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Empresas investem em projetos de responsabilidade social

5 de novembro de 2004

Industrial do Turismo e Promotor Internacional de Centros Turísticos

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O engajamento de empresas em projetos de responsabilidade social ultrapassou o estágio de tendência e firma-se como estratégia corporativa. Isto, porque mais e mais organizações estão descobrindo que a imagem de empresa cidadã, além de agregar valor também rende outros dividendos no médio e longo prazos.

Essa é uma realidade do Brasil dos dias atuais, na perspectiva do caminho já percorrido pelos países ditos do Primeiro Mundo. Mas a percepção da importância estratégica da responsabilidade social corporativa não impediu, por exemplo, a exploração turística desordenada em regiões como Ibiza e Costa Brava, na Espanha. País onde nasci e de onde parti determinado, nos anos 70, em busca de um lugar, onde a atividade turística pudesse ser desenvolvida sem desrespeito ao homem e ao meio ambiente.

Inicialmente, fui atraído pelas belezas do Rio de Janeiro, que não só acolheu minha família e onde vi nascer minha única filha (os outros dois são homens) mas também meus primeiros vôos em tons verde e amarelo no campo da hotelaria. A paixão pelo Brasil me levou ao Ceará, terra onde o sol brilha na maioria dos 365 dias do ano e, obviamente, bem longe dos transtornos das nevascas do inverno europeu ou dos furacões que atormentam o Caribe. Some-se a tudo isto o fato de situar-se a pouco mais de seis horas de vôo dos Estados Unidos e Europa.

Além do cenário paradisíaco – emoldurado por dunas deslumbrantes e pelos decantados “verdes mares”  – chamou-me a atenção o cearense. Um povo guerreiro, que apesar das adversidades – nos idos de 70, bem maiores que as atuais – mantém-se alegre, generoso e, sobretudo, hospitaleiro no trato, inclusive, com quem vem de outras plagas. A convergência perfeita de fatores, portanto para embalar um projeto que em sua essência visa retribuir a acolhida dessa gente, que tem não somente os braços, mas os olhos voltados para o mundo.

Foi assim que o Grupo Nova Atlântida – que tenho orgulho de presidir – fincou  raízes no Ceará e decidiu tirar do papel o projeto “Nova Atlântida Cidade Turística Praia”, na praia da Baleia (Itapipoca/CE – distante 130 km de Fortaleza), cujos pilares são o Centro Comunitário São José e um hotel escola, que já estará operando em 2006. Conforme o Plano Diretor aprovado pela Prefeitura de Itapipoca, o projeto parte da reconstrução da Vila São José, onde estão instaladas cerca de 40 famílias, com total anuência do Grupo proprietário das terras. A meta é a  requalificação da Vila, do ponto de vista da infra-estrutura e da capacitação profissional de seus moradores.

Além da reconstrução das casas com padrão arquitetônico elevado: água tratada, esgoto sanitário, eletricidade e documentação de propriedade, vamos proporcionar às famílias acesso a serviços básicos como educação e saúde. Também vamos gerar emprego. Isso significa que vamos treinar as pessoas que queiram trabalhar nos hotéis, nas mais diferentes funções – garçon, gerente, arrumadeira, faxineiro, cozinheiro, jardineiro, lavadeira etc. – ou em atividades que lhes possibilitem ser fornecedores de produtos da agricultura, pesca e apicultura para o empreendimento.

É importante deixar claro que o Projeto Cidade Turística – que em sua primeira fase prevê a construção de 27 hotéis e resorts, seis condomínios residenciais e três campos de golfe ao longo de até oito anos – tem duas vertentes a serem trabalhadas pelo Centro Comunitário São José. A primeira, de cunho social, envolve três esforços: apoio à primeira idade, que são crianças com ou sem famílias; amparo à terceira idade, pessoas em condições precárias ou abandonadas, que necessitam de um local para ficar, receber assistência médica e desenvolver habilidades para uma ocupação produtiva; e, finalmente, qualificação profissional, para formação de mão-de-obra e/ou geração de renda, conforme descrito anteriormente.

A segunda vertente do Projeto é a ecológica, a qual pretendemos transformar no maior atrativo, principalmente junto ao turista estrangeiro. Nessa seara, o objetivo não é somente preservar o meio ambiente, mas promover o ensino e a pesquisa da fauna e flora da região, através de convênios com instituições oficiais e organismos internacionais, como  ONGs. Mas, antes de preservar é preciso conhecer, por isso vamos pesquisar a fundo a região, o que nos dará condições, inclusive, de recompor espécies vegetais ou reintroduzir animais que, eventualmente, tenham sido extintos naquela área. Essas iniciativas serão desenvolvidas a partir da implantação de uma Reserva Privada de Preservação da Natureza.

Não estou falando de uma aventura. Tudo isto está sendo pensado e trabalhado por empresas no Brasil e na Espanha, num total de aproximadamente 400 pessoas. Isto, desde o ano 2000, quando retomamos o projeto, uma vez que tivemos que adiar sua instalação em 1979 – data da aquisição da área e liberação das primeiras licenças de construção junto à Prefeitura de Itapipoca – devido à falta de infra-estrutura, como rodovias de acesso e um aeroporto internacional com capacidade para receber vôos charters de grande porte.

Mas, enquanto esse sonho estava adiado, não ficamos de braços cruzados. Além de avançar nos estudos técnicos, nosso Grupo investiu em iniciativas semelhantes, ou seja, em projetos de ocupação turística planejada em países como: México (Cancun e Riviera Maia) e República Dominicana (Puntacana), que são referências no turismo de alta classe e com retorno econômico e social para as comunidades onde estão inseridos. O que é mais uma garantia da capacidade e idoneidade de propósitos do Grupo Nova Atlântida para investir no Brasil e particularmente no Ceará.

A responsabilidade é grande, porque não se trata de um simples empreendimento turístico, mas de uma cidade constituída de 42 empreendimentos, 120 mil leitos e mais de 200 mil empregos diretos e indiretos. O que significa garantir desenvolvimento ordenado e auto sustentável. Estou falando de coisas como descarte de lixo com coleta e tratamento de 100% dos afluentes, visando, por exemplo, a irrigação dos campos de golfe e áreas comuns para não sobrecarregar o lençol freático. Estou falando da implementação de um projeto que, sozinho, vai duplicar o volume de turistas que o país recebe anualmente (4 milhões, segundo estatística da Organização Mundial de Turismo, referente a 2002), por conta de diferenciais que, além dos já citados, incluem preço competitivo e qualidade do serviço a ser prestado.

Com a experiência de mais de 40 anos no desenvolvimento de projetos turísticos na Espanha (Ilhas Baleares, Costa Brava e Costa do Sol) e a partir da década de 70 também em outras partes do mundo, não tenho nenhuma dúvida acerca do papel da “Nova Atlântida Cidade Turística” enquanto instrumento de promoção social. Não pretendo, obviamente, camuflar ou deixar de reconhecer sua importância econômica para o meu Grupo, cujo investimento inicial é superior a US$ 1,5 bilhão. Por outro lado, também é importante não perder de vista que o lucro financeiro será traduzido em benefícios sociais. Desta forma, acredito estar ao mesmo tempo servindo ao povo brasileiro, me sentindo útil como pessoa e em paz com a minha consciência.