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Assim na Justiça como na literatura

17 de março de 2015

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Andrea PachaO debate sobre Justiça a partir da perspectiva da cultura – exercício tão necessário – está ganhando espaço nobre com a criação do Fórum de Direito, Literatura e Cinema, pela Emerj. A iniciativa, que contribui para aproximar a Justiça e a população, será reforçada com a adaptação do livro “A vida não é justa”, de autoria da juíza Andréa Maciel Pachá, para o formato de série, pela Rede Globo.

Dominar e saber se expressar muito bem no idioma pátrio deve ser um dos atributos de todos aqueles que sonham conquistar status respeitável nas carreiras do Direito. Entre esse grupo há aqueles que se destacam, vão além e dominam com grande competência a arte da escrita. E, nesse passo, há quem se destaque ainda mais ao unir as duas profissões: a de magistrado e a de escritor. Estamos falando da Ouvidora do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), a juíza Andréa Maciel Pachá. Autora de dois livros de crônicas, ela se prepara para avançar ainda mais em sua trajetória profissional, na qual literatura e Direito se entrelaçam e se completam, entre doses de ficção e realidade.

No dia a dia do Tribunal, sua carreira primeira, Andréa passou a integrar o Fórum de Direito, Literatura e Cinema, criado pela Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), ao lado do juiz André Nicolitt, do advogado Marcelo Cerqueira, do cineasta Cacá Diegues e do desembargador Sérgio Verani, que foi diretor da Emerj nos dois últimos anos. “Nesse período, verificamos que havia e há grande interesse nos fóruns que reúnem outras áreas de conhecimento. Em algumas conversas, imaginamos que seria extremamente interessante buscar diálogo permanente entre o Direito, a Literatura e o Cinema. São ricos os debates que aprofundam o conhecimento da Justiça, do Direito e da Ética e que podem ser pensados a partir da ficção”, explica a magistrada.

Andréa lembra que grandes referências humanas, muitas vezes, nascem da literatura e do cinema. “Veio do desembargador Verani a ideia de criar esse espaço e o principal objetivo é reunir saberes que fazem parte da nossa formação humana. A fragmentação do conhecimento não tem sido eficiente para nos ajudar a enfrentar as questões da contemporaneidade e os desafios que se multiplicam nos conflitos em forma de processos”, acrescenta.

Com programação a ser anunciada em breve, o Fórum realizará cinco encontros anuais, que reunirão não apenas magistrados, mas toda e qualquer pessoa interessada que fizer sua inscrição pelo site da Emerj. “A partir da exibição de filmes e da indicação de livros, autores, cineastas, magistrados e advogados debaterão os conflitos e as pautas que se inserem nas obras, ampliando, ainda o conhecimento entre essas áreas tão distintas e tão afins”, anuncia a juíza do TJRJ.

Ainda de acordo com ela, a pretensão, além de aprimorar a formação humana dos magistrados, é criar um ambiente de troca de experiências e saberes com outras áreas de conhecimento. “A correria do dia a dia, o excesso de trabalho e de compromissos têm nos deixado sem tempo para a reflexão. Conhecer mais as outras áreas e nos fazermos permeáveis a olhares externos ao Judiciário vai ao encontro do que se espera da Justiça. A publicação da criação do Fórum foi feita na última semana de janeiro e, a partir de março, começamos, com muita alegria e empolgação. Esperamos a participação de todos”, convida a magistrada.

Justiça na telinha
Também neste ano, Andréa Pachá avança em sua atividade paralela, a literatura. Seu primeiro livro “A vida não é justa”, lançado em novembro de 2012, teve os direitos adquiridos pela Rede Globo para a produção de uma série televisiva. Embora as informações sobre adaptação, roteiro e data do início das gravações ainda não tenham sido divulgadas pela emissora, a autora informa que a adaptação será livre e não houve qualquer exigência quanto à fidelidade da obra. “Achei interessante essa experiência porque o meu trabalho foi escrever o livro. Penso que é importante respeitar a liberdade de quem faz as adaptações. É também um trabalho criativo e autoral”, afirma.

Publicado pela editora Agir, a obra é inspirada em casos reais vivenciados pela magistrada, que atua há quase vinte anos como juíza em Varas de Família. Pelas páginas do livro desfilam temas como o divórcio, reconciliações, ações de paternidade e guarda de filhos. Um rico acervo de experiências com grande margem para trabalhar as emoções que sempre afloram quando se trata de relacionamentos humanos, sobretudo no âmbito das uniões (e desuniões) afetivas.

A magistrada prefere não opinar sobre os atores que gostaria de ver interpretando suas crônicas, assim como não indica quais delas prefere ver nas telas primeiro. “Não estou acompanhando a formação do elenco; penso que esse é um trabalho de quem faz a adaptação. Não tenho preferência por uma ou outra história. Senti necessidade de contar todas elas e foi uma experiência extremamente feliz conseguir transformar em ficção a experiência que tive durante quase duas décadas de magistratura”.

Além de “A vida não é justa”, Andréa publicou no final de 2014 a obra “Segredo de Justiça”, também pela Editora Agir. Ela conta que foi motivada a escrevê-los pela necessidade de compartilhar a rica experiência humana que vivencia. “De alguma forma, a publicação das histórias e a chegada do livro a muitos leitores que não são da área jurídica acabaram por transformar a imagem equivocada que se tem de um juiz e do exercício da magistratura. Diariamente, recebo mensagens e e-mails revelando a surpresa positiva com o cotidiano forense. A proximidade com as demandas da sociedade nos legitima como Poder e nos traz a certeza de que trabalhamos para solucionar conflitos e tornar possível a vida em grupo”, conclui.