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A maçã podre

5 de março de 2004

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A parábola de que uma maçã podre junto com as boas faz com que todas apodreçam se não forem separadas se aplica, e bem, à atitude do presidente Lula ao demitir de pronto e sem demora o corrupto assessor Waldomiro Diniz.

A providência enérgica do Presidente, ao extirpar do círculo palaciano o fruto podre, propiciou a oxigenação do núcleo governamental, restabelecendo o crédito, a confiança e a esperança dos seus eleitores, como vem sendo demonstrado nas pesquisas realizadas após o escândalo propiciado pelo malfadado assessor palaciano.

Portanto, com a determinação do afastamento abrupto do indigitado Waldomiro Diniz de cargo de confiança que exercia na subchefia da Casa Civil e, principalmente, pela determinação de apurar as escroquerias, o caso não recrudesceu pela falta de importância, mesmo porque o fato passou a ser caso de polícia e inquérito pelo Ministério Público.

Especificamente e pelas circunstâncias do indigitado Waldomiro Diniz trabalhar próximo ao ministro José Dirceu, com quem privou, como colaborador e assessor por muitos anos, não implica, em absoluto, que o ministro tivesse conhecimento das ações do malfazejo delinquente ou que conhecesse ou tolerasse suas falcatruas.

Entretanto, o fato está servindo politicamente como causa de acrimoniosa celeuma, servindo de pretexto para tentar enxovalhar, sem indícios de provas, um dignitário do governo, que pelo passado de lutas, sacrifício, renúncia, honestidade e atitudes éticas, merece consideração e respeito. É o caso específico do ministro José Dirceu, cujo passado e presente testemunham a dignidade de caráter e atuação em todos os episódios e ações em que participou.

É de lembrar as suas primeiras lutas quando estudante, a começar pela tentativa frustrada da realização, em Ibiúna, do Congresso da Une, onde iniciou a organização da luta dos estudantes contra a ditadura militar, que ocasionou sua prisão, tortura e exílio, valendo como incidente recordar o poema de Guilherme de Almeida, que se lhe aplica e está gravado no pátio da Faculdade de Direito de São Paulo, que fala do idealismo e dos propósitos líricos da juventude:

“Quando se sente bater no peito heroico a pancada, deixa-se a folha dobrada, enquanto se vai morrer!”

Querer, depois das providências de saneamento adotadas pelo governo, envolver a honorabilidade e o condicionamento ético de José Dirceu, olvidando o seu passado de honestidade, de propósitos dignificantes, parece-nos uma crueldade que não se justifica, a menos que se queira criar, através da mentira, infâmias e felonia, mais uma vítima, fabricando e transformando um inocente compulsivo em réu, fabricado pelas mentiras e sandices, com o intuito evidente de desmoralizá-lo e solapar as instituições.

Vamos lembrar que, em 1954, um homicídio praticado por um bandido, Caso Major Vaz, contratado por um imbecil e, que pelo fato de trabalhar na sede do governo, levantou celeumas e falsas acusações com que atingiram aquele que foi o maior estadista que o Brasil já teve: o presidente Getúlio Vargas, o qual, acossado pelas vilanias e infâmias que o envolveram, não se conformando com as traições, ingratidões, deslealdades, calúnias e safadezas que lhe assacaram, não resistindo às torpezas e mentiras imputadas, acabou praticando o suicídio.

O caso de Waldomiro Diniz está servindo de pretexto para provocar a desarmonia política e administrativa, porém é um fato que, dado os últimos acontecimentos no Congresso Nacional, está encerrado, tanto com a demissão como pela comprovação de sua exclusiva culpa nos inquéritos abertos na Polícia Federal e no Ministério Público.

… e acresce-se que a maçã podre foi atirada no lixo.