O Senado e o palhaço

12 de junho de 2004

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(Editorial originalmente publicado na edição 47, 06/2004)

Com certeza, deve ter causado espanto e estranheza aos leitores que folhearam os jornais do feriado de Corpus-Crhisti, ao verem a foto de um palhaço, do lado de fora do plenário do Senado Federal, junto a Senadora Ideli Salvati e do Senador Eduardo Suplicy.

A presença do palhaço XUXU fazendo a leitura teatral de protesto contra a emenda constitucional que desconsidera as decisões do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal Eleitoral, e aumenta desnecessariamente 3.490 ao número fixado pelos tribunais, constitui sem dúvida alguma um achincalhe o projeto da Câmara dos Deputados, de autoria de um dos deputados envolvidos em grossa patifaria, e tido como um dos “anões do orçamento”.

O protesto do palhaço XUXU – o cidadão Luiz Carlos Vasconcelos- contra a tentativa do Congresso, de evitar a redução judicial e aumentar o número de vagas dos vereadores, constitui um chamamento à responsabilidade cívica e moral dos senadores, pelo absurdo que representa de gastos desnecessários e inúteis, pois é fartamente sabido, que além do descrédito que os legislativos são tidos pela população, principalmente as Câmaras de Vereadores, em quase absoluta totalidade dos municípios do país, ainda representa um acinte ao povo, que por falta de respeito e cumprimento aos seus direitos sociais, garantidos pela Constituição, se queda desamparado e desassistido pela falta de escolas, hospitais, medicamentos e saneamento básico.

Enquanto isso acontece e se constata diariamente nas portas de hospitais, como apresentado pela televisão, esse malfadado PEC 49, que representa além do custo incomensurável e inútil, a absurda manutenção de uma alcatéia de cabos eleitorais de prefeitos, deputados e senadores.

Ao ver o protesto do palhaço XUXU, é de se perguntar: onde está a moral da Administração Pública imposta pela Constituição no  seu artigo 37?

É também de se lamentar, que no primeiro turno da votação da citada PEC 49, 51 senadores tivessem votado a favor do aumento de 3.490 vereadores, e apenas sete conscientes representantes do povo injustiçado e desassistido tivessem repelido a absurda emenda. Por certo nos Estados desses senhores senadores, não falta para a população, assistência médico-hospitalar, não faltam medicamentos, não falta merenda escolar e ninguém passa necessidade…

Quando os homens públicos  passarão a se interessar vivamente pelo bem estar do povo, ou ao menos tentar  minorar as suas vidas?

A sarcátisca e ridícula atitude e intervenção do palhaço feita nos corredores do plenário do Senado -concitando os Senadores a não se converterem em profissionais da sua classe – ainda assim, e independentemente da intenção da sua revolta, demonstra que os pais da Pátria não quiseram entender e aprender com o seu grito de revolta.