Edição 90
58 anos da Tribuna da Imprensa
31 de janeiro de 2008
Bernardo Cabral Presidente de Honra do Conselho Editorial
NOTA DO EDITOR
Republicamos com ufania, apreço e plena concordância o magnífico artigo do nosso estimado Conselheiro Editorial Bernardo Cabral em comemoração ao aniversário do indômito e valoroso jornal do intrépido Helio Fernandes, considerado, sem contestação, o maior e mais destemido jornalista brasileiro da atualidade.
O custo da atuação do jornalista e do seu jornal está implícito e impregnado na matéria de Bernardo Cabral. As prisões, os desterros, as humilhações e sacrifícios, além das pressões econômicas e financeiras enfrentadas por Helio nas lutas constantes do seu trabalho, defendendo sempre e intransigentemente os interesses públicos e da Nação. Nada e ninguém têm conseguido dobrar esse jovem de 86 anos, que em todos os governos havidos nesses tempos, tem lutado incessantemente contra as arbitrariedades, denunciando corruptos, corruptores e corrupções, sofrendo conseqüentemente perseguições de todos os jaezes.
Helio Fernandes é paradigma do jornalista livre.
Tribuna da Imprensa é símbolo da liberdade de expressão!
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É imperioso que se lute, a cada dia, no sentido de se evitar a perda da identidade histórica. E, com ela, alguns acontecimentos que vão ficando esmaecidos, mormente sobre aqueles que sofreram seguidas perseguições. É o caso deste jornal – agora com 58 anos – e de quem o dirige, ininterruptamente, a partir de 1962, com altivez, coragem e destemor inigualáveis.
Do periódico é desnecessário acentuar que não se manteve ele à custa de concessões a instituições poderosas ou reverências inconfessáveis aos poderes constituídos. Aliás – cabe o registro -, foi no governo anterior, dito democrático, que sofreu ele a mais continuada e revoltante das perseguições, além do bloqueio nefasto em termos de publicidade, cujo único objetivo era o de encerrar as suas portas.
O que não aconteceu nem mesmo nos governos militares, apesar de ter sido a TRIBUNA DA IMPRENSA o jornal que sofreu a censura mais avassaladora de que se tem notícia na imprensa brasileira e que por mais tempo teve cerceada a sua liberdade. Aliás, esse período não dista tanto do tempo presente, a ponto de ter apagado de nossa memória o que significou a pesada imposição da censura aos meios de comunicação.
Ademais, cercear a liberdade de imprensa é impor uma venda dos olhos e ouvidos de toda a Nação. Nesse particular, a TRIBUNA foi o primeiro órgão a ter a sua censura prévia, antes mesmo da edição do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968, e foi o último a deixar de sofrê-la em julho de 1970.
Quanto ao seu diretor, Helio Fernandes – o imbatível! com quem convivo há mais de 40 anos, posso afirmar que, muito embora tenha sido, de longe, o jornalista mais censurado e confinado da história brasileira – três vezes -, além de preso inúmeras outras, jamais se omitiu, acovardou, desertou, ensarilhou as armas com medo dos prepotentes.
Conheceu a ignomínia e o opróbrio de presídios e quartéis militares, a negação de sua própria identidade profissional e o cerceamento do sagrado direito ao trabalho, ao ser proibido de trabalhar e de escrever.
Espécie de pária, sem documento de identidade, sem título de eleitor, sem permissão para abrir conta nos bancos oficiais, cassado pelo regime instituído pelos militares, porque tinha todas as chances de ser deputado federal mais votado pelo então MDB da Guanabara, teve de recorrer, no período compreendido entre novembro de 1966 a setembro de 1967, ao pseudônimo de João da Silva, nome de um pracinha brasileiro da FEB que morreu lutando na Itália.
Por isso mesmo, Helio Fernandes nunca utilizou o aval da omissão ou concedeu a cautela do seu silêncio, pois sempre soube ele que os que assim pensam e procedem sentirão um dia que a omissão e o silêncio foram gestos de covardia e não merecerão o respeito dos seus semelhantes ou a compreensão dos seus pósteros, acabando por serem levados ao cadafalso da opinião pública.
Essa é a razão de não constarem do seu Manual de Jornalismo o servilismo e a subserviência, como não figura, ainda hoje, no dicionário de sua vida. Na sua trajetória tem confirmado, ininterruptamente, que não sendo homem de caminhos oblíquos, acaba desgostando os que eventualmente empalmam o poder e o que é mais notável: não compartilha com a prepotência, é indiferente ao temor pelos poderosos e se fixa no objetivo sempre atingido de sua missão – assegurar aos seus leitores o legítimo direito à verdade dos fatos.
Por essa razão, ao completar a TRIBUNA os seus 58 anos de existência os admiradores de Helio Fernandes podemos comprovar que a sua atuação está indelevelmente tombada, histórica e realisticamente, no patrimônio do respeito que lhe tributa o povo brasileiro.