O Governo Getúlio Vargas

5 de agosto de 2004

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Discurso analisando o Governo do ex-presidente – 1954

“Passado o túmulo das paixões e superada a luta pré-eleitoral dos interesses políticos, venho falar-vos de Getúlio Vargas e dos acontecimentos que mancharam os idos de agosto de traição, de sangue e de  tragédia.

Pretendo analisar as trágicas ocorrências que culminaram no sacrifício do glorioso Presidente, de maneira  a ressaltar a verdade, escoimada do entulho de mentiras e infâmias, com que propositadamente oculta pela imprensa facciosa e inimiga jurada de Getúlio Vargas e de seu programa de governo.

A mobilização da imprensa e particularmente de certa imprensa do Rio de Janeiro contra Getúlio Vargas teve início antes mesmo do seu empossamento no governo.

Mas não descansaram os seus adversários. Não se limitaram à ação legítima da oposição democrática. Enveredaram desde o primeiro dia de sua investidura, pelo caminho da injúria e do insulto.

Quando a figura do Presidente da República mais se agigantava no meio da sanha odienta de seus inimigos, eis que a fatalidade lhes oferece o esperado butim, consubstancado no lamentável atentado em que pereceu um oficial das nossas  Forças Armadas . Figuras  corvinas de grandes líderes não deixaram um só minuto a alça do esquife mortuário do infortunato oficial, na sofreguidão mal contida do assalto ao poder.

A sinceridade do grande Presidente é atestada pelo acervo gigantesco de realizações empreendidas no sentido do cumprimento de seus dois propósitos supremos: toda a legislação trabalhista que emancipou o nosso operariado e todo o monumental edifício da previdência social estão aí para comprovar a constancia dos esforços de Vargas em promover o bem-estar das classes menos favorecidas pela fortuna.

Volta Redonda, a espantosa industrialização de São Paulo, a Petrobrás, as colossais obras das usinas elétricas também testemunham a sua convicção nacionalista. Os progressos na siderurgia, a afirmação das espantosas qualidades técnicas do nosso operário, foram a advertência que pôs de sobreaviso os trustes interessados em nos manter no regime de feitoria de dinheiros alheios. A hidroelétrica de Paulo Afonso, em vias de conclusão, agrava as preocupações fundadas dos que temiam ver-nos alçados à categoria das nações economicamente independentes. A Petrobrás com todas as possibilidades de imediato funcionamento e de sucesso, lançou o pânico nos domínios da grande finança imperialista. A elaboração do formidável plano nacional de eletrificação, consubstanciado na Eletrobrás, percebeu o trust que não  era mais possível qualquer hesitação. Lançou-se à luta, com todos os  fabulosos recursos das suas arcas pejadas do dinheiro sorvido das nações  subdesenvolvidas, para destruir no Brasil um governo que era responsável pela audácia nacional de querer livrar-se dos grilhões do capitalismo internacional. A fixação dos novos níveis de salários mínimos foi o elemento catalisador de toda a tempestade de ódio que se formava nos horizontes capitalistas. Assinado o decreto que  veio assegurar ao nosso trabalhador apenas o indispensável para não morrer de fome, Getúlio Vargas assinou a sua sentença de morte.

A imprensa conservadora também, ligada aos interesses dos grandes capitalistas nacionais, amalgamada no ódio a Getúlio Vargas e ao seu programa de governo, eis a máquina de agitação da opinião e de infiltração no seio das forças Armadas. Por de trás de tudo isso e acima de tudo isso, agia um grupo de notórios representantes do capital estrangeiro, de ricaços interessados em salvaguardar as suas gordas fontes de lucros em divisas. Esses foram os verdadeiros autores da conspiração e os principais responsáveis pela morte de Vargas.

Nos rincões da fronteira remota de São Borja, no seio da terra generosa que o viu nascer, Getúlio Vargas repousará em paz, na tranqüilidade de não ter subido em vão os degraus das aras da Pátria para o Supremo sacrifício. Em verdade, será a sua morte o marco da redenção de todo um grande povo”.