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Esperanças perdidas

31 de maio de 2016

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OrpheuNo dia 1o de maio de 1951, no estádio do Vasco da Gama, o presidente Getúlio Vargas, no discurso de congraçamento com os trabalhadores, reiterou o pedido de união incitando-os à filiação sindical e à participação na vida política. Suas palavras ecoaram como um chamamento cívico e democrático, conclamando os trabalhadores a se organizarem e ingressarem na política:

“– Escolhi este dia e este momento do nosso primeiro encontro para vos fazer um apelo. Preciso de vós, trabalhadores do Brasil, meus amigos, meus companheiros de uma longa jornada; preciso de vós , tanto quanto precisais de mim. Preciso da vossa união; preciso que vos organizeis solidamente em sindicatos; preciso que formeis um bloco forte e coeso ao lado do governo, para que este possa dispor de toda a força de que necessita para resolver os vossos próprios problemas. O sindicato é a vossa arma de luta, a vossa fortaleza defensiva, o vosso instrumento de ação política. É através dessas organizações e cooperativas que as classes mais numerosas da Nação podem influir nos Governos, orientar a administração pública na defesa dos interesses populares”.

 Em várias outras oportunidades, o presidente Vargas já havia concitado os trabalhadores a se filiarem a partidos políticos, como referido na mensagem de 1o de maio de 1946, ao microfone da Rádio Record, atendendo os repórteres José Tico-tico e Carlos Spera, que foram entrevistá-lo em São Borja, afirmando:

“– Viestes trabalhadores, neste dia em que não sou mais governo buscar uma mensagem; que vos posso dizer: criaram um regime chamado de democracia e o povo não pode se reunir livremente na própria Capital da república. Vós, trabalhadores no regime democrático, sois a maioria e a maioria é quem governa. Organizai-vos, portanto, em um partido político para poder governar. Há um direito que ninguém vos pode privar – o direito do voto. E pelo voto podeis não só defender os vossos interesses como influir nos destinos da nação. Nenhum governo poderá realizar uma verdadeira e sã política social se não tiver o apoio do proletariado”.

 Também em mensagem de 1o de maio de 1947, através da Rádio Mayrink Veiga novamente concitou: “Aos trabalhadores cabe garantir o seu próprio futuro, impondo-se como grande maioria nos quadros políticos do País e propugnando pelo progresso e pela união da família brasileira”.

A pregação do proselitismo político do presidente Vargas, incentivando os trabalhadores a participarem efetivamente nos sindicatos e partidos políticos se consolidou em 1990 com a fundação do PT – Partido dos trabalhadores, que possibilitou a um operário – Luiz Inácio LULA da Silva – se sagrar Presidente da República.

A pregação social e política desenvolvida pelo novo partido, com novas ideias, congregou não apenas a classe trabalhadora, mas também, e principalmente, elites intelectuais, artistas, escritores, juristas e estudantes que engrossaram as fileiras petistas, com a adoção de programas voltados para a moralidade pública, a ética e a dignidade da função pública, a melhoria da educação, da saúde e das condições de vida da população.

O primeiro governo trabalhista manteve um ritmo de trabalho auspicioso, conseguindo, através da propaganda e de efetivas programações administrativas, congregar personalidades de destaque que deram gabarito às novas ideias implantadas, todas enaltecendo o novo governo.

Entretanto, a radicalização partidária, excluindo novos e importantes participantes, aliada aos desmandos e interesses pessoais escusos que começaram a surgir através de denúncias concretas que abalaram a conceituação do Partido; os escândalos em grandes escalas envolvendo altos dirigentes, inclusive detentores de funções importantes do governo, como ministros, senadores e deputados, alguns dos quais, depois de processados, presos e cassados, abalaram a estrutura partidária e desmoralizaram o Partido e inclusive o governo.

As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público concluíram pela responsabilidade criminal de políticos ligados ao governo, inclusive com a participação criminosa de importantes empreiteiros de obras públicas em negociatas havidas e comprovadas nos inquéritos do Mensalão e da Petrobras, envolvendo cifras de bilhões de dólares surrupiados da Nação.

Os últimos acontecimentos envolvendo o ex-presidente Lula, já comprovadamente envolvido com empreiteiros nos escândalos da Petrobras, tendo sido coercitivamente levado a depor perante o juiz Sérgio Moro, concluiu em deixar o PT em frangalhos e o ex-presidente completamente desmoralizado. A divulgação pública do telefonema de Lula com a presidente Dilma tirou-lhe a máscara e mostrou um boquirroto prestes a enfrentar a cadeia, além de deixar a primeira mandatária da Nação em situação desconfortável pelo palavreado absurdo e anti-republicano.

Infelizmente, a presidente Dilma Rousseff, que é merecedora de respeito e consideração pela postura de seriedade e honestidade que apregoa, está pagando pelas companhias e convivências políticas que lhes foram impostas e teve que conviver desde que ingressou no PT.

Os fins melancólicos que aguardam os resultados do impeachment mostram também, por consequência, a tristeza dos resultados, que contrariam os prognósticos do presidente Getúlio Vargas sobre o sonhado futuro de um partido de trabalhadores, que ainda não estava preparado para se livrar dos infortúnios que surgiram nos caminhos da política.

Foram esperanças perdidas !