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Que país é este?

31 de dezembro de 2005

Orpheu Santos Salles Editor

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Auriverde pendão da minha terra,
Que a brisa do Brasil beija a balança,
Estandarte que a Luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança…
 
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus…
Castro Alves

O nosso condoreiro maior, ao produzir a terrificante tragédia do Navio Negreiro, paradoxalmente, produziu contrastes espetaculares com as estrofes acima para chegar ao horror da descrição do que ocorria no convés e no porão da malfadada nau, que trazia da África os infelizes escravos.

Hoje, passados mais de 100 anos do dramático poema do vate baiano, pouco mudou no País. Com ufania, nos tornamos o maior produtor mundial de carne bovina, de frango e de soja, e, entretanto, todos os anos milhões de brasileiros morrem de fome, e milhares de adolescentes trabalham para o tráfico de drogas, porque não tem escolas e empregos e já perderam a esperança em dias melhores.

Temos na Amazônia, as maiores florestas do mundo e, no entanto, a cada ano, milhões de hectares das matas são derrubadas, numa ação sem precedentes, enquanto a administração pública se queda omissa e criminosamente ausente. E por incrível, em um só local da floresta, foi devastada uma área maior que o Estado do Sergipe, e nada aconteceu aos criminosos iconoclastas.

Igualmente, temos o maior rebanho de gado do mundo, e já há uma década  tínhamos erradicado a aftosa, através de combate incessante dessa doença bovina, mas  neste ano, apesar de no orçamento constar uma verba de R$ 143 milhões destinada ao controle sanitário nas áreas de risco, principalmente nas regiões fronteiriças, o poder público aplicou menos de 2% dessa verba e, inacreditavelmente, ninguém foi responsabilizado, processado ou preso. Entretanto, este infausto, previsível e regressivo acontecimento já está causando um prejuízo na exportação de cerca de R$ 1 bilhão, e mais, propiciando a recusa geral nos países importadores da carne produzida no Brasil, o que poderá conseqüentemente perdurar para os anos vindouros, destruindo o trabalho e as esperanças dos nossos pecuaristas.

Em 1964, quando os militares derrubaram o governo do presidente João Goulart, a dívida nacional não atingia a US$ 3 bilhões.

Os generais ao saírem do governo, se curvando à volta da democracia, depois de 20 anos de ditadura, com prisões, torturas, exílios e mortes, deixaram o país com uma dívida no patamar de US$ 70 bilhões.

Nestes 20 anos de democracia, com os governos Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique, a herança da dívida interna beira R$ 1 trilhão e a dívida externa US$ 300 bilhões, inclusive, com a venda indevida e inexplicável da quase unanimidade das empresas estatais, sobrando apenas o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobrás, esta salva graças a firme oposição do Estado Maior do Exército.

Com a entrega absurda produzida com a privatização das empresas estatais, cujo resultado financeiro negativo já está definitivamente comprovado, como o caso da Companhia Vale do Rio Doce, que constitui verdadeiro crime de lesa-pátria, exigindo uma necessária e minuciosa apuração para verificar as denúncias formuladas da existência de tráfico de influência e corrupção na licitação procedida, o que deve ser apurado pelo Ministério Público e encaminhado à Justiça com pedido de anulação e reversão ao patrimônio nacional, com aplicação de sanções aos aproveitadores da delinqüência armada contra a Nação.

Depois do descalabro produzido pelos governos passados, que deixaram as finanças do país em frangalhos e, conseqüentemente, a Nação entregue a mercê da sanha dos vorazes credores internacionais, veio o atual governo do sindicalista Lula que se constituía em esperança da Nação, com o recebimento de 55 milhões de votos.

Que desilusão!

Tudo que foi prometido no seu passado de candidato se constituiu na mais deslavada falsidade, mentiras e patranhas, e o pior, trouxe o desencanto e a frustração geral. Até aqueles que não votaram nele, tiveram e alimentaram algumas esperanças. Tudo em vão.

E é dentro desse quadro, desolador e extremamente cruel, que nos encontramos.

O Governo é ruim e péssimo. O Congresso, apegado ao corporativismo, demonstra a insensibilidade em face da realidade e da opinião pública, que espera e exige providências, mas desiludida se queda absolutamente descrente do Legislativo, que compartilha em gênero, número e grau com o despreparo e incompetência do Governo.

O que resta de esperança é pouco. Somente o Judiciário, a Ordem dos Advogados do Brasil, o Ministério Público,  a Associação Brasileira de Imprensa-ABI e algumas entidades de classe, ainda se posicionam em favor da nacionalidade, mas entre todos que defendem os interesses da Nação, existem aqueles que se assemelham na prática de inconfessáveis atitudes, aos malfadados da história pátria, como Calabar e Silvério dos Reis, que não titubeiam em negociar e vender os bens da pátria.

Os desmandos e atitudes criminosas que estão acontecendo na Amazônia são gritantes, diante do entendimento que o Brasil está dando ao mundo, da irresponsabilidade no zelo e obrigação de defender essa nossa incomensurável riqueza, fornecendo argumento àqueles que a consideram patrimônio da humanidade.

É hora de se prevenir das ameaças que pairam sobre a Amazônia. As ameaças estão latentes. A avareza e a cupidez internacional, em especial dos Estados Unidos sobre a hegemonia da Amazônia, estão sendo discutidas e, portanto, cobiçadas. Existe, assim, real perigo na tentativa de sua internacionalização.

Os alertas dos nossos conselheiros editoriais, senador Bernardo Cabral e professor Ives Gandra Martins, são preocupantes.

Que país é este, que ante os fatos que acontecem diuturnamente, se queda impassível e silente, eqüidistante e indiferente.

Desperta Brasil!