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Cidadania empresarial

13 de março de 2017

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As atividades relacionadas à cidadania procuram estabelecer uma conexão justa do indivíduo com a sociedade em que vive e produzir contrapartidas que visam o convívio harmônico e o bem-estar comum. Embora os direitos sejam sempre os mais lembrados e procurados, é importante destacar a necessidade do comprometimento com os deveres que norteiam a integração entre os indivíduos, as instituições e o Estado. Neste artigo, procuro destacar sucintamente a visão de um empreendedor, aqui, no pleno exercício da cidadania e a correlação que a Justiça exerce no cotidiano do mundo empresarial.

Desde cedo na vida da gente, o compromisso social deve orientar o caminho que venha a ser trilhado. Ainda que o curso de Arquitetura, no meu caso, fosse o vetor inicial em perspectiva, foi na graduação de Economia, na primeira metade da década de 60, na Faculdade Federal no Rio de Janeiro, que as primeiras ideias empreendedoras foram se desenvolvendo. Era preciso enxergar além daquilo que era comum à época para dar uma amplitude naquilo que se sonhava.

Iniciei as atividades empresariais aos 22 anos em 1963, meu grande estímulo impulsionador naquele momento, e tive a sensação de ter tomado o bonde errado. Abdicara de um impulso natural, de uma vocação muito mais para a arte e para a criação, que seria a Arquitetura, para estudar Ciências Econômicas, achando que, como economista, teria um futuro mais promissor. Continuei com a Economia. Porém, no segundo ano da faculdade fundei minha primeira empresa, voltada para a atividade imobiliária.

Claro que todo aquele processo não poderia estar desconecto da dinâmica do funcionamento da sociedade e nem para onde se presumia que o crescimento seguiria. Os empreendimentos da companhia que criei ajudam a cultivar os sonhos das pessoas e sempre foi importante, na minha opinião, manter essa relação de proximidade com os meus próprios sonhos. A dimensão com que atingimos nossa participação no mercado não pode se distanciar das obrigações e contrapartidas que temos com a mesma sociedade que tão bem nos acolhe e frequenta nossos Shoppings Centers.

É uma relação justa que pendula de um lado para o outro ao longo de seu curso, mas que se ajusta e vai se compensando com as ações recíprocas. Para ilustrar o conceito, recentemente, tive a ideia de doar para a cidade de Ribeirão Preto, no interior do Estado de São Paulo, onde temos um empreendimento há mais de 35 anos, uma reforma de um parque público para a população. O local, com 68 mil metros quadrados, ampla área de lazer, pista de corrida e caminhada com 1,5 mil metros de extensão, quatro praças de convivência cobertas, espaço para food trucks, banheiros com acessibilidade, base para a Guarda Civil Municipal e iluminação com lâmpadas de Led, que consomem menos energia. Fiz questão de incluir casais de cisnes, marrecos e patos, pois o sonho de um conceito perfeito de praça não estaria completo, tampouco, suas características deveriam desrespeitar o convívio cotidiano do cidadão que ali frequentasse. Isso é um gesto de comprometimento que deve ser multiplicado pelos cidadãos, cada qual dentro de suas possibilidades e especialidades.

A relação primária se dá pela obviedade do número de empregos gerados pelas nossas atividades, mais de 100 mil, diretos e indiretos, e dos impostos recolhidos. Porém, se alguém se norteia apenas por esse tipo de relação, poderá estar flertando com o insucesso na vida empresarial. A participação e a penetração dos nossos negócios têm que extrapolar em muito esse conceito. Esse sempre foi o nosso norte. Os diversos programas que ajudamos relacionados a comunidades carentes, inserção de jovens aprendizes, divulgação da música, arte, esporte, despontam das nossas crenças como empreendedores.

É preciso proporcionarmos o bem-estar às pessoas, primordialmente um papel perseguido pelo Estado Gestor, o mesmo Estado que deve sempre direcionar seus melhores esforços para as áreas de saúde, educação, segurança e justiça, sem se distrair com atividades que inflam a sua estrutura e o distancia de seu principal papel. O Estado concentrado em suas atividades primárias permite que as populações tenham melhores serviços básicos. Os serviços acessórios executados pela sociedade civil, que disputara esses espaços provendo condições com aplicações modernas, tecnológicas, menos onerosas e muitas vezes mais eficientes, representa uma interação de forças convergentes visando bem-estar comum. O trabalho árduo e contínuo em todas as camadas da sociedade é imperativo para que os resultados ocorram.

Nessa longa jornada como empresário, o êxito não teria sido alcançado se não tivesse estruturado os negócios em um Estado de Direito Democrático e um sistema jurídico fortalecido. É certo que o processo é evolutivo e necessita de ajustes, mas na ampla concepção, o amparo e a segurança jurídica são vertentes fundamentais nessa consolidação. Os conflitos são constantes e variam de uma simples contenda para discutir relações entre consumidores, passando por questões trabalhistas, tributárias, etc…

A Constituição de 1988, conhecida como a Constituição “cidadã”, foi um grande marco nessa jornada e trouxe garantias que ajudaram muito na preservação dos direitos. A relação trabalhista ganhou um grande impulso ao trazer direitos antes não reconhecidos. Todos esses conceitos geram segurança para os investidores. Países que não defendem esses princípios afastam investimentos. Miséria, é o estado de espírito. “Ele está miserável e não, ele é miserável”. Assim é o Estado no papel de organizador da sociedade. Precisamos avançar a situação em que o País se encontra atualmente.

Esse mesmo Estado a que nos referimos precisa tirar o pesado fardo da burocracia e trazer mais leveza à sua estrutura. Precisa garantir condições básicas para que os cidadãos se promovam na vida Isso é garantia de desenvolvimento para qualquer país. A sociedade precisa construir para assegurar o crescimento que a própria dinâmica do convívio comum exige de cada um de nós.