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A energia, o progresso, o futuro

31 de julho de 2007

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O presidente Juscelino Kubitschek criou Furnas, em 1957, exatamente para que surgisse, no País, uma poderosa fonte de energia capaz de assegurar um processo veloz de desenvolvimento econômico, levando ao progresso, na medida em que reduzisse a distância entre o presente e o futuro.

Entretanto, para isso, além do pesado investimento financeiro, era indispensável a capacidade humana – que está sempre no vértice de tudo – para gerir o projeto. A presidência da empresa foi entregue ao engenheiro John Cotrim, extremamente capaz, que permaneceu no cargo durante os governos JK, Jânio Quadros, João Goulart e até no período militar do general Castelo Branco. Realizou um trabalho extraordinário a partir de Minas Gerais para todo o País. Ao longo de sua história, Furnas nunca deixou de ter um mineiro em sua presidência.

Luiz Carlos dos Santos, que a livrou da incrível privatização projetada no governo FHC, era político por São Paulo, porém mineiro de nascimento. Produzindo diretamente e transmitindo a carga de Itaipu Furnas fornece energia de qualidade à metade do País. Nesta metade, nela contida a parcela de 63% do parque industrial. Em segundo lugar, encontra-se a Cia. Hidrelétrica do São Francisco, ambas integrantes, ao lado da Eletronorte e agora novamente da Eletrosul, do sistema da Eletrobrás.

Juscelino recebeu a potência instalada brasileira em 3 milhões de KW e a duplicou em cinco anos. Hoje, de acordo com o relatório do Centro de Memória da estatal-holding, situa-se na escala de 97 milhões de KW, mas tem de crescer bastante além disso para garantir o desenvolvimento sustentável. Calcula o engenheiro Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, em recente entrevista a “O Estado de São Paulo”, que o sistema de geração terá que produzir, incluindo o transporte da binacional de Itaipu, 130 milhões de KW até o ano de 2030.

A produção de energia, como JK iluminou a questão 50 anos atrás, é tão fundamental quanto insubstituível para impulsionar o Produto Interno Bruto em escala, não só compatível, mas superior à do crescimento populacional. A população cresce à velocidade de 1,3% ao ano. O PIB, portanto, tem de avançar muito mais, pois nos deparamos com um déficit social enorme, maior que as dívidas interna e externa juntas.

Dessa forma, meio século depois de JK, o Brasil se depara com um novo desafio cujo enfrentamento encontra-se proposto no Programa de Aceleração do Crescimento, cuja coordenação está colocada nas mãos e na formulação da ministra Dilma Roussef, de ampla e decisiva atuação na área do governo. Como o País está com uma produção de quase 100 milhões de KW (ou, o que é a mesma coisa, 100 mil MW), a oferta de energia terá de avançar, segundo o evangelho de Tolmasquim, 130% no espaço de 23 anos. São, portanto, 130% de futuro que temos pela frente.

Os recursos consignados para o PAC, este ano, são apenas iniciais. A previsão básica era de 67 bilhões de reais, muito pouco em face do orçamento do País que é de 1 trilhão e 560 bilhões. Mas, pelo que se lê do balanço mensal publicado pela Secretaria do Tesouro, vão ficar em torno de 50 bilhões de reais. O avanço tem de ser maior. Maior e mais rápido, afinal, como escreveu Helio Silva sobre a proclamação da República, a história não espera o amanhecer.

O maior projeto atual para ampliar o parque energético é o Complexo de Rio Madeira, elaborado pelo consórcio Furnas-Odebrecht, há mais de três anos aguardando pelo licenciamento de parte do Ibama, assim como Becket colocou Godot na peça famosa de teatro, grande admiração de Gerald Thomas, que a dirigiu anos atrás. “Esperando Godot”, é o título. Esperando pelo Ibama e pelo Ministério do Meio Ambiente, encontram-se a ministra Dilma Roussef e o presidente de Furnas, José Pedro Rodrigues. Eles só, não. O País também. Rio Madeira é para gerar 6,4 milhões de KW. Qual parcela maior encontra-se programada no Brasil? Nenhuma.

Dizer que a energia termelétrica, a energia nuclear, todas as demais energias juntas poderiam substituir 6,4 milhões de KW não se ajusta à realidade. Pois, dos quase 100 milhões de KW de potência instalada hoje, 77% vêm da hidroeletricidade; 17% do óleo diesel e do gás natural (esse escasso em face da política da Bolívia) e apenas 3%, Angra 1 e Angra 2.

Totaliza 97%. Somadas todas as demais fontes alternativas de produção, solar, eólica, biodiesel, carvão, encontram-se os 3% finais. Qual a energia, portanto, capaz de substituir a hidrelétrica? Nenhuma. A produzida por diesel é altamente poluente. A originária do gás natural polui menos, mas polui, e, além do mais, no entender do professor Ziéli Dutra, que realiza detida pesquisa sobre o panorama energético global, o uso do gás natural significaria uma competição desnecessária maior com o consumo doméstico e o das frotas de táxi e ônibus de conexão.

Por tudo isso, o caminho flui pelas hidrelétricas, energia renovável e nada poluente. Este é o quadro nacional. Mas ele não se esgota com estes dados. É preciso capacidade humana para transformar o presente em avanço econômico. Esta característica é insubstituível. Como disse o general Montgomery, herói da segunda guerra, em seu livro de memórias, jamais se pode entregar o comando a pessoas não habilitadas. Estas – acrescentou – são capazes, isso sim, de destruir o próprio exército inglês. Se podem destruir o exército inglês, mais facilmente destroem o futuro.

Notas do editor _____________________

O artigo do jornalista Pedro do Couto vem reforçar em abono das preocupações expendidas pelo Dr.Jerson Kelman, como publicadas na edição de junho passado, e inclusive nesta, onde o ilustre e renomado cientista aborda a questão das hidroelétricas das quais o país tem extrema urgência, face o perigo de futuro e previsível apagão.

A questão demanda providências imediatas com o afastamento dos óbices que vêm sendo obstaculados pela burocracia de órgãos da própria administração pública.

Oxalá que os alertas que vêm sendo divulgados pela imprensa, como a do ilustre articulista que produziu a matéria abaixo, além da preocupação do responsável pela ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica –, consigam motivar os burocratas que emperram a liberação das tão necessárias e urgentes construções das respectivas usinas hidroelétricas.