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Ruy, a águia de Haia

14 de janeiro de 2015

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A11 Ruy Martins Ed 168Ruy Barbosa nasceu em Salvador há 165 anos, em 5 de novembro de 1849. Foi um dos maiores juristas brasileiros, destacando-se também como Político (com “P” maiúsculo), diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador. Foi um ferrenho defensor do federalismo, do abolicionismo, dos direitos e das garantias individuais e da ética na política.

Ruy Barbosa foi deputado, senador, ministro e candidato à Presidência da República. Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras e seu presidente entre 1908 e 1919. Em 1907, Rodrigues Alves, presidente da República, designou-o representante do Brasil na 2a Conferência da Paz, em Haia, na Holanda. Sua brilhante inteligência e eloquência lhe renderam o título de águia de Haia.

Neste momento que o Brasil vive, vale lembrar lições de Ruy Barbosa, notadamente o discurso aos bacharelandos da Faculdade de Direito de São Paulo, em 1920. Denominada “Oração aos Moços”, Ruy continua sendo o inspirador de muitos, que nele vão procurar as regras de conduta para que suas ações sejam norteadas por caminhos que levam ao cumprimento do dever. Foi um cidadão público que fez da advocacia verdadeiro sacerdócio.

A leitura e reflexão das obras de Ruy Barbosa revigoram nossa crença na prevalência dos princípios morais e éticos. Na «Oração aos Moços», relembrou o princípio básico que prevalece nos dias atuais. «Entre as leis ordinárias e a lei das leis [a Constituição] é a justiça quem decide, fulminando aquelas quando com esta colidirem.” A águia de Haia prezava os magistrados e os advogados: “São duas carreiras quase sagradas, inseparáveis uma da outra, e, tanto uma como a outra, imensas nas dificuldades, responsabilidades e utilidades.”.

Ao final da inesquecível “Oração aos Moços”, Ruy foi incisivo: “Eia, senhores! Mocidade viril! Inteligência brasileira! Nobre nação explorada! Brasil de ontem e amanhã! Dai-nos o de hoje, que nos falta”; “Mãos à obra da reivindicação de nossa perdida autonomia; mãos à obra da nossa reconstituição interior; mãos à obra de reconciliarmos a vida nacional com as instituições nacionais; mãos à obra de substituir pela verdade o simulacro politico da nossa existência entre as nações”, continua Ruy Barbosa.

Trabalhai por essa que há de ser a salvação nossa. Mas não buscando salvadores. Ainda vos poderei salvar a vós mesmos. Não são sonhos meus amigos: bem sinto eu, nas pulsações do sangue, essa ressurreição ansiada. Oxalá não se me fechem os olhos, antes de lhe ver os primeiros indícios no horizonte. Assim o queira Deus.

Ruy Barbosa morreu aos 73 anos, em Petrópolis. Sua extensa bibliografia em mais de cem volumes reúne discursos, artigos, conferências e anotações. Sua biblioteca com mais de 50 mil títulos pertence à Fundação Casa de Rui Barbosa, em antiga residência no Rio de Janeiro. Nos dias atuais é preciso agir com firmeza, segurança e equilíbrio como nos ensinou Ruy Barbosa, cuja memória não pode ser esquecida.

Jornal Folha de São Paulo. São Paulo, 4 de dezembro de 2014, Caderno Opinião, p. A3.