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De cócoras, não mais!

31 de maio de 2006

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Há vinte anos estamos vivendo uma situação de baixo desenvolvimento econômico, quase nenhum aumento de renda e vergonhosos índices de desemprego. Nesse período, a taxa média anual de crescimento do PIB foi de 2,3% e o aumento da renda per capita dos brasileiros ficou abaixo de 1% ao ano. Para ser um pouco mais preciso, como a taxa anual de crescimento da população foi de 1.4%, a renda subiu 0.9% ao ano nas duas últimas décadas, o que nunca antes tinha sido registrado no Brasil. Significa que, nessa marcha, tem que esperar oitenta e quatro anos para dobrar a renda do brasileiro, quer dizer, mais de três gerações. Isso se compara com as décadas de 50 ou 60 e 70, quando a economia cresceu 6% a 7% na média anual e a renda per capita dobrava praticamente à cada dez , doze anos.

O Brasil nunca esteve numa condição tão dramática, assustadora mesmo, em matéria de desemprego da sua gente. É preciso insistir que isso foi sendo construído na medida em que sucessivas administrações não tiveram capacidade de praticar políticas que mantivessem a prioridade do crescimento, obrigação número um de qualquer economia dita “emergente”. No passado mais recente, o governo social democrata trocou o trabalho duro do construtor pela facilidade enganosa do empréstimo externo e com isso empurrou o país para a armadilha da dívida. Ao contrair a dívida construiu igualmente a enorme carga tributária que impede o setor privado de produzir mais e criar os empregos que a sociedade necessita.

Não deveria surpreender, portanto, a revelação de pesquisa cobrindo as 10 principais regiões metropolitanas do país, com mais de mil consultas, divulgada no último dia 20 de fevereiro na Folha de São Paulo, mostrando a tragédia do desemprego que atinge a população jovem: 27% dos homens e mulheres entre 15 e 24 anos estão desempregados nessas regiões. Significa que, de cada 4 jovens, 1 está sem emprego e, o que é ainda mais grave, não está trabalhando nem está na escola. Seria menos assustador se esses jovens estivessem numa escola, procurando aperfeiçoar seus conhecimentos para mais adiante pleitear a colocação no mercado de trabalho mas, na verdade, eles estão mesmo no caminho do desespero. O que podem eles fazer para mudar esta situação?

Os governos (e aí incluo executivo e legislativo, nos três níveis, federal, estadual e municipal) têm que readquirir consciência muito rápida a propósito da questão do desenvolvimento. Há milhares de pequenos movimentos que as administrações locais podem iniciar, sinalizando que ninguém deve ficar parado porque é apenas uma questão de tempo ser atropelado. Na esfera federal e nas estaduais o que se espera dos próximos governos (eleitos ou reeleitos) é que demonstrem capacidade de liderar as reformas que simplifiquem as relações de trabalho e que reduzam os embaraços para a criação e/ou extinção de empresas. É preciso aplainar os caminhos para o setor privado readquirir a confiança na retomada do desenvolvimento.

Ninguém mais agüenta o “nhem nhem nhem” que “é perigoso crescer”. Perigoso é continuar de cócoras…

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