Edição 289
Camões: 500 anos e os Lusíadas
9 de setembro de 2024
Aurélio Wander Bastos Membro do Conselho Editorial / Professor Titular Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UniRio)
Estudar Luís Vaz de Camões (junho/1524) significa necessariamente comemorar os 500 anos do seu nascimento e conhecer Os Lusíadas (1572), cuja redação foi concluída em 1570. E ler Os Lusíadas significa conhecer a narrativa literária de Camões sobre a grande aventura marítima de Vasco da Gama (1469), que em 2024 completa 555 anos, pela Costa Leste africana rompendo o Cabo das Tormentas (depois da Boa Esperança), no Sul da África (no encontro das águas dos oceanos Atlântico e Pacífico). As embarcações alcançaram o Estreito de Madagascar no Oeste africano para depois avançar no sentido Nordeste, ultrapassando a Ilha de Calcutá, no Oceano Pacífico, no sentido das Índias Ocidentais, em busca de especiarias do Velho Mundo. Retornaram com as embarcações destroçadas pelo caminho até a Ilha da Madeira, chegando a Portugal como vitoriosos da grande conquista no exato ano em que nasceu Luís Vaz de Camões, coincidentemente o mesmo ano em que morreu o grande navegador que chegou às Índias (o Velho Mundo) pelo caminho marítimo.
Os resultados dessa expedição foram gravosos, mas significativamente vitoriosos a partir do momento em que fortaleceram a confiança de Portugal. Apesar do ônus, abriu-se a especial oportunidade de a esquadra de Pedro Álvares Cabral, a caminho das Índias em 1500, ter se afastado da Costa Oeste da África e, navegando a Leste, aportar no Brasil. Tal fato ficou historicamente conhecido como Descobrimento do Brasil (22 de abril de 1500), depois da franca abertura da Europa para navegações nos sentidos Nordeste e Leste por Américo Vespúcio, vindo o novo continente a ser reconhecido como Américas (do Sul, Central e do Norte).
Por outro lado, Luís Vaz de Camões, que tivera formação clássica, dominando o latim, estudou os clássicos em Coimbra e, muito especialmente, a história greco-romana e suas mitologias. Os grandes pensadores do mundo antigo como Homero (Ilíada e Odisseia), Virgílio (Eneida), Ovídio (Metamorfoses) e Dante (A Divina Comédia) influíram no desenvolvimento de sua argumentação na redação de Os Lusíadas, que, transcrevendo a primeira das grandes aventuras marítimas, encontrou nos formadores da cultura ocidental os elementos suficientes para estruturar sua obra.
A sua vida não se desenvolveu num continuum regular. O poeta chegou a produzir um volume significativo de poemas líricos, porém, seus últimos cantos, embora de grande beleza, não suplantaram o sempre marcante poema épico Os Lusíadas. Esses dois momentos da sua vida literária mostram exatamente a sua abertura intelectual para o classicismo lírico e o classicismo épico, muito difícil de ser identificada numa mesma personalidade, o que lhe dá papel especialíssimo na história da literatura ocidental. No entanto, da movimentação dos navegadores e em batalhas africanas, onde perdeu um olho, humilde e isoladamente faleceu em 1580.
Durante o período de fortalecimento marítimo de Portugal, ainda enfrentando as rebeliões mouras, o Rei Dom Sebastião faleceu e desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir, em Marrocos, em 14 de agosto de 1578. Sua morte provocou uma grande crise dinástica, devido ao seu papel central na formulação do sebastianismo como expressão da grandeza da dinastia portuguesa.
Com o desaparecimento de Dom Sebastião e, coincidentemente, com a morte de Camões, autor de Os Lusíadas e do sonho das grandes navegações, Portugal perdeu a sua pujança e a sua importância política e submergiu dominado pela União Ibérica, regida pela Dinastia Filipina da Espanha até 1638/1640, com a restauração dinástica da Dinastia dos Bragança, com a autonomia política de Portugal, com o Rei Dom João IV, e, mais tarde, em 1815, com Dom João VI criando o Reino Unido de Portugal.
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