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O Rio Paraíba do Sul pede socorro

5 de agosto de 2003

Prefeito de Resende e presidente do CEIVAP, Comitê para a Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

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Os moradores da região metropolitana do Rio de Janeiro estão muito próximos de viver uma surpresa desagradável quando abrirem suas torneiras. Com apenas 10% do volume útil de armazenamento, a Represa do Funil em Resende atingiu um dos momentos mais preocupantes da última década. Em conseqüência o Rio Paraíba do Sul, responsável por mais de 80% do volume de água consumido na região metropolitana, corre o Sul do Estado muito abaixo do seu nível normal, já colocando em risco 0 abastecimento de cidades como Volta Redonda, Barra Mansa e Barra do Piraí.

O problema não se limita apenas a Represa do Funil. Outros três reservatórios em território paulista (paraibuna, Santa Branca e Jaguari) que operam interligados a represa fluminense tem registrado queda por sete anos consecutivos. Caso este sistema alcance níveis inferiores aos atuais haveria o risco de perdermos toda a capacidade de regulação das vazões dos rios, ficando o abastecimento de água em praticamente todo o Estado do Rio à mercê da ocorrência de chuvas.

Como se já não bastasse o baixíssimo volume de água disponível, o Rio Paraíba do Sul carrega consigo um problema adicional. Sem a vazão adequada para a diluição dos  poluentes lançados pelas cidades e industrias do Sul de Estado, a qualidade da água atinge limites quase impeditivos para o tratamento, exigindo das distribuidoras pesados gastos para torná-la adequada ao consumo humano. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, a empresa de abastecimento de água de Resende, uma das cidades menos prejudicadas em função da proximidade da Represa do Funil, já dobrou as despesas com produtos químicos para garantir a mesma qualidade da água ofertada a população.

Diante deste quadro estrutural de crise de abastecimento e das previsões de estiagem para os meses de agosto a outubro, a Agencia Nacional de Águas esta reduzindo de 250 m3/s para 190 m3/s e mais 10 m3/s sucessivamente pelos próximos três meses a contribuição do já combalido Paraíba do Sul ao sistema Guandu em uma tentativa tímida de preservar o primeiro e de garantir as condições mínimas de abastecimento da região metropolitana. Ocorre que, permanecendo os mesmos níveis de contribuição ao Guandu e precipitação pluviométrica, as represas podem literalmente secar em meados de outubro. Caso esta situação extrema se confirme, não haverá com o que contribuir para o sistema Guandu, ficando, portanto, a região metropolitana do Rio privada de 80% do volume de água disponível para o seu abastecimento. Ou seja, este é o momento para que seja discutida a vazão ideal de contribuição do Rio Paraíba, até porque, em outubro, pode não haver mais o que se discutir.

O problema hoje é agravado pelas contribuições provenientes dos Rios Poços e Ypiranga ao Guandu que trazem consigo a poluição de esgotos e industrias da Baixada Fluminense, provocando a proliferação de algas que podem até inviabilizar o tratamento da água. Por incrível que pareça, com todos os seus problemas, o Rio Paraíba do Sul é o responsável! pela diluição destas contribuições dos Rios dos Poços e Ypiranga, na medida que amplia o volume de água e aumenta a diluição dos poluentes.

Um problema desta complexidade e abrangência teria somente uma solução fácil: muita chuva! Mas como não se pode contar apenas com a sorte, é preciso propor soluções de curto e médio prazo para equacionar o problema ou, na pior das hipóteses diminuir ao máximo o impacto da crise de abastecimento na população. De maneira emergencial, cabe a Agencia Nacional de Águas, preservar ao máximo a fonte principal de abastecimento do Estado, no caso o Rio Paraíba do Sul. A vazão de contribuição ao Guandu prevista para os próximos meses ainda é bastante elevada, podendo diminuir se acompanhada de uma campanha de conscientização para a racionalização do uso da água. Neste caso, a mensagem precisaria ser muito clara: racionalizar para não racionar!

Paralelamente, mas com prazos para resultados mais distantes é preciso que os governos federal e estadual realizem as obras adiadas por uma década de desvio dos Rios dos Poços e Ypiranga, que deveriam desaguar após o ponto de captação do sistema Guandu. Esta medida, diminuiria a carga de poluentes a serem diluídos e permitiria a Cedae economizar boa parte dos R$ 7 milhões mensais gastos com o tratamento da água oferecida a região metropolitana.

Outra ação de médio prazo indicada e construção de uma adutora para atender as empresas sediadas na Baia de Sepetiba. Esta medida permitiria resolver o problema de salinização da água consumida na região, que vem exigindo um investimento crescente em tratamento no trecho final do Rio Guandu.

Diante deste quadro de problemas e da necessidade concreta de investimentos, a cobrança pelo uso da água iniciada pelo Ceivap na Bacia do Paraíba do Sul precisa ser estendida a região metropolitana do Rio de Janeiro. Esta é uma garantia que estarão disponíveis os recursos necessários a recuperação das águas e do sistema de abastecimento das bacias Paraíba do Sul e do Guandu.

Espero, sinceramente, que a recente crise de energia, ainda esteja muito presente na memória dos nossos dirigentes para que não sejamos “pegos-de-surpresa” mais uma vez.