No futuro, uma legião de mendigos

19 de junho de 2013

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O governo federal continua massacrando os idosos. Não tem jeito. Mas, enquanto me permitirem ocupar este espaço, vou continuar com estas mal traçadas linhas sempre protestando contra todas essas iniqüidades. Desculpem, vocês podem até me achar insistente, mas não posso concordar com o arbítrio e as injustiças dos poderosos. Claro, o meu protesto de nada adiantará, mas pelo menos fica o registro público da indignação de um humilde cidadão brasileiro.

Na semana passada, por exemplo, o governo anunciou mais um pacote de medidas para a Previdência que tem como objetivo, segundo afirma, diminuir o seu déficit, combater a sonegação e ampliar a base de contribuição. Entre as principais medidas divulgadas pelo novo ministro está a mudança na concessão do auxílio-doença, baixando em média 40% do valor do benefício. A idéia é reduzir o número dessas concessões, aumentando o prazo de carência para 12 meses.

Parece que o recém-empossado ministro da Previdência pretende solucionar parte dos problemas de caixa do órgão por decreto. Como? Resolveu simplesmente diminuir os gastos do Ministério, deixando de atender a graves situações sociais. Afinal, há de se perguntar quem dará cobertura aos milhões de brasileiros doentes que ficarão sem assistência médica antes de completar um ano de contribuição?

Que existe déficit na Previdência, isto todo mundo sabe. Agora, convenhamos, adotar medidas para cobrir esse rombo, atingindo somente a parcela mais indefesa da população, além de injusto é desumano, principalmente quando se sabe que o Ministério sempre foi palco de corrupção, fraudes e desvios de verbas.

A propósito, conforme matéria divulgada na revista “Conjuntura Econômica” da Fundação Getúlio Vargas, ao longo dos últimos 40 anos mais de 45 bilhões de dólares foram desviados do caixa da Previdência e destinados a obras faraônicas, como a própria construção de Brasília, a ponte Rio-Niterói, a Tranzamazônica, entre tantas outras. E mais, segundo dados oficiais, de cada duas empresas fiscalizadas, durante o ano, praticamente uma está em débito. Além disso, números recentemente divulgados demonstram que a dívida do governo junto ao órgão alcança a cifra de R$ 400 bilhões, sendo que a dívida ativa chega a R$ 70 bilhões.

Assim, diante desses dados, não se pode concordar que o rombo da Previdência Social tem como causa apenas os trabalhadores e aposentados.

Portanto, como se vê, o Executivo, ao invés de combater os reais motivos da insolvência da Previdência -a escandalosa sonegação de tributos e de contribuições previdenciárias, os desvios de recursos públicos e sua má gestão, os débitos do próprio governo-, procura imputar aos menos favorecidos a responsabilidade por todo esse descalabro administrativo.

Na verdade, o mais lamentável nisso tudo é constatar que os atuais dirigentes do país, esquecendo toda uma trajetória de lutas em defesa das causas sociais, estejam hoje retirando esses direitos conquistados pelos assalariados depois de muitos anos de batalha. Direitos, aliás, que eles mesmos tanto defenderam no passado e agora no poder praticam uma política neoliberal perversa, que está levando a classe média ao empobrecimento e fazendo aposentados, no futuro, uma legião de mendigos.

O neoliberalismo, em longo prazo, pode até trazer benefícios ao país, mas certamente a um custo social elevadíssimo, com o aumento brutal da taxa de desemprego, da recessão e da miséria.