Furnas investe em melhorias técnicas, operacionais e gerenciais para garantir o pleno desempenho do complexo sistema por onde passam 40% da energia consumida no País. Em entrevista, o engenheiro Flavio Decat, diretor-presidente da companhia, revela o que vem sendo feito em sua gestão.
Há pouco mais de dois anos, o mineiro Flavio Decat de Moura assumiu o cargo de diretor-presidente de Furnas, a sociedade anônima de capital fechado, que tem como principal acionista a Centrais Elétricas Brasileiras S/A (Eletrobras), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. A missão do executivo é administrar um complexo sistema de geração, transmissão e comercialização de energia elétrica, por onde passam mais de 40% de toda a energia consumida no Brasil.
Sediado no Rio de Janeiro, o sistema Furnas abrange 15 usinas hidrelétricas, duas termelétricas, aproximadamente 20 mil quilômetros de linhas de transmissão e 52 subestações. Sua origem está no Decreto Federal nº 41.066, de 1957, que criou a empresa Central Elétrica de Furnas, com a meta de operar a primeira usina hidrelétrica de grande porte do Brasil. Além da geração hídrica e termelétrica, Furnas investe hoje em fontes alternativas de energia: em parceria com outros grupos empresariais serão construídos 17 parques eólicos no Ceará e Rio Grande do Norte.
Nesta entrevista, Decat, que é formado em engenharia elétrica e eletrônica, pela Universidade Federal de Minas Gerais, fala sobre sua gestão à frente da empresa onde atua há mais de 40 anos, quando ingressou como engenheiro de manutenção.
Revista Justiça & Cidadania – Quando o senhor assumiu a presidência de Furnas afirmou que daria ênfase à prática da governança correta, eficiente e com transparência absoluta. Havia esta necessidade naquele momento?
Flavio Decat – Furnas demandava ações consistentes de governança corporativa para ajustar-se ao novo ambiente setorial, de maneira a melhorar seu foco na busca pela eficiência econômica e maximização de valor para os acionistas. A empresa necessitava assumir e desempenhar suas responsabilidades de operadora e mantenedora de ativos, além de crescer, principalmente, por meio de parcerias nos negócios de geração e transmissão de energia elétrica.
JC – E o que destacaria como principais mudanças e resultados nesses dois anos?
FD – Entre as principais mudanças para ajustar a governança corporativa e a gestão dos negócios estão a criação da diretoria de Planejamento Gestão de Negócios e de Participações e a diretoria de Expansão, com o objetivo de estruturar atividades de suporte à expansão e ao crescimento da empresa, englobando o planejamento estratégico, a prospecção de mercado, o desenvolvimento de parcerias, entre outros. Também destaco o convênio com o BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] para contratação de consultoria de reconhecimento internacional, com foco na elaboração de uma estrutura organizacional de empresa de referência; a criação e a reestruturação de comitês de apoio à diretoria executiva, a fim de ampliar e melhorar o poder de influência do suporte técnico especializado nas tomadas de decisões da alta direção; e a criação da superintendência de Riscos Corporativos e Controle Internos, com a função de monitorar e mitigar os principais eventos de riscos.
JC – Quais os principais reflexos da implementação dessas diretorias?
FD – A criação de ambas proporcionou grande melhoria no funcionamento da empresa e de seus negócios, tais como a aglutinação de funções anteriormente dispersas, com ganhos expressivos na prospecção, avaliação e gestão de negócios e parcerias, no gerenciamento de riscos, do conhecimento, da pesquisa, desenvolvimento e inovação, na formulação e operacionalização da estratégia corporativa e na comercialização dos serviços de produção e transmissão de energia elétrica. Neste movimento inicial, a estrutura organizacional de Furnas já foi “enxugada” com a redução de 43 gerências e respectivas funções gratificadas em vários níveis, resultando em significativa economia.
Também houve melhoras no alinhamento primordial entre os serviços de engenharia e a atividade de expansão, o que tem contribuído substancialmente para a consciência de que o novo ambiente do setor elétrico aponta para um futuro em que Furnas se envolverá, basicamente, com ações de operação e manutenção de ativos existentes, com o seu crescimento e com a gestão de parcerias nos negócios de geração e transmissão de energia elétrica.
JC – Também quando assumiu o cargo, o senhor afirmou que a gestão de Furnas nos empreendimentos em parceria seria feita a partir de novas regras de governança societária. Na prática, o que significa isso?
FD – Um foco mais apurado na gestão de participações tem propiciado a Furnas maior controle sobre a evolução dos empreendimentos em construção e mais efetividade na formatação de políticas de atuação e representação nos diversos conselhos das Sociedades de Propósito Específico [SPEs]. Também tem possibilitado melhora no desenvolvimento de processos internos de suporte – essenciais ao fortalecimento da governança, e controle dos planos de negócios, metas, resultados e da imagem da empresa.
Furnas passou a se valer também da “Chamada Pública de Novas Oportunidades de Negócios”, com o objetivo de selecionar potenciais parceiros – detentores de capital, direitos, projetos e/ou oportunidades de negócio na área de energia, que a considerem parceira estratégica e se alinhem ao seu referencial de missão, visão, valores e governança empresarial, com vistas à formação de seu portfólio de projetos para participação imediata ou futura. Os interessados em constituir parcerias devem obrigatoriamente se cadastrar na Chamada Pública, e sempre que houver oportunidade de negócio, Furnas encaminha às empresas interessadas cadastradas e que atendam às premissas, informações adicionais e solicitação da documentação necessária, bem como os critérios objetivos (técnicos, comerciais, jurídicos e estratégicos) a serem adotados na seleção da parceria, tornando o processo isonômico, legal e transparente.
Foram estabelecidas, ainda, normas e critérios para a governança em parcerias nos negócios de geração e transmissão, inclusive no que se refere à coordenação do envolvimento das áreas internas de Furnas em todo o processo, desde a análise técnica, a seleção de parceiros, a estruturação societária e financeira, a elaboração de instrumentos contratuais e societários, a elaboração e coordenação da aprovação de planos de negócio e a coordenação das atividades das SPEs constituídas até a assinatura dos contratos de concessão ou de comercialização de energia.
JC – Também foi implementado o Plano Geral de Empreendimentos de Transmissão em Instalações em Operação (PGET). Gostaria que o senhor comentasse os principais objetivos e resultados até o momento de tal estratégia.
FD – Furnas investiu em 2012 cerca de R$ 280 milhões no PGET, responsável por colocar em operação as melhorias e reforços nas linhas de transmissão e subestações da empresa. Foram realizadas 33 obras de modernização e reforço em 13 subestações importantes, localizadas em Brasília, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Também foram energizados 817 novos equipamentos, em operações que demandaram 418 desligamentos programados.
O esforço tem por objetivo aumentar a disponibilidade, flexibilidade e a confiabilidade do sistema de transmissão de Furnas, considerado a espinha dorsal do Sistema Interligado Nacional. A previsão de investimento do PGET para esse ano é de R$ 400 milhões.
JC – A companhia encampou um processo de modernização que inclui pesquisas sobre energias alternativas. Como estão as ações da companhia neste escopo atualmente?
FD – Furnas está construindo, em parceria com a iniciativa privada, 17 parques eólicos nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, num total de 502 MW instalados, que correspondem a cerca de 1.660.000 MWh/ano, energia suficiente para abastecer 554 mil residências pelo período de 12 meses.
Na área de energia solar, serão aplicados cerca de R$ 20 milhões em projeto de pesquisa e desenvolvimento para a inserção da geração solar fotovoltaica na matriz energética brasileira, em atendimento à Chamada Estratégica 013/2011 da Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]. O aporte é parte do investimento previsto de R$ 48,2 milhões para o projeto, do qual participam outras 20 empresas, entre cooperadas e executoras. Fazem parte dos estudos a experimentação de diferentes arranjos tecnológicos em solo brasileiro e a construção de uma usina fotovoltaica no norte de Minas Gerais, com capacidade instalada de 3MW.
Além disso, a empresa participa em parceria com o Coppe/UFRJ [instituto de pesquisas vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro] de estudos realizados na usina de ondas do distrito de Pecém, no Ceará, primeira usina do gênero na América Latina, que gera energia através das ondas do mar.
JC – Quais são os planos de expansão da companhia para os próximos anos, ou ao menos até 2014, quando deverá ser encerrado seu mandato como presidente de Furnas?
FD – Em alinhamento com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, Furnas tem como objetivo primordial o crescimento e a expansão de seus negócios, seja por investimento exclusivo ou em parceria com a iniciativa privada. Hoje, a empresa está à frente de quatro novos empreendimentos de geração hidráulica, que agregarão 5.859 MW ao sistema elétrico brasileiro, entre os quais Santo Antônio e Teles Pires; 28 linhas de transmissão, que acrescentarão mais de quatro mil quilômetros de linhas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e 15 subestações. E, ainda, os mencionados parques eólicos, conquistados em leilões, em parceria com a iniciativa privada.
JC – Recentemente ocorreram incidentes que interromperam o abastecimento de energia em várias regiões do País. Embora não tenham relação com as operações de Furnas, gostaria de saber quais os planos de prevenção da companhia neste sentido?
FD – Com o objetivo de aumentar a robustez e o desempenho operacional do Sistema Furnas, foram retomados os investimentos em melhorias e reforços no sistema de transmissão e modernização do parque gerador. São 152 empreendimentos em 49 subestações e nove linhas de transmissão, que contemplam a troca de 79.632 equipamentos e componentes, envolvendo investimentos da ordem de R$ 1,5 bilhão entre 2011 e 2015.
Estas obras foram consolidadas no PGET, cuja execução baseia-se em estrutura de gestão estratégica e integrada e em esquema matricial através de gestores de projeto, de modo a garantir sua qualidade, o cumprimento de prazos e os custos estabelecidos. Na mesma linha, o Plano Geral de Empreendimentos de Geração em Instalações em Operação (PGER) trata da conclusão das modernizações das usinas hidrelétricas de Furnas – com investimento total de R$ 634 milhões e conclusão prevista para 2014 – e Luiz Carlos Barreto de Carvalho – investimento total de R$ 568 milhões, praticamente concluída.
As medidas e melhorias implementadas até o momento já refletem na recuperação do desempenho operacional de Furnas. Assim, o indicador de robustez, que relaciona as perturbações no sistema com o suprimento às cargas, avaliando a capacidade da rede básica em suportar contingências sem causar interrupção de fornecimento de energia elétrica aos consumidores, já se situa próximo a 100%.