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O avanço da pré-história

28 de fevereiro de 2007

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A reeleição do histriônico presidente da Venezuela, para o que ele espera seja seu mandato perpétuo, as manifestações caudilhescas do iletrado presidente da Bolívia e as demonstrações de apreço ao maior genocida das Américas – que, em Cuba, matou, sem julgamento, mais pessoas do que seu êmulo chileno – demonstram que o continente sul-americano não corre nenhum risco de melhorar. Estamos condenados, como diz o escritor Vargas Llosa, a viver na pré-história, com líderes como Chaves, Morales ou Fidel.

Impressiona-me, todavia, que o presidente Lula, que governa mais de metade da América do Sul, de líder inconteste do mundo emergente, em 2003, tenha tido seu papel reduzido a ator coadjuvante, nesse cenário menor, onde vicejam a demagogia, as esmolas ditas sociais e a ignorância,  para gáudio dos minúsculos líderes de palanque e de pendores verborrágicos.

Debatendo, recentemente, com o professor Delfim Netto, em evento patrocinado pelo Instituto Etco, analisamos as perspectivas do governo Lula para seu 2º mandato. Eu defendia, com certo ceticismo, que o presidente precisaria substituir as amarras ideológicas e sentimentais pelas alavancas da eficiência e do progresso, sabendo escolher os melhores, e não os mais amigos, para governar bem e fazer o país crescer de novo. Precisaria ter o descortínio que o governo comunista da China tem demonstrado no campo econômico, não tendo receio de adotar, abertamente, uma economia de mercado, sem desnecessários entraves burocráticos, excessivos encargos trabalhistas e confiscatória carga tributária.

Estamos, gradativamente, perdendo o trem da história. O crescimento pífio – sem chances de se reverter, enquanto a esclerosada máquina administrativa, as benesses presidenciais oficiais, o incorrigível hábito dos detentores dos três Poderes de se auto-outorgarem benefícios remuneratórios, os preconceitos das autoridades em relação aos empresários e a todos aqueles que geram riqueza e desenvolvimento – parece ser, segundo os principais analistas, o destino do país.

Parcela ponderável de brasileiros gostaria que o presidente Lula percebesse que o Brasil é maior, em tamanho e possibilidades, do que todos os seus vizinhos; que não deve submeter-se a esta visão retrógrada, no Século XIX, de que a tecnologia é perniciosa à agricultura e que o progresso da ciência só vale a pena para os filmes de efeitos especiais.

Parcela ponderável de brasileiros sentir-se-ia mais confortável se o presidente passasse a ser líder – não segundo a cartilha imposta por Chaves, Kirchner, Morales e Fidel – de um país que, entre as quatro maiores economias das nações emergentes (Rússia, China, Índia e Brasil), é aquele que oferece melhores condições naturais, econômicas, sociais e culturais que qualquer dos outros três. O Brasil tem tudo, se o presidente quiser, para superá-los em breve no tempo, mas poderá ser superado pela mediocridade de seus não confiáveis aliados, que ainda acreditam na ressurreição da economia do período de neanderthal.

No debate com Delfim Netto,  mostrou-se ele confiante de que o presidente Lula saberá fazer as escolhas certas e levar o país a um patamar melhor do que o atual.

Para o bem do Brasil, que ele esteja certo!