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Apresentação do Livro Bernardo Cabral

31 de julho de 2007

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O cenário deste livro é sempre amazônico. Quando o protagonista sai de seu chão de águas, leva a circunstância com ele (Eu sou eu e minha circunstância…). Se chega ao Rio, o cenário onde se mexe é amazônico. Se chega a Brasília, a mesma coisa. Se viaja ao exterior, leva-o como bagagem e inspiração, até para realizar a travessia de outro Cabral, a serviço das descobertas do conhecimento.

É um homem situado. Tem origens não ocluídas.

Milton Hatoun, com seu sangue libanês, teve a sensibi-lidade de perceber como há raízes e copas na Amazônia: os nativos e os imigrantes. Mistura de barqueiros, pescadores, portuários, indígenas, portugueses, italianos, espanhóis, árabes e judeus, marroquinos, mercadeiros, nordestinos, etc. Há de tudo na Amazônia.

O protagonista do livro sabe disso e entende os livros de Haunton, resultado das vozes que construíam imagens misturadas e enriquecidas do Oriente e da Amazônia.

De outra parte, é fácil sentir em sua conversa as digitais dos mitos, signos e arquétipos dos povos da Amazônia. Sua conversa tem um tanto de onírica.

Imagino a que ênfase chegaria se tivesse integrado aquela Caravana Farkas, da qual resultou uma coleção de fotos belíssimas, interpretativas, explicativas, que o grande artista Thomaz Farkas produziu deslizando pelo rio Negro, na companhia de Paulo Vanzolini e Geraldo Sarno. Já faz uns trinta anos.

É imperdível o livro de arte que a sensibilidade rara de Charles Cosac fez imprimir do jeito que ele sabe, vale dizer, de modo impecável, eternizando imagens, multiplicando belezas e verdades.

Já disse a ele que, na Academia Brasileira de Letras, falta um amazonense. Talvez, um dia, dela faça parte o Hatoun ou o Gaitano ou outro de lá. Enquanto isso, recordamos gente do Norte, não amazonense, como Inglês de Souza e José Veríssimo, fundadores das cadeiras 28 e 18, além do terceiro ocupante na cadeira 10, Osvaldo Orico.

Grandes figuras, é certo. Mas muito pouco para a Amazônia, Sem que sejam esquecidos talentos como Leandro Tocantins ou Arthur Cezar Ferreira Reis, para falar só dos que já nos faltam.

Bernardo Cabral compensa-nos cm a freqüência com que prestigia a ABL, comparecendo aos atos festivos e aos momentos de trabalho silencioso.

Gaitan Antonaccio, obstinado obreiro da cultura, siderado pelos valores da Amazônia, dá-nos aqui os perfis predominantes do jurista, do político e do intelectual Bernardo Cabral.

Conta as vitórias como constância da trajetória bernar-diana, inclusive para registrar que se lhe aconteceu a rotina de uma derrota nas aventuras eleitorais, é como derrota eleitoral, e nunca como derrota política que o episódio há de ser interpretado.

Não há derrota política na vida de Bernardo Cabral. Pelo contrário. No Congresso ou fora dele, no Executivo ou na corporação profissional, na cátedra ou no foro, esse homem que se inspira em latinos, lusitanos e basílicos, só se fez vencedor.

Prova disso? O formato da Zona Franca, com tudo de difícil e necessário. A Constituinte, com suas dores e delícias. A política para as fronteiras, com seus cuidados necessários à multilateralidade. A consciência da melhoria em movimento, lutando pela reforma do Judiciário. Até vencer Afonso Arinos em um concurso para orador.

Querer mais o quê?

Querer, como definiu, que, em relação à Amazônia, devemos integrar para não entregar.

Quero por algo de bem pessoal nestas palavras, para dizer que Bernardo Cabral, que se fez contabilista no começo da vida, a vida toda só contabilizou lealdade aos amigos.

Por isso, estou aqui, louvando o gesto certeiro e a mão apurada de Gaitano Antonaccio, que, neste mundo da indústria da velocidade, parou para cuidar de quem se ocupou, ao lado de construir uma família harmoniosa, em ser cidadão ativo, zelador dos respiradouros da liberdade.

Keats tem razão: A thing of beauty is a joy forever.