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Estado de Direito ou Estado Anárquico?

5 de fevereiro de 2001

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“ANARQUIA é uma palavra grega que significa literalmente, SEM GOVERNO, isto é, “O ESTADO DE UM POVO SEM AUTORIDADE DEFINIDA”.

Enrico MALATESTA

(in ANARQUIA, 1907)

Já se passaram dezenas e dezenas de anos, desde quando, pensadores e filósofos como PROUDHON, BAKUNIN, MALATESTA, PROPOTKIN, WILDE, TOLSTOI, ORWEL e outros, pregavam a instituição de um Estado Anárquico, onde todos teriam plena liberdade para através de conceitos fundamentais e aplicações práticas, cujos resultados e ponto de união são a negação do princípio da AUTORIDADE nas organizações sociais, e o ódio a tudo que origina instituições baseadas neste princípio.

A lembrança das pregações dos anárquicos pensadores e filósofos, vem muito a propósito dos acontecimentos sociais e a perversa realidade que se abate hoje sobre a sociedade brasileira.

A falta de condições de vida de grande parte da população, que sofre as agruras e o desespero do desemprego e sub-emprego de meio e até um quarto de salário mínimo, está refletida na onda de violência e agitação que ocorre em todo o País.

O lamentável resultado dos acontecimentos anti-sociais decorrentes do motim carcerário, expondo a nú a evidente ineficiência e desmoralização do Poder Público, serviu para demonstrar, acintosamente, a implantação de organizações criminosas de hostes como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho do Rio de Janeiro.

A rebelião dos presidiários das cadeias paulistas, impressiona pelos números envolvidos e perfeitos planos de organização logistica, como feita, demonstra um comando envolvendo 27.000 presos amotinados em 29 unidades prisionais, que agiram de forma coordenada, ágil e simultaneamente, caracteriza e demonstra a ousadia cada vez maior do crime organizado, que infelizmente, está na mesma proporção da desmoralização crescente da autoridade.

Urge a rápida tomada de providências pelos Poderes Públicos, Federal e Estaduais, aplicando de imediato a tomada de posições atinentes a garantir a segurança pública da sociedade e a extirpar  — sem quartel —  a crescente e já quase incontrolável violência gerada pela miséria, pela fome e abandono social da maior parte da população, pelos detentores do Poder Público.

Hoje, a meta principal do Governo, deve ser a implantação efetiva do respeito à lei, combatendo sem tréguas o crime organizado e, igualmente, a corrupção, denunciada ostensivamente contra instituições públicas e autoridades que se locupletam nos cargos com a rapinagem dos dinheiros públicos, gerando na sofrida população a revolta e o desrespeito acrimonioso contra as autoridades reponsáveis pelo comando da coisa pública.

A condescendência com os praticantes da corrupção em todos os níveis governamentais, denunciada publicamente, não pode ser olvidada ou escamoteada por interesses políticos ou corporativistas, dando vaza a que o povo busque pela desesperança a revolta pública incontrolável, como já tem explodido em várias ocasiões.

Somente os omissos, mais por conveniência, não estão ouvindo o clamor rouco das multidões aflitas e desesperançadas.

Os governantes de hoje estão fazendo, agora, muito mais que fizeram os anarquistas do passado, para desmoralizar o conceito da Autoridade e fomentar o ódio contra as instituições.

Neste cenário que se descortina, de duas, uma: ou o Poder Público estabelece e garante efetivamente o estado democrático de direito, ou, corremos o risco de assistir a implantação da prédica de MALATESTA e outros anarquistas.