Edição

A chefia do Poder Judiciário

30 de abril de 2006

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Na perspectiva dos mais céticos, depois das agruras até aqui vividas, nem a esperança deveria sobejar na Caixa de Pandora Brasileira. Somos, no entanto, por natureza e convicção um povo otimista e por isso logo tratamos de vislumbrar, num horizonte próximo, algum acontecimento promissor, de modo a sempre contarmos com a possibilidade de confirmar essa inata certeza num porvir grandioso que tanto acalenta o mito recorrente de “País do Futuro”.

No Judiciário, não precisamos eleger acontecimentos de papel. À vista, está confirmada, a celebração de uma data em si mesma auspiciosa não só para a comunidade jurídica, senão para toda a República: consolidando a tradição salutar de renovação, a cada dois anos, do comando da Corte Suprema do País, chega à Presidência, à Chefia do Poder Judiciário, a ministra Ellen Gracie, magistrada cuja atuação sempre se distinguiu pelo descortino, retidão e temperança.

Quem prima em destacar a fidalguia com que os pares, mesmo em meio aos mais acalorados debates, desvia o foco da determinação que lhe norteia os passos desde os primórdios da triunfal carreira. Formada no ambiente austero da gente do Sul, com apenas três anos de bacharelado já vencia os rigores que alicerçam o concurso para o cargo de Procurador da República, idôneo passaporte para, após pouco mais de quinze anos, integrar o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em cuja Presidência exercida oito anos mais tarde priorizou a racionalização dos serviços e praxes judiciários, além da ampliação e interiorização da Justiça Federal, de Primeira Instância, metas que bem revelam o perfil administrativo de Ministra – racional, objetivo, a enfatizar a eficiência, os resultado, de modo a alcançar da forma mais definitiva possível a solução dos problemas que lhe são apresentados.

Toda a magistratura vibra quando um dos seus alça ao topo do judiciário para chefiar-lhe com a competência já demonstrada pela Ministra, o que inclui, além da aguerrida defesa do respeito às leis e à Constituição, o apego a liturgia do cargo, a exigir a eqüidistância necessária das paixões cotidianas que tanto assediam aqueles que detêm o poder, tentando aliciá-los.

Em novos tempos, a missão sublime de julgar há de estar sempre desvinculada de qualquer coloração política, assentando-lhe na primazia das leis, da qual depende todo e qualquer avanço cultural de uma sociedade. Essa é a razão de toda república render homenagens ao biênio presidencial que se avizinha no Supremo. Se o exemplo deve vir de cima para cintilar como norte, luz condutora aos demais, estamos todos – e não só o judiciário – bem representados.

Uma geração de mulheres lutadoras vem mudando o panorama profissional do Brasil, principalmente na seara jurídica, com a firmeza e aplicação que lhes são peculiares, conforme os leitores poderão constatar nesta edição especial da revista. É ler, admirar e aplaudir, acompanhando, passo a passo, a administração da primeira Ministra do Supremo, da primeira Chefe do Poder Judiciário.