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Uma lista afetiva

16 de junho de 2014

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Andreia-PachaConvidada pela coluna a revelar os livros que mais lhe inspiraram, a juíza Andréa Pachá, do Rio de Janeiro, deixou escapar: “Morro de medo de listas, especialmente as de preferência de leitura. Corro sempre o risco de ser injusta, parecer incompleta ou leviana”.

O desabafo não é fora de contexto. Magistrada com reconhecida atuação nos movimentos associativos da categoria, que já ocupou o cargo de conselheira do órgão de planejamento estratégico do Judiciário – o Conselho Nacional de Justiça, Andréa soma ainda ao seu extenso currículo a profissão de escritora. Seu livro, A vida não é justa, já vendeu mais de 30 mil exemplares. A obra reúne 33 histórias criadas com base no que ela viu e viveu em 15 anos como juíza de varas de família. O sucesso foi tanto que os enredos agora estão sendo adaptados para a TV e o Teatro.

A aptidão para eternizar com palavras situações que a maioria dos seus colegas de profissão veem como corriqueiras exige sensibilidade. E essa é uma qualidade que se acura com a leitura, uma boa leitura. A lista de Andréa é cheia de boas seleções. “Escolhi uma lista afetiva, com os títulos que me viessem ao coração e que, por algum motivo, ficaram gravados na memória como leituras inesquecíveis e fundamentais para minha formação humana e profissional”, conta.

O primeiro deles é Dom Quixote, de Cervantes. A obra narra a história de um fidalgo, que inspirado pelos romances de cavalaria, decide seguir pelo mundo a fim de combater injustiças. “O livro foi escrito há mais de 400 anos. Sempre que o releio, me encho de esperança de que as utopias, os desejos e os sonhos significam as verdadeiras transformações na vida. Sem as lutas impossíveis e improváveis, a vida é de uma banalidade insuportável”, afirma.

Outro livro inspirador para Andréa foi Édipo, de Sófocles. “Essa tragédia, escrita há quase 500 anos A.C., traduz uma questão permanente de todos os homens: quem sou eu? Em busca dessa resposta, um rei justo e bom enfrenta o que o destino lhe reserva e assume a responsabilidade pela sua identidade. É uma leitura essencial, especialmente em momento de flacidez ética em que o mais comum é fugir dos papéis, das representações e dos deveres”, destaca.

Por fim, Andréa enumera O Estrangeiro, de Camus: “leitura que transformou seu olhar para a nossa condição humana precária e contraditória”; e acrescenta também Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. “A partir dessa obra, que desenha com uma precisão cirúrgica a nossa realidade social, consegui olhar para o Brasil com o sentimento de pertencimento. Sem Casa Grande e Senzala, não consigo imaginar como enxergaria as desigualdades do País onde vivo e como me perceberia uma magistrada brasileira”.

De fato, obras inspiradoras.

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