O Linchamento Moral

30 de maio de 2011

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(Editorial originalmente publicado na edição 24, 05/2002)

Não é de hoje que inocentes têm pago e sofrido pesadas, duras e infamantes injustiças, de irreparáveis consequências, face brutais linchamentos morais que lhes atingiram.

Até Jesus Cristo, que somente pregava  o amor e a conciliação, sofreu a injustiça e o linchamento maior, crucificado no lugar de Barrabás, por instigação e mentiras dos judeus.

A defesa contundente feita por Emile Zola, com o famoso “J’accuse” a favor do infeliz capitão André Dreyfus, acusado injustamente em 1894 de trair a honra do militarismo francês – apesar de ter recuperado a liberdade somente em 1906 –, jamais livrou o desgraçado oficial dos labéus racistas e lembranças infamantes que o atingiram arrostando o seu futuro e de sua família na miséria da indignidade.

Quem não se lembra do recente caso ocorrido em uma escola particular de São Paulo, cujos  professores e o estabelecimento de ensino sofreram um dos mais jungentes linchamentos por parte de jornais, rádios e televisão, arruinando definitivamente a instituição e a vida particular daqueles mestres, que se quedam ainda hoje, apesar de restabelecida a verdade e a inocência, com a honra e a dignidade ultrajada e sem possibilidade de plena recuperação.

Estes comentários vêm a propósito da onda brutal e indiscriminada de acusações infundadas e irresponsabilidades infamantes que ocorrem divulgadas pela imprensa, atingindo irreparavelmente sem a menor consideração e respeito a dignidade e a moral do semelhante, que se vê a mercê de infâmias e maledicências praticadas por levianos e criminosos adversários e pressupostos inimigos.

Outro fato que causa nojo e repugnância é o dito por uma velhota política, ao tentar atingir com injúrias e menosprezo uma das figuras mais decentes, dignas, corretas e honestas da magistratura, o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Paulo Costa Leite, cidadão que pautou sua vida pública, em todas as funções nas quais atuou, com dignidade e compostura que serve de exemplo e paradigma para os que ainda exercem a judicatura, e principalmente, para as gerações futuras que virão a praticar essa profissão.

O incompreensível silente procedimento da Ordem dos Advogados do Brasil e das Associações que congregam os magistrados do Brasil, no tocante às injustas agressões e malfadas injúrias sofridas pelo eminente ministro Costa Leite, se torna plenamente inaceitável, pois é inadmissível que essas representativas entidades do mundo Judiciário, que tanto enalteceram, prestaram reconhecidas homenagens e renderam elevado respeito ao honrado ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça – tenham neste momento em que a dignidade e honorabilidade de um jurista excepcional como S. Exa., tanto pelos conhecimentos da ciência do Direito quanto pela dignidade e postura como se conduziu como magistrado – não se levantem em defesa de sua honorabilidade e em desagravo contra as levianas e equivocadas injustiças que lhes foram assacadas pela deputada Luiza Erundina e que contou com o endosso e conivência tácita do insipiente candidato Garotinho.

Causou espanto e estarrecimento a notícia de fato ocorrido há poucos dias, em que personalidades da Ordem dos Advogados do Brasil, também por manobra de linchamento moral, teriam procurado, por motivos pessoais e corporativistas, o ministro da Justiça, Dr. Miguel Reale Jr., para se contraporem à justificada indicação do grande e reconhecido jurista e mestre do Direito, eficiente, comprovado e denodado defensor do patrimônio da União, o ministro Gilmar Ferreira Mendes, para compor como guardião da Constituição a nossa alta corte do Supremo Tribunal Federal.

Os homens de bem, principalmente, os que exercem com responsabilidade atividades públicas, e em especial, os formadores de opinião, têm a obrigação de repudiar e revidar contra as indevidas assacadilhas que, leviana e indiscriminadamente, sem prova ou razão, são imputadas contra adversários ou inimigos.

Por oportuno, vamos lembrar os linchamentos sofridos por Getúlio Vargas: o primeiro, em 1945, foi repelido e revidado pelo povo que o consagrou nas urnas em 1950; no segundo, em 1954, a vergonhosa iniquidade sofrida, levou-o ao suicídio para fugir das indignidades e sofrimentos morais, acarretando a revolta e o espoucar do clamor das multidões que abafaram e repeliram as injustiças que lhe atribuíram.