Desconstruindo o preconceito na sociedade contemporânea

27 de novembro de 2015

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Um dos maiores e mais graves problemas em nossa sociedade desde os primórdios é o preconceito, é uma prática muito comum e causadora de diversos outros problemas, não apenas sociais, como também de saúde, provocando distúrbios, transtornos e até mesmo o suicídio.

O preconceito existe desde a idade medieval, onde viviam os bárbaros, como estes não eram de origem grega ou romana, eram escravizados e por isso  não eram considerados humanos. Na idade média, foram criados paradigmas religiosos entre cristãos e pagãos, os que não professavam o cristianismo eram tidos como infiéis e perseguidos pela igreja católica na época. Daí em diante, começamos a ver outras categorias de preconceito, como: étnico, religioso, sexual etc.

A educação tem sido comprovadamente, o caminho mais acertado para combater esse mal que sempre assolou a sociedade. E, buscando o conceito de educação, pode-se proceder a uma análise mais profunda da finalidade educativa e do conteúdo pedagógico das medidas aplicadas tanto para as crianças, adolescentes, bem como no meio em que se convive, seja social ou familiar, utilizando-se inteligentemente das teorias de Kant, Marx  e Paulo Freire.

Segundo Kant, somente o ser humano precisa ser educado, ou seja, a educação é característica exclusiva do gênero humano. “Por educação entende-se o cuidado de sua infância (a conservação, o trato), a disciplina e a instrução com a formação”.

A pedagogia kantiana é toda baseada na transmissão de conhecimento adquirido de geração em geração, ou seja, educar  significa repassar à geração seguinte toda a experiência adquirida ao longo da vida. Assim, segue-se uma sequencia, o indivíduo transmite automaticamente suas experiências e seus conhecimentos à geração seguinte, e assim sucessivamente.

Ainda na  educação kantiana, o homem deve alcançar quatro aspectos: a) tornar-se disciplinado, ou seja, controlar a animalidade humana; b) tornar-se culto; c) tornar-se prudente, pois isso lhe trará a civilidade; d) tornar-se moral, com finalidades que possam  ser aprovadas por todos e que possam ser as finalidades de cada um.

Para Marx a educação está voltada para conscientização da dignidade, ou seja, para que o trabalhador consiga viver dignamente e não seja explorado por aqueles que detêm os meios de produção, ainda sendo necessário conhecer todos os aspectos teóricos e práticos da produção. Daí sua preocupação em que todo homem precisa trabalhar para se tornar digno, assim como em fazer com que o ensino sirva para transformar  a mão de obra operária unilateral, fazendo com que o homem passe a  conhecer todos os aspectos do modo de produção e não apenas um deles, podendo no caso tornar-se posteriormente útil e necessário.

E, em conformidade com o pensamento de um dos maiores pedagogos de nosso país, Paulo Freire, educação nada mais é que um método capaz de educar para a liberdade, não existindo educador e educando, os seres humanos envolvidos na relação de educação aprenderiam um com o outro, sempre  tendo por base o objeto a ser conhecido.

Sendo essa a mais relevante teoria e sempre atual, com referencia ao conceito de educação, pois não significa veementemente alguém aprendendo e alguém ensinando, mas sim um processo, mediante o qual ninguém tenta impor ao outro um conhecimento que já vem pronto, mas sim que transforma.

Nesse tipo de educação, fala-se do conhecimento  construído a partir da relação estabelecida entre as pessoas que buscam no respeito à liberdade do seu semelhante, a razão para estabelecer o objeto e o modo como este será conhecido.

AUTO PRECONCEITO

Auto preconceito é um sentimento velado,  onde o individuo cria um mecanismo de defesa e de negação envolvendo, na maior parte das vezes, sua raça, seu cabelo, seu corpo, sua condição social.  O fato ocorre quando  uma “minoria” discrimina a própria minoria, achando que não pertence a ela. Note-se que o preconceito vem do próprio objeto discriminado. Quem nunca viu uma pessoa pobre discriminando uma pessoa por ser mais pobre ainda?

Algumas pessoas parecem sentir tanta vergonha daquilo que rejeita em si própria,  que ficam tentando se dissociar dela, contra todas as evidências. No caso de raça, podemos constatar claramente através de números, que mais da metade da população é negra, contudo, ainda há muita discriminação racial e auto discriminação.  Quando se pergunta a cor da pele, muitos respondem pardos, no entanto, quando é necessário registrar para ter algum beneficio, como no caso as cotas para concursos, são constatadas algumas discrepâncias, pois mais de 80% pede ingresso na faculdade através de cotas para negros.

Enfim, auto preconceito é como um jogo, para vencer, primeiramente, tem-se que parar com esses pensamentos incapacitantes que só ajudam a empurrar a pessoa mais para baixo.

EFEITOS DO PRECONCEITO E AS ACOES AFIRMATIVAS

Diversas são as formas de preconceito na sociedade, que pode ser encontrada facilmente, como por exemplo, contra a pessoa obesa, o negro, a pessoa magra demais,  homossexuais, a mulher,  a religião que a pessoa segue etc.

O preconceito nem sempre vem acompanhado de uma agressão, em sua maioria é revelado de maneira sutil, com discretos atos que comprovam a sua existência no subconsciente de quem convive com essa diferença.

São várias as consequências vislumbradas em vítimas de atos discriminatórios, dentre elas a depressão, a baixa autoestima, a agressividade, desvios comportamentais, formação debilitada da identidade, além de dificuldades na aprendizagem.

Também são variados os comportamentos expressivos de quem sofre o preconceito. As pessoas que sofrem desse mal passam a ter dificuldade de se relacionar, tem atitudes de competição, muitas vezes de demonstram agressivas e violentas,  têm comprometimento do senso crítico e ético, sentem-se  inferiores ou até mesmo se expressam de forma superiores, causando uma inadequação social.

As ações afirmativas têm minimizado gradativamente os efeitos do preconceito, principalmente com relação ao negro,  à mulher e a pessoa deficiente. A decisão de adoção de cotas adotas nas universidades e, agora, também nos tribunais, é uma construção cultural para acabar com a segregação.

A garantia de participação de cada gênero na politica, com reserva de no mínimo 30%, é uma vitória significante para o sexo feminino. Até as primeiras décadas do Século XX a mulher era apenas cidadão de segunda categoria.

Desde 1961 o legislador vem trabalhando a inclusão do deficiente no meio escolar, o que vem gradativamente tendo  maior atenção depois da Constituição Federal de 1988. O Decreto nº 3.956/2001 trouxe em seu bojo a reafirmação de que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, sendo que qualquer diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais será considerado como discriminação.

Desde 1991 é obrigatória a contratação de deficientes para trabalhar em empresas privadas e públicas. Inegável que essa legislação trás no seu bojo o sentimento de inclusão dessas pessoas que de certa forma sofrem discriminação.

É incontestável que o Brasil tem, constitucionalmente, o objetivo fundamental de construir uma sociedade livre, justa e solidária, assim como promover a redução das desigualdades, sem preconceito de raça ou qualquer outra forma de discriminação. Mas é inegável que os diversos preconceitos que assolam a nossa sociedade residem como uma linha que separa um do outro, qual seja o preto do branco, o gordo do magro, o homem da mulher etc.

A cota racial aplicada em concurso público, por exemplo, é uma ação que visa a integrar o negro à sociedade de dominação branca através da criação de políticas que favoreçam a igualdade de oportunidades entre brancos e negros.

Como forma de reparação dessa desigualdade ainda tão alarmante, recentemente, a Ordem dos Advogados do Brasil concedeu o titulo de advogado a LUIZ GAMA, depois de 133 anos da sua morte. O rábula, orador, jornalista e escritor brasileiro, nascido de mãe negra livre e pai branco, foi feito escravo, vendido pelo pai para pagar uma divida, estudioso, mas impedido de cursar direito por ser negro.

Esse titulo de reconhecimento é um meio de resgatar também a esperança na construção de um país melhor, de um mundo mais justo e também da luta que o povo negro vem travando há mais de 120 anos.

Portanto, as ações afirmativas assumem um significado muito especial e irrestrito, uma vez que assegura o acesso a posições sociais importantes a membros de grupos que, na ausência dessa medida, permaneceriam excluídos.

A FAMILIA E O PRECONCEITO

É indubitável que o grupo familiar exerce profunda e decisiva importância na estrutura do psiquismo da criança, sendo um alicerce para a formação da personalidade do adulto. O preconceito muitas vezes cria monstros que precisam de muita batalha para serem destruídos.

Uma família precisa ser marcada por um ambiente de paz, de conhecimento e tolerância, pois quando há presença do ódio e das contradições, se torna impossibilitada de enxergar os problemas e os fenômenos da vida social de forma mais abrangente, isto é, numa perspectiva histórica.

Pequenas atitudes podem mudar a forma de ver o que lhe parece diferente, como por exemplo, estimular os filhos a lerem, lendo a criança passará a entender o mundo. Os brinquedos que você disponibiliza para seus filhos podem ser um potencial incentivador do preconceito, a conduta do homem dentro de casa poderá ser um divisor de água entre ter ou não preconceito, ou seja, tudo isso são bases.

O preconceito reside apenas onde existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre características: físicas, hereditárias, traços de caráter, inteligência ou manifestações culturais, são superiores a outros.

Nelson Mandela já dizia que a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo. E aqui não se pode acreditar apenas na educação dada na escola, mas também àquela destinada da família.

Muitos pais se esforçam para dar a seus filhos o afeto e a atenção necessária, e os conhecimentos que precisam para serem pessoas de bem, com princípios e valores que os fazem assumir os desafios da vida com responsabilidade. Esses  valores devem levar os filhos, quando adultos, a serem pessoas solidárias, respeitosas e que ajudem a sociedade a ser melhor. Porém, isso só acontecerá se tiverem um bom desenvolvimento pessoal, com o apoio efetivo dos pais. Educar verdadeiramente é não deixar que os filhos cruzem a “linha vermelha”.

Lembremos, portanto, que somos mães e pais dos homens de amanhã.

CONCLUSÃO

O dia de combate ao preconceito deveria ser todo dia e em todas as horas, com nossas melhores ações. Irá existir preconceito enquanto existir ignorância, por isso a educação, o esclarecimento é o passo mais importante para desconstruí-lo.

O preconceito ainda encontra-se arraigado na sociedade, sendo atingidas todas as classes, idades e diferentes tipos de pessoas, sejam famosas ou anônimas.  Os obstáculos a uma educação que se volte contra os atos praticados por pessoas que resistam se adequar ao processo civilizatório certamente são muitos. Vivemos numa sociedade de uma cultura machista, homofóbica e racista, onde  as atitudes de certas pessoas matam todos os dias.

A dificuldade em lidar com o preconceito envolve o nosso processo (de) formativo e o quanto, desde muito cedo, fomos cegados pelas práticas preconceituosas. A começar pelo convívio familiar e os primeiros anos escolares. É na família e na escola que a criança é submetida às práticas preconceituosas e a um mundo de incompreensões que produzem crianças sádicas “herdeiras de um universo adulto cruelmente infantil.” (Frenette, 2000, p. 22).

Praticar condutas que rebatam o preconceito, como falar mais sobre as nossas experiências preconceituosas já vividas na família, na escola e em outros espaços onde ele se manifesta;  conversar sobre situações desconcertantes, as quais colocam em evidência o nosso preconceito mais recôndito, certamente ajudará no combate dessa problemática. Apesar das coisas não serem tão simples assim, pois nem todos estamos dispostos a entrar em contato com o nosso próprio preconceito ou nem mesmo nos admitimos preconceituosos.

“Unamo-nos por uma luta comum! Unamo-nos para exigir nossa completa participação e igualdade!!!

BIBLIOGRAFIA

BATISTA, Cristina Abranches Mota (Org) Inclusão dá trabalho. Belo Horizonte MG, 2000. p 132.

FRENETTE, Marco. Preto e branco: a importância da cor da pele. São Paulo: Publischer Brasil, 2000.

GREER, g., 1994. Mulher, Maturidade e Mudança. São Paulo, Augustus.

________. HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.