Corrupção: a pior de todas as doenças

5 de julho de 2005

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Continuaremos dando aos jovens a impressão de que a esperteza vale mais do que o trabalho

Em relação ao artigo que publiquei no último domingo sobre violência escolar, recebi várias manifestações de leitores concordando que a indisciplina na escola reflete, em grande parte, o que os alunos vivem no seio da família. Alguns leitores, porém, foram mais longe ao argumentar que a falta de respeito dos jovens é um espelho da falta de respeito com que os governantes tratam a nação.

De fato, os exemplos que vêm de cima provocam muitas dúvidas na juventude. Esse é o maior estrago dos desmandos e da corrupção.

Dizem que as pessoas têm ou não têm caráter. Essa é uma grande verdade. Mas a sociedade não pode contar com isso para manter a ordem e o respeito às suas instituições. As próprias instituições possuem mecanismos de controle do comportamento das pessoas, fazendo acender a luz amarela no primeiro deslize e aplicando sanções públicas na reincidência.

O Brasil tem falhado muito nesse campo. E não é por falta de advogados, pois nosso país possui mais de 800 faculdades de Direito enquanto os Estados Unidos possuem 180. Temos mais de 600 mil advogados, enquanto o Japão tem menos de 20 mil. Raros são os países que têm tantas CPIs como o Brasil. Raras também são as nações que contam com uma imprensa tão bem capacitada na arte da investigação.

Apesar de tudo isso, os surtos de corrupção se sucedem, minando o que temos de mais precioso que é a confiança da juventude no trabalho sério como forma de progresso individual e social.

Os nossos controles são rígidos só na fachada. As leis são severas, mas a punição é incipiente. Os jovens observam que os mais espertos sempre encontram maneiras de contornar as leis. Isso é péssimo. Vejam o caso do Banestado,  para citar um dos escândalos mais recentes. Havia sérios indícios de remessa ilegal de dólares para o exterior em um montante simplesmente estratosférico: US$ 30 bilhões!

Pois bem. Depois de muito falatório, dezenas de reuniões da CPI, enormes gastos com viagens, consultorias e peritagem, e permanente aparição na televisão para os seus integrantes mostrarem serviços aos eleitores, o processo foi arquivado. Não houve nem sim, nem não. Não se sabe o que aconteceu. Uma vergonha!

Exemplos como esses enterram as esperanças do povo e destroem a confiança dos jovens. Temos muito que caminhar nessa área. Nossas instituições precisam chegar na penalidade com presteza e as sanções devem ser aplicadas com grande visibilidade – esta sim precisa de muita televisão – para que o medo de ser punido possa prevenir desvios futuros.

Enfim, precisamos de mais ação e de menos show da parte dos órgãos repressores. Do contrário, seremos uma republiqueta de segunda categoria que nada tem a ver com as potencialidades do Brasil e com a garra do nosso povo. Pior do que isso é que continuaremos dando aos jovens a impressão de que a indisciplina e a esperteza valem mais do que o respeito e o trabalho árduo. Essa é uma péssima herança.