado aos estudos e ajudando o Brasil a resguardar sua soberania, sem concessões e sem ser prosélito de qualquer ideologia extremada.
Por essa razão, meu caro Acadêmico Ernane Galvêas — de quem me honro de ser Amigo —, estejais certo de que os homens de bem — como é o vosso caso — quando julgam o que foi a sua vida ao longo da existência, pagam o tributo alto da sua responsabilidade, mas guardam consigo, como me ensinava meu saudoso Pai, as cicatrizes orgulhosas do dever cumprido.
Portanto, ao deixar Galvêas há pouco esta tribuna — eis que o Presidente Ney Prado, fazendo valer a sua autoridade, entregou a ele, para gáudio meu, o cometimento da saudação —, com o fulgor do seu verbo e a qualidade de exímio expositor, conseguiu me absolver, por antecipação,  do pecado deste discurso.
Resta-me, portanto, com as escusas mais altiloquentes, concluir. Mas não quero fazê-lo sem registrar meus sensibilizados agradecimentos ao Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Doutor Antonio Oliveira Santos, meu querido Amigo — Professor Catedrático durante tantos da Faculdade de Engenharia do Estado do Espírito Santo —, por ter proporcionado nesta Sede tal confraternização e por ter orientado sua Chefe de Gabinete, Doutora Lenoura Schmidt, que a ela desse todo o brilho que a Academia merece.
Ainda, por oportuno, peço a todos que me permitam partilhar com Zuleide e Júlio, esposa e filho, e com os netos Márcia, Ana Carolina, Júlio e Gabriela, e a bisneta Maria Júlia, a incomensurável alegria de integrar uma Academia que tem sabido zelar pelas prerrogativas qualificadas e fascinantes do Direito e da Economia, como poderoso instrumento antropocultural.
Por fim, colocar no mais alto dos relevos que muito me honra pertencer à Academia cujo Presidente é Ney Prado e que tem como Presidente de Honra Ives Gandra da Silva Martins, ambos professores de renome internacional. Orgulha-me ser um de seus membros, dentre tantos notáveis, pois estou certo de que tudo o que se fizer neste Cenáculo terá o eco consagrador na voz dos nossos pósteros.
Eu vos saúdo.