Edição

O bom ministro é aquele que coloca a mão na massa e não hesita em divergir

15 de julho de 2015

Compartilhe:

Alexandre Agra BelmonteDias após a minha nomeação pela Presidente da República para o cargo de Ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), recebi do Ministro Marco Aurélio de Farias Mello um abraço e uma recomendação: “O bom ministro é aquele que bota a mão na massa, não deixando os processos nas mãos de assessores e que não hesita em divergir”.

O magistrado dignifica a carreira quando ele conhece o processo que está julgando e é corajoso para expor as suas convicções à luz da sua interpretação do Direito diante da lei, dos fatos e provas existentes no processo. E corajoso e nobre também para rever os seus posicionamentos, quando se convence de que a linha que estava seguindo não era a mais adequada. E se tem dúvidas, ainda que diante de maciça jurisprudência, pede vista dos autos para melhor exame e compreensão.

O voto divergente em um colegiado não é demérito. É convicção. Uma convicção que pode, futuramente, servir para reflexão e nova orientação.

Por tais razões, recebi como incentivo o bom conselho de quem, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), como o Ministro Marco Aurélio, sempre agiu com independência, alheio a eventuais pressões.

Ao Ministro Marco Aurélio, a minha admiração.

Essa admiração, no entanto, não se resume aos aspectos acima apontados. Afinal, estamos a falar de grande jurista, egresso do TST, onde deixou a sua marca, uma marca adequada aos tempos em que atuou naquela Corte. Uma marca que permanece em muitas soluções até hoje seguidas pelo TST. E no STF se distinguiu não apenas pelos conhecimentos na área trabalhista, mas também, entre outros, em assuntos internacionais, tributários, administrativos, previdenciários, eleitorais e civis.

O Ministro Marco Aurélio iniciou a sua trajetória profissional no serviço público. Atuou como Procurador do Trabalho no Rio de Janeiro até 1978, quando se tornou Juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 1a Região por meio do quinto constitucional. Em 1981 assumiu como Ministro do TST, onde atuou até a sua nomeação como Ministro do STF, em 1990. E já faz 25 anos que lá está, abrilhantando a mais alta Corte de Justiça brasileira, da qual já foi presidente e nessa ocasião teve a oportunidade de revelar a sua verve de bom gestor.

O Ministro Marco Aurélio teve várias passagens como ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidindo-o em três períodos e participando do processo de informatização das eleições brasileiras. Também por cinco vezes exerceu a Presidência da República, em razão de viagem ao exterior do então presidente e demais autoridades da linha sucessória, em uma delas sancionando a Lei no 10.461, que criou a TV Justiça.

A trajetória do Ministro Marco Aurélio não se resume aos tribunais. É autor de diversas obras jurídicas e tem intensa atividade acadêmica.

Como é próprio dos grandes homens, o Ministro Marco Aurélio é sempre afável e nunca deixa de ouvir com atenção os advogados e quem o visita em seu gabinete. E também, como os grandes homens, é corajoso a ponto de dizer que o ministro nomeado pela Presidente da República não está ali para fazer carreira e sim para cumprir uma missão, que só se esgota na undécima hora. Aliás, não tem uma vez, em cerimônias do TST, que o Ministro Marco Aurélio, como egresso daquela Corte, não as prestigie com a sua presença.

Ministro Marco Aurélio, seguindo o seu conselho, prossigo colocando “a mão na massa” e não hesito em divergir quando interpreto que a solução proposta não é a mais adequada, segundo as minhas convicções. E procuro, sempre que possível, repassar a recomendação.

Receba o meu abraço e a parabenização pelos serviços prestados ao País, não apenas nos últimos 25 anos, mas também nos dedicados aos demais cargos que exerceu.