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DDD: Desafio da Disrupção Digital

20 de fevereiro de 2018

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Os efeitos da 4ª Revolução Industrial já se fazem sentir e mudaram o mundo, a concepção que dele temos, o nosso modo de pensar e a nossa vida. Muitas outras mutações virão e, se hoje são imperceptíveis, salvo para os mais atentos, em algumas décadas propiciarão instigante revisão de nossa era.

Antenas sensíveis se antecipam e criam soluções miraculosas para problemas singelos e aparentemente insolúveis. Muitas outras dificuldades necessitam desse olhar criativo para superação com vistas a tornar o convívio mais fácil e harmônico.

A Educação é o grande motor da transformação. Ela está sendo desafiada a propiciar um futuro digno para gerações que enfrentarão os fantasmas da automação, do processo acelerado do machine learning, do espaço crescente de ocupação da inteligência artificial, que muitos acreditam competir e até vencer a faculdade humana.

A robotização é gradual. Já chegou na medicina, principalmente na elaboração de diagnósticos mais precisos e confiáveis. Aproxima-se de profissões tradicionais, como o motorista de caminhão. Avalia-se em 80% a possibilidade dessa atividade desaparecer, substituída pelo condutor autônomo. Até insuspeitas funções, como a de cozinheiro de fast food tendem a ser substituídas, com vantagens, pela automação.

No entanto, é preciso oferecer opções e veredas de sobrevivência. Assim como ocorre com diversas profissões, a escola necessita de reinvenção. A transmissão do conhecimento já não constitui monopólio de quem “sabe”, exercida com destino ao inculto. A sabedoria está disponível e nunca foi tão acessível.

No início do fenômeno Google, eram dez mil as consultas por dia. Hoje são 50 milhões a cada minuto. A humanidade está conectada. A instantaneidade na veiculação de informações – inclusive as fake news – propicia a disseminação planetária de tudo o que acontece em poucos instantes. Não existem mais os detentores da verdade absoluta.

A Educação tem de mirar outras habilidades, quais o autodomínio, o equilíbrio, a capacidade de adaptação a novas realidades, a flexibilidade, a facilidade da comunicação, a tolerância, o respeito à diferença e tudo o mais que hoje pode ser acolhido sob o abrangente rótulo de competências socioemocionais. Não foram todas as escolas que disso se aperceberam.

As gigantes que surpreenderam o mundo e hoje dominam esse mercado sedutor das tecnologias da informação e da comunicação – Google, Microsoft, Amazon, por exemplo – procuram acompanhar o que o protagonismo e a engenhosidade da juventude estão criando. Uma circuitaria neuronal digital produz contínuas inovações e isso é o presente convertendo-se em futuro.

Os educadores não podem perder a noção de que deles se reclama agora mais audácia e ousadia do que obediência à rigidez formal de estruturas carcomidas. Mais do mesmo já não funciona. Por isso é que a seleção de novos diretores para as Escolas Estaduais da gigantesca e complexa Rede Pública da Educação Paulista é uma experiência a que o Brasil presta atenção e acompanha com enorme interesse.

O diretor é a alma de uma escola. Empiricamente, isso é constatável quando se encontra uma unidade escolar em funcionamento regular, num clima de excelente convívio, a empatia a transbordar no relacionamento entre alunos e professores, direção e funcionários, equipe gestora e colegiados que atuam junto à escola. Submetidos às mesmas situações de dificuldade e carência das quais é inviável escapar, mercê da policrise em que o Brasil se viu mergulhado, subsistem como paradigmas de educação pública. O que não acontece em outros estabelecimentos em que a direção já não dispõe do mesmo entusiasmo, vocação e talento.

Os novos 1878 diretores recém nomeados passarão por contínua capacitação e monitoramento e deles se espera sejam “o sal da terra”, o “fermento na massa”, os artífices da nova educação pública bandeirante. Cada um deles deve ser o intérprete dos reclamos do alunado, capaz de detectar as exigências da sociedade e exercer sua autonomia criativa com a finalidade de fazer de sua escola o parâmetro de eficiência que esta era requer. A nova escola só terá destino glorioso se vier a ser uma usina de engenhosidade, formar um alunado apto a superar as quebras de paradigma ­impostas pela intensa disrupção digital, que torna obsoletas as práticas estáveis em que grande parte da ­estrutura ainda se encontra imersa. 

Gerir de forma eficiente, efetiva e eficaz é muito mais do que manter ordem e disciplina e registrar as ocorrências de uma comunidade dinâmica. Ninguém pode se satisfazer com o mero cumprimento do dever, mediante obrigatória oferta de conteúdos e observância estrita do calendário.

Os tempos querem mais. Ensinar a conviver com o inesperado, a oferecer respostas simples para os problemas crônicos com os quais se aprendeu a conviver, mas que uma inteligência desperta para a ousadia terá coragem de encarar.

Uma escola bem dirigida é aquela em que uma gestão idealista  souber criar um clima favorável ao desenvolvimento integral de cada partícipe dessa aventura apaixonante que é a edificação do amanhã.  Em que haja ambiência para o contraditório, em que o aluno tenha vez e voz e a gestão democrática ultrapasse o estágio do discurso para se converter numa prática rotineira e enriquecedora.

Sabe-se que a opção paulista não deixa de suscitar controvérsias. Sustenta-se que a direção em cargo de confiança propiciaria ao Estado se livrar do diretor que não respondesse à altura das exigências do cargo. Mas o Governo bandeirante preferiu confiar na elevada estatura ética e de comprometimento funcional de seu Magistério.

Aposta na responsabilidade dos novos diretores e acredita que esta verdadeira revolução na gestão da escola pública seja motor de propulsão para que nossos jovens superem os desafios da disrupção digital em pleno curso e venham a ser, com a imprescindível colaboração da família e da sociedade, todos autênticos vencedores.