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O futuro do Brasil segundo as lideranças

20 de junho de 2018

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Luciano Huck, apresentador de TV e palestrante

Em meio a um cenário político e econômico ainda incerto no Brasil, o 1o Encontro de ­Lideranças Nacionais, realizado no dia 11 de maio pelo Instituto Justiça e Cidadania, em parceria com a ePúblika e o Escritório Bonini Guedes Advocacia com apoio da Itaipu Binacional, trouxe à tona desafios e inovações em prol de uma renovação do status quo do País. Com um formato contemporâneo e de fácil interação entre palestrantes e público, o evento fomentou diálogo entre empresários, ­influenciadores sociais, políticos e operadores do ­Direito, tendo como pano de fundo a renovação ­política e os impactos econômicos das eleições, bem como as novas regras eleitorais para o pleito de 2018.

Realizado no Hotel Palácio Tangará, em São Paulo (SP), o Encontro foi aberto pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim. O jurista abordou o “Sistema Eleitoral brasileiro e suas implicações práticas”, e fez considerações sobre as eleições deste ano. Jobim comentou o fato de que o Nordeste e o Sudeste têm, juntos, 70% do eleitorado nacional, e realizou apontamentos sobre os fundos de financiamento de campanhas eleitorais no país. “Com a nova legislação, que proíbe a contribuição das pessoas jurídicas, dificilmente vão repetir a dose da farra do Caixa 2”, explicou.

Ao fim da palestra, o jurista ainda ressaltou uma nuança do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, relatando um fato ocorrido à época e chamando a atenção para a questão que o ineditismo desse tipo de processo, nos anos 1990, abriu espaço para que isso se repetisse, referindo-se ao ocorrido em 2016, com a ex-presidente Dilma Roussef.

Já o jornalista William Waack, segundo palestrante do evento, forneceu uma “Análise conjuntural da política e as perspectivas da eleição presidencial”. Waack ressaltou o discurso de Jobim, que denunciava o sistema político brasileiro e como este molda as seções eleitorais. “Ninguém governa o Brasil sem Congresso”, afirmou o jornalista, que falou ainda sobre a crise de representatividade política no País e o espectro desta, de acordo com as visões ideológicas de centro, direita e esquerda. “É extraordinária a imprevisibilidade desta eleição neste momento. É extraordinária e perigosa esta abertura que nós estamos dando, que praticamente deixa todas as portas abertas para qualquer coisa”, ressaltou.

Gustavo Bonini Guedes, advogado e curador do seminário

Arick Wierson, estrategista político americano, foi quem deu abertura à primeira mesa da tarde do ­Encontro de Lideranças. Wierson discutiu a “Importância da comunicação digital eleitoral” no mundo moderno, abordando também o surgimento das fake news. ­Segundo ele, o fenômeno não está sequer perto do que ainda se tornará, e crescerá até que alguma tecnologia consiga contê-lo. Ainda de acordo com o americano, o horário eleitoral brasileiro é demasiado “careta”.

“Terá que haver uma revolução na forma que os políticos brasileiros se comunicam com o povo”, declarou. Segundo ele, tal revolução encontrará casa na comunicação digital e em conteúdos virais.

Marcelo Ribeiro, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também membro da mesa “Diálogos sobre o Brasil: novidades e desafios das campanhas em 2018”, deu ênfase ao fenômeno “Fake News e seu impacto na campanha eleitoral”. Ribeiro parafraseou Wierson, concordando que a solução dessa crise virá apenas com mais tecnologia. “Infelizmente, o Tribunal tomará todas as atitudes cabíveis, mas não conseguirá conter todas as fake news”. O ex-ministro apontou ainda para o fato de que quem mais compartilha essas notícias falsas, criadas por robôs e direcionadas por algoritmos, são as denominadas “pessoas de bem”. Contribuindo com Ribeiro, a condutora e advogada Angela Cignachi apontou, de acordo com dados, que a maior propagação de notícias falsas no Brasil se dava em grupos de WhatsApp de famílias.

Aderindo ao debate, o ministro do TSE, Admar Gonzaga Neto, abordou “Principais preparativos e desafios para o pleito de 2018”. Segundo o ministro, as fake news não o preocupam tanto assim. “Eu sou muito liberal na questão de propaganda; se um candidato é mentiroso e deselegante, o eleitor tem que ver isso”, afirmou. Gonzaga criticou ferrenhamente também o desafio que o Brasil enfrentará com o voto impresso. “A febre em volta da questão do voto impresso só está sendo impulsionada devido a interesses comerciais”, denunciou, além de apontar que a discussão também é inflamada apenas a partir daqueles que perdem as eleições.

Sobre o tema, o moderador e advogado Luiz Fernando Pereira ainda acrescentou: “O problema da desconfiança em torno da urna eletrônica é um pouco da síndrome do vira-lata. O brasileiro não acredita que possa ser melhor em nada”.

Abordando “Compliance a participação de empresas nas eleições”, o advogado Juliano Breda falou sobre o impacto da Lava Jato e outras operações ­federais na postura de grandes empresas. Segundo ele, vem ocorrendo uma mudança radical na instituição de programas de compliance de integridade nas estruturas de negócios de multinacionais e companhias de grande porte. No entanto, ele atenta: “Isso mudou muito mais por uma imposição do mercado do que por um problema de consciência ou convicção ética por parte dos ­administradores”. O mercado está impondo uma nova postura e cultura às grandes empresas.

O segundo debate da tarde, “Diálogos sobre o Brasil: desafios políticos e estruturais do País nos próximos 20 anos” foi conduzido pelo atual ministro e vice-presidente do STF, José Antonio Dias Toffoli. Segundo ele, a mesa debateu um tema muitas vezes deixado de lado: o futuro.

O cientista político Murillo de Aragão começou a discussão abordando “Eleição presidencial e os grandes temas nacionais”. Aragão acredita que o Brasil é um país que ainda vive amarrado ao passado, que demora a ser permeável às soluções de governo e de políticas públicas do futuro. Ele exalta ainda que passamos por “um presente tão exasperante que impede as pessoas de realmente pensarem no futuro”.

Aragão discutiu também a existência de duas agendas: uma agenda eleitoral e uma agenda oculta, que afugenta o eleitor. Essa agenda oculta existe de modo a disfarçar as intenções reais do político para evitar que a realidade puna a narrativa eleitoral. “Ele busca evitar expor demais plataformas que terminem vulnerando sua performance”, explicou, exemplificando com uma necessária reforma profunda da previdência.

Advogada e professora Karina Kufa, representante da ePúblika, parceira na realização do evento

Já Cesar Silvestri Filho, prefeito de Guarapuava (PR) e vice-presidente da Frente Nacional de Prefeitos, exaltou que não é possível falar de poder local sem falar de educação. “Há um debate central que vem sido ignorado: que tipo de formação iremos proporcionar às crianças olhando para o mundo daqui 20, 30 anos?”, questionou. Segundo o prefeito, a estrutura tradicional de currículos escolares brasileira colocará em risco a posição do Brasil frente à outras nações em desenvolvimento, além dos gigantes do chamado “Primeiro Mundo”. “Temos que incentivar nossas crianças a pensar, não a responder perguntas; temos que incentivá-las a formular perguntas cada vez ­melhores. Elas precisam desenvolver lógica”, afirmou, ressaltando que o futuro promete profissões que ainda sequer existem.

Paulo Câmara, governador de Pernambuco, esteve presente no debate para discutir “A necessária conciliação entre projetos econômicos e sociais”, afirmando que não se faz uma nação sem planejar o futuro. Segundo Câmara, Pernambuco é um dos poucos estados brasileiros que tem um planejamento para os próximos 20 anos em uma ampla discussão com a sociedade civil, iniciativa privada e municípios. “A agenda do presente sufoca, mas se você não tiver ferramentas e estruturas que também pensem o planejamento do futuro, nunca aliaremos o desenvolvimento que a gente quer para a população”, apontou.

No último debate do evento, “Diálogos sobre o Brasil: necessidade de renovação e o reflexo econômico da política”, a moderadora e jornalista Mônica Bergamo enriqueceu a conversa com os membros da mesa. Questionada sobre a “enorme dificuldade que há no Brasil de as mulheres terem participação na política institucional”, a empresária Luiza Helena Trajano falou sobre cotas e renovação na política. “Eu sou totalmente a favor de cota. Este é o processo transitório para acertar a desigualdade”, opinou. Segundo Trajano, também não será possível uma grande mudança política se a sociedade civil organizada não apresentar um projeto de pelo menos dez anos para a educação.

Já Luciano Huck, empresário e apresentador de TV, quando indagado sobre sua entrada na política, afirmou: “Quando você começa a pensar em políticas públicas no Brasil de uma maneira efetiva e com gente competente à sua volta, não é possível andar para trás”. Huck atentou para a desigualdade no Brasil, criticou o cenário atual da política e não descartou uma possível candidatura à presidência no futuro.

Também membro da mesa, o empresário Eduardo Mufarej, fundador do Movimento RenovaBR, ressaltou que “nenhum país que estigmatizou a política deu certo”. Segundo ele, é necessário valorizar as pessoas que de fato estão interessadas em trabalhar na política com o espírito de servir e contribuir, ou então “continuaremos sendo governados por aqueles que têm outros tipos de interesses”.

O advogado e condutor Gustavo Bonini Guedes elogiou a qualidade do público presente no evento e explicou que o que o motivou a pensar no 1o Encontro de Lideranças Nacionais foi justamente a renovação política. “Tudo isso que tivemos hoje foi por conta desse tema”, exaltou. O Encontro teve curadoria da Bonini Guedes Assessoria, organização da ePúblika Cursos e realização do Instituto Justiça & Cidadania. Além disso, contou com o apoio da Itaipu Binacional e do Instituto Paulista do Direito Eleitoral; Instituto Paranaense do Direito Eleitoral; Instituto de Relações Governamentais; e do Instituto Vernalha Guimarães & Pereira.

Ministro José Antonio Dias Toffoli, do STF

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