Edição 269
Qual é o melhor planejamento para o futuro da saúde no Brasil?
2 de janeiro de 2023
Alessandro Acayaba de Toledo Presidente da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios Membro do Observatório Nacional da Saúde
O envelhecimento da população, as doenças crônicas e o exercício efetivo da atenção primária à saúde são alguns dos muitos desafios para o setor de saúde. E a pergunta que muitos de nós fazemos é: como colocar em prática um sistema de saúde mais sustentável? Não podemos negar que o primeiro semestre de 2022 trouxe resultados mais positivos para a nossa economia, com um avanço até então do Produto Interno Bruto (PIB) em 3%, e a retomada dos serviços presenciais foi um grande estímulo para a atividade econômica. O número de brasileiros ocupados (99,3 milhões de pessoas) cresceu 1% no último trimestre e 6,8% no semestre. A manutenção da população ocupada tem arrefecido o desemprego pelo terceiro trimestre seguido.
No segmento de saúde, as oportunidades de emprego continuam aquecidas. No último trimestre, o setor atingiu a marca de 4,77 milhões, de acordo com o relatório do Emprego na Cadeia Produtiva do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). No recorte foram considerados os setores: público, privado, empregos diretos e indiretos.
Para esse ano, o orçamento previsto para a área de saúde pública será o mais baixo desde 2014. Em valores corrigidos pela inflação, o novo governo terá à disposição R$ 146,4 bilhões, de acordo com informações da nota técnica da Consultoria de Orçamento do Senado e da Câmara dos Deputados. As despesas primárias no setor atingiram o patamar de R$ 203,8 bilhões, no auge da pandemia e com as cirurgias represadas. Reforçando ainda mais a importância da saúde suplementar na assistência à saúde.
O recente estudo Conta-Satélite de Saúde, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que enquanto cresce a participação das famílias e das instituições sem fins lucrativos a serviço das famílias com saúde, a participação do governo permanece estável. A proporção de gastos das famílias com saúde é direcionada aos serviços privados. O que representa 5,8% do PIB (R$ 427,8 milhões), enquanto 3,8% (283,6 bilhões) foram gastos pelo governo.
As despesas com saúde no Brasil, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), não se diferencia muito da média de gastos de alguns países, 8,8%, na proporção do PIB, mas é importante destacar que apenas no País o acesso à saúde é gratuito e estendido a toda população.
A gestão pública de saúde em outros países tem particularidades, mas nenhum deles oferece um modelo de atendimento universal. Algumas ações poderiam ser absorvidas no País para melhorar a eficiência de nosso atendimento: (i) a remuneração baseada no atendimento médico, com foco na assistência dos pacientes, do National Health Service (NHS), do governo inglês; (ii) o aumento do volume de investimentos em tecnologia para fazer uso da inteligência artificial como suporte para o diagnóstico e consultas on-line, do governo canadense; e (iii) a prevenção, como no governo chileno, com uma assistência voltada ao atendimento precoce e às doenças associadas à idade.
Em outubro, conforme divulgação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o número de beneficiários de planos de saúde ultrapassou a marca de 50,2 milhões de pessoas, a maior alta desde 2014. O aumento é confirmado na Pesquisa da Associação Nacional de Administração de Benefícios (ANAB) sobre Planos de Saúde, que aponta que mais de 80% dos brasileiros estão preocupados com o acesso aos tratamentos de saúde.
A manutenção do emprego tem refletido no aumento dos planos coletivos empresariais, que tiveram um crescimento de 3,2% de janeiro a setembro deste ano.
O dinamismo do setor, de acordo com resultados do estudo do Núcleo de Saúde da SP4 Comunicação, entre as 20 maiores operadoras de saúde, aponta uma nova tendência no mercado de saúde: M&A. Um movimento que contribuiu para o crescimento inorgânico das operadoras de saúde, principalmente entre as que possuem hospitais próprios, que cresceram 21% em número de vidas cobertas. O mesmo levantamento traz um índice que merece destaque: entre as modalidades de operadora, o segmento medicina de grupo foi o que mais cresceu em beneficiários, com um aumento de 25,7%.
Na divulgação dos dados econômico-financeiros da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – janeiro a setembro – o setor registrou resultado líquido negativo de R$ 2,5 bilhões e aumento da sinistralidade no patamar de 90% no terceiro trimestre. Uma série negativa histórica que perdura os últimos seis trimestres.
A saúde privada no Brasil exerce um importante papel não só para economia, mas para cobertura assistencial dos brasileiros. As mudanças que estão previstas para o setor, como o novo caráter para a taxatividade na cobertura assistencial, deverão corroborar ainda mais com as incertezas da saúde neste ano, com um orçamento menor para o Sistema Único de Saúde (SUS) e a imprevisibilidade de custos da saúde suplementar.