O Bom Embaixador

31 de dezembro de 2003

Compartilhe:

(Artigo originalmente publicado na edição 41, 12/2003)

Um ex e extrovertido embaixador, que foi ministro de Estado, apregoava que o “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, o que, além de constituir uma falácia e merecer sérias restrições, também implica e encontra limitação no próprio Estados Unidos, pois lá o que é bom para o país às vezes não é bom para o povo norte-americano – veja-se o ocorrido na Guerra do Vietnã e agora com os civis e soldados na Guerra do Iraque.

As restrições que o governo norte-americano faz e pratica contra o nosso comércio, com imposições restritivas às livres negociações de produtos brasileiros, além da ingerência econômica feita através do FMI, que inclusive impôs e nos obrigou a desfazer e entregar as multinacionais, quase de graça e ainda com financiamento do BNDES. Empresas altamente rendosas, como a Vale do Rio Doce, a quebra do monopólio do petróleo, a liberação do transporte marítimo, a liberação financeira para entidades internacionais, propiciando que o Brasil se torne cada dia mais dependente das finanças estrangeiras.

Parte do sentencioso artigo do mestre de Direito, Dr. Ives Gandra da Silva Martins, que tivemos a satisfação de publicar na 40ª edição de novembro p. passado, “Um país prepotente”, o arguto jurista expõe a nu aspectos da política comercial e opressora praticada às escâncaras pelo governo do presidente Bush, que merece transcrição:

“(…) com o Brasil, o presidente Americano não tem sido mais hábil. Não tolera a liderança brasileira. Por apresentar uma Nação mais rica e mais forte, não admite oposições. Quer a Alca livre para os produtos e serviços onde os EUA são competitivos e fechada para aqueles que não são. E, sabendo ser o Brasil metade da América Latina em nível de mercado e de tamanho, tudo faz para isolá-lo, retaliando-o com a concessão de benesses e promessas sedutoras para os países menores, que poderiam ser aliados brasileiros. É tão aético – como já demonstrou ser nas eleições que ganhou, apesar de ter tido menor número de votos que seu opositor, ou nos métodos condenáveis usados para a produção de inverdades que não comoveram a Onu – na condição das negociações que chegou a dizer a um de seus subordinados, que o Brasil só decepcionou por querer discutir, em uma “Alca abrangente” os escândalos de subsídios agrícolas americanos e suas imorais sobretaxas que incidem sobre produtos de países considerados “não colaboradores (…)”

As viagens ao exterior e as aparições do presidente Lula, perante os organismos internacionais, têm trazido incontáveis benefícios para o Brasil.

Sempre acompanhado dos melhores nomes do Itamaraty e em especial do nosso brilhante chanceler Celso Amorim, tem colhido ótimas oportunidades nas relações internacionais, demonstrando seus dotes de bom negociador.

Se o Presidente tem conseguido manter sua popularidade entre o povo, também tem conseguido alcançar e melhorar o conceito do Brasil perante as grandes nações, tornando-se assim, além de respeitado Chefe de Estado, a conceituação de bom negociador, ou melhor, um bom embaixador.

Portanto, está na hora – em que o Brasil se tornou, graças aos esforços e trabalho de nossos agricultores e pecuaristas, o maior produtor mundial de soja e carne –, de partir realmente para acabar com a fome e a miséria, pois, é inadmissível que em nosso país, onde abunda farta alimentação, parte da sofrida população se ressinta de sua falta e passe fome.

Está na hora, também, aproveitando a popularidade e conceito adquirido perante o mundo, que o presidente Lula tente conseguir uma moratória consentida perante as entidades financeiras internacionais, no mínimo de dois anos, a fim de que, com o volume dos 300 bilhões de dólares dos pagamentos de juros, possa efetivamente alavancar a economia interna e preparar o país para o pleno desenvolvimento social e erradicar definitivamente a miséria e a fome da parte ponderável da população.

Indiscutivelmente, o presidente Lula tem todas as condições pessoais e carismáticas para consegui-lo, porque além do seu firme propósito e coragem demonstrados para libertar a população sofrida da fome e da miséria, também tem condições de apoio popular e político para mudar e melhorar as condições sociais, levando o saneamento básico, a educação e saúde para todos os brasileiros.

Oxalá os sonhos do presidente Lula e as esperanças do povo se tornem realidade. Depende do presidente.