Edição 122
Brasil ilimitado
30 de setembro de 2010
Arnaldo Niskier Consultor de Educação da CNC, membro da ABL
Tivemos nossa atenção despertada para o artigo “Brasil ilimitado” da revista britânica “The Economist”, analisando a realidade da educação brasileira. Vale a pena tocar em seus pontos essenciais, como nos sugere o amigo Marcos Troyjo, com vistas às candidaturas presidenciais.
É preciso considerar que há 30 anos Brasil e Coreia do Sul tinham níveis similares de riqueza (ou pobreza). Hoje, pelos investimentos em educação, o tigre asiático é três vezes mais rico. Estamos sofrendo com a fraqueza da mão de obra qualificada e em 2008 cerca de 20% da nossa população não podia ler, escrever ou compreender um texto básico. Há um fraco preparo dos professores e taxas elevadas de ociosidade nas escolas, causa naturalmente, dizemos nós, da quase absoluta falta do tempo integral, sobretudo nas escolas públicas.
A revista critica a educação média, onde temos a segunda pior colocação do mundo, atrás somente de Moçambique, conforme dados do Banco Mundial. Quase todas as crianças dos 7 aos 14 anos de idade estão na escola, é certo, mas com um nível muito abaixo do recomendado pela Unesco. Com incríveis disparidades regionais, estamos atrás do Chile, do Peru e da Argentina. E volta o assunto do Pisa, promovido pela OECD: de 57 países, os adolescentes brasileiros de 15 anos de idade ocupam o 53º lugar em matemática, 52º em ciências e 48º em literatura. Reclama dos sistemas de educação, que classifica como “mixórdia descentralizada”, com responsabilidades espalhadas por vários níveis de governo.
Outra vergonha é a falsa promessa de informatização das escolas: “Os desperdícios são abundantes, pois computadores são deixados em suas caixas porque os professores não sabem utilizá-los. Podem falar sobre Piaget, mas não sabem organizar uma sala de aula.” Podemos ainda acrescentar a alta incidência de roubos nas escolas públicas, como tem acontecido no Rio de Janeiro.
Há esforços notáveis de empresas privadas, no sentido de promover as habilidades dos estudantes, mas os efeitos ainda são reduzidos. Não houve um grande progresso na chamada educação pós-secundária. Há universidades e escolas de negócios, como é o caso do Ibmec, que gozam de alto conceito, na formação de novos líderes, a fim de compensar a pobre infraestrutura, com suas incríveis deficiências, sobretudo em linguagem e conhecimento científico.
Assinalam-se padrões educacionais mais elevados na Ásia, mas poderíamos ser beneficiados pela qualidade dos gestores no Brasil, maior do que na China e na Índia. Executivos brasileiros destacam-se em várias empresas multinacionais, o que não deve ser apenas exceção. É preciso promover uma forte dose de cuidados especiais com as ciências e a matemática, na escola média. Enfim, valorizar a introdução de uma nova “arquitetura do ensino” no Brasil, para que se amplie extraordinariamente a sua capacidade de competição, no concerto internacional. São conselhos de quem nos vê de fora para dentro — e acredita em nossas virtualidades.