Edição

Glorificação ao Mérito

28 de fevereiro de 2007

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Há cerca de um ano, em seminário sobre estudos jurídicos para estudantes de direito, realizado na cidade de Campos dos Goytacazes, fui instado pelo organizador do evento a fazer a apresentação do Desembargador Sérgio Cavalieri Filho, convidado a  pronunciar uma aula sobre direito civil, tendo me desincumbido como transcrevo: “A minha incumbência é fazer a apresentação da personalidade que fará a próxima palestra. Antes, porém, desejo, como jornalista e velho contador de histórias, dizer-lhes algumas palavras.

Na minha adolescência, por certo, como todos vocês, tive meu primeiro ídolo e herói. Foi meu pai, que era um homem extraordinário e que, além de ter sido meu grande orientador moral e cultural, me obrigava a ler obras da literatura pátria e universal. Um desses livros tem sido até hoje a minha leitura mais freqüente, pelos ensinamentos e reflexões que me proporcionam. Trata-se da obra ‘Dom Quixote de La Mancha’, o cavaleiro da triste figura, do grande escritor espanhol Miguel Cervantes de Saavedra.

O conteúdo deste livro, cheio de aventuras cômicas, algumas trágicas e dramáticas, outras repletas de ensinamentos e sabedoria, de coragem, fé inabalável, pureza, amor puro, renúncia e determinação, lições de moralidade e, sobretudo, ética, fez com que o Dom Quixote se transformasse também no meu herói e ídolo.

As aventuras de Dom Quixote, cujas ações frutificam pelo exemplo e pela força espiritual que irradiam, o tornam um símbolo vivo e personificação das virtudes essenciais.

Entre as grandes lições que Quixote nos legou como exemplo é a de que cada vez que recusamos uma ação por desacreditarmos na possibilidade de remover os obstáculos à nossa vontade, agiremos contra o espírito de Dom Quixote; e cada vez que desafiarmos realizar o impossível, esperando que Deus nos incentive e ajude em nossas ações, encarnaremos Quixote.

O amor que Quixote dedicou a sua amada Dulcinéia de Traboso é também algo sublime, por ser um amor espiritual e fidelidade-fim que substancia o ideal do amor.

O saudoso jornalista, jurista emérito, homem público de escol e magnífico professor, Santiago Dantas, no brilhante e explícito ensaio ‘Quixote – Um Apolo da alma ocidental’, disse sobre o cavaleiro da triste figura, sintetizando a grande obra literária: ‘Dom Quixote nos transmite uma lição de purificação do mundo pelo heroísmo, não por um heroísmo hercúleo, mas por outro feito de fé intangível, pureza perfeita e de um atributo que a todos resume: o dom de si mesmo.’

A aspiração de Dom Quixote à aventura – seu desejo de renovar, no mundo povoado de injustiças de seu tempo, a ação purificadora da andante cavalaria e de operar essa ação pelo dom de si mesmo – é, em si, um dos mais altos anseios a que tendeu o espírito humano e a provação a que se sujeitou para cumprir um drama do tipo messiânico.

A apologia que faço à figura de Dom Quixote – com seus propósitos, suas ações e exemplos de coragem, dignidade, moralidade, ética, intrepidez e determinação – se coaduna e muito com a personalidade do Desembargador Sérgio Cavalieri Filho, porque esse excepcional e ilustre professor de direito, culto e renomado jurista, que, em seguida, falará aos jovens estudantes de Campos dos Goytacazes, pautou sua vida profissional na busca e na prática dos mesmos princípios e ideais que Miguel Cervantes de Saavedra reservou para as ações de Dom Quixote de La Mancha, que está imortalizado universalmente como a figura literária mais emblemática  na defesa da moralidade, da ética, da pureza, da coragem e determinação em favor dos desprotegidos e injustiçados.

Caso vocês queiram se mirar e fixar na figura de um novo ídolo, um novo herói, eu, com grande satisfação e orgulho, lhes aponto o apresentado Desembargador Sérgio Cavalieri Filho, que é merecedor da sua glorificação e mérito.”

Por tudo aqui já dito e pela brilhante atuação do Desembargador Sérgio Cavalieri Filho na presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que confirma nossa opinião sobre o ilustre magistrado, é que lhe dedicamos a capa e a principal reportagem deste número da Revista.