Edição

In memoriam

31 de agosto de 2006

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A violência perpetrada contra o Desembargador Mello Porto, no Rio de Janeiro, fez com que voltássemos a refletir sobre a onda de crimes que assola as grandes cidades brasileiras.

A ANDES nesta oportunidade não pode deixar de lançar uma palavra de protesto sobre tão cruel assassinato.

É preciso  que a população brasileira se una para fazer frente a tais despautérios,  já que as autoridades responsáveis (ou irresponsáveis) nada fazem para coibir esses descalabros.

É hora de protestarmos, para que a morte injustificada do nosso Desembargador sirva, ao lado da tristeza que trouxe a todos nós, como um marco que justifique a adoção de providências imediatas para o combate ao crime.

Todos sabemos que a segurança pública passa por todos os níveis  administrativos. O estado membro, teria de tratar do reaparelhamento da nossa polícia, quer no plano do pessoal quer no material. É hora de destinarmos recursos para esse desideratum.

Ao governo municipal cabe ampliar as guardas aparelhando-as para o combate aos malfeitores. E à União compete  implantar medidas de curto e médio prazo. À Polícia Federal, tão competente quando se trata de explorar escândalos, junto aos Estados, coibir o tráfico de armas e de munições que chegam às mãos dos malfeitores. De outro lado, compete também à União estabelecer políticas públicas destinadas a reduzir as grandes desigualdades sociais de nosso país, vergonha que pesa sobre todos nós: moradia, educação, emprego, são temas sempre atuais sobre o que nada se fez nas últimas décadas. A pobreza crescente, como todos sabem, é terreno fértil para a proliferação de todas essas mazelas. Vamos aproveitar o período eleitoral para cobrar providências nessas áreas. O que não é possível é que as pesquisas indiquem vitórias eleitorais retumbantes de candidatos  que nada fizeram para melhorar essas condições. É aí que entra a participação da sociedade. Vamos votar em candidatos que se comprometam seriamente com essas metas. Basta de palavras vãs e demagógicas. Enquanto os dirigentes não se debruçarem sobre esses temas, vidas humanas continuarão sendo sacrificadas de forma tão cruel.

Quero lembrar aos leitores que o Desembargador Mello Porto não vinha de nenhuma noitada, happy hour ou coisa parecida. O nosso querido Desembargador foi assassinado às 19 horas quando retornava ao recesso do seu lar depois de um cansativo dia de trabalho no Tribunal para o qual tanto contribuiu com sua coragem e determinação de bem servir.

Que sua morte sirva também para sacudir a cabeça dos homens de bem deste país e induza a uma mobilização capaz de transformar a demagogia em medidas efetivas de controle.

O Brasil está cansado de tanta violência. A própria Colômbia, onde se chegou a estabelecer-se um governo paralelo, já começa a mostrar sinais de recuperação.

A população brasileira precisa cobrar das autoridades as providências indispensáveis. Não basta, segundo um candidato à Presidência, dizer que a Segurança Pública será prioridade de seu governo. É preciso cobrar projetos destinados ao enfrentamento da violência. E, mais do que qualquer outra coisa, o combate ao crime, como já se disse, depende de uma mobilização nacional: União, Estados, Municípios e os organismos diretamente ligados à repressão devem estar irmanados. A violência resulta da falência total de todos os segmentos sociais. A educação, a saúde, o emprego, as desigualdades sociais, tudo tem que ser reparado.

A violência é o retrato de uma sociedade. Lidar com os efeitos de tudo isso é o que estamos fazendo, numa atividade semelhante à de enxugar gelo.

Afinal, a pergunta que se deve fazer é a seguinte: queremos ou não uma sociedade melhor para nossos filhos?