Evento faz parte de estratégia para aproximar a Corte da sociedade. Casa Justiça & Cidadania apoiou o projeto e recebeu criadores de conteúdo para um momento de diálogo com o presidente do Supremo
O Supremo Tribunal Federal esteve diferente por dois dias no mês de agosto. O Tribunal abriu as portas para que 25 influenciadores digitais, que juntos têm mais de 33 milhões de seguidores, conhecessem as instalações e aprendessem mais sobre o funcionamento da Corte.
Entre os criadores de conteúdos, muita diversidade. O público-alvo deles envolve grupos religiosos, movimentos sociais de ações para inclusão racial, cientistas, influenciadores da área de moda, luta contra violência doméstica, LGBTQIA+, pessoas com deficiência, entre outros, e os conteúdos são postados no Tik Tok, X, Instagram e YouTube. A estratégia de reunir o grupo faz parte de ações da Presidência do ministro Luís Roberto Barroso para aproximar o STF da sociedade e a ideia foi desmistificar a atuação dos ministros e da Corte, que é tão visada e desperta ódios e paixões típicos de uma torcida de futebol.
“Se alguns anos atrás alguém dissesse: ‘o senhor vai sentar-se pela manhã e conversar com influencer’, eu diria não. Isso não faz parte do meu physique du rôle”, brincou o vice-presidente do STF, Edson Fachin, arrancando risadas da plateia. O ministro, que é reservado e de poucas palavras fora dos autos, se classificou como um “dinossauro cibernético”. Mas explicou a vantagem da troca de experiências. “Esse tipo de prosa acaba sendo interessante, porque nós também aprendemos que há um deslocamento dos lugares onde o conhecimento se transmite. Esse deslocamento tem se operado com uma velocidade extraordinária e, portanto, se nós não tratarmos com devido respeito esses canais que deslocaram a transmissão da informação e do conhecimento, nós podemos de fato ficar um pouco à margem daquilo que se demanda para prestar a devida informação. Esta é a chave: prestar a devida informação e, para prestar a devida informação, não tem atalho.”
Em dois dias, os influenciadores participaram de rodas de conversas com ministros, acompanharam a sessão de julgamentos, fizeram um tour pela sede da Corte e viram rastros da destruição deixados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023. O evento foi batizado de Leis e Likes, uma parceria do STF com o Redes Cordiais e com o Instituto Vero, e contou com apoio da Casa Justiça & Cidadania, que recebeu os criadores para um momento de aproximação e diálogo com o presidente do Supremo.
Nas conversas com os ministros, foram tratados diversos temas, desde o motivo de o Supremo julgar pessoas sem foro privilegiado pelos atos golpistas contra os Poderes, regulação das redes sociais, discurso de ódio, até explicações sobre quais são as atribuições do STF.
Barroso foi desafiado a explicar o Supremo para um “camponês medieval”: “Existe no mundo um conjunto de valores que fazem parte da vida civilizada: fazer o bem, buscar a verdade possível e um desses valores é a justiça. Todas as pessoas têm sentimento inato do que é a justiça. Se alguém assistir um adulto espancando uma criança, aquilo causa instintivamente repulsa”, disse.
“Porém, os homens em estado de natureza, sobretudo, têm vontade de fazer sobrevaler a sua vontade. E, portanto, há um risco na vida de prevalecer a vontade do mais forte, a lei do mais forte, e não é bom que seja assim porque isso não promove a justiça. Então, existe uma instituição chamada Poder Judiciário cujo papel é fazer com que não prevaleça a lei do mais forte. A justiça é a alternativa que a humanidade concebeu contra a força bruta. Em vez de guerras, tiros, socos, a gente coloca argumentos na mesa e alguém imparcial diz qual argumento que deve prevalecer, quem é que tem razão”, completou o ministro.
A ministra Cármen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, também se reuniu com o grupo e fez uma ampla defesa do sistema eletrônico de votação. Ela levou um técnico da Justiça Eleitoral que fez uma exposição das urnas eletrônicas e de suas funcionalidades de acessibilidade.
“As eleições cumprem este papel de entregar para a gente verdadeiramente o direito de escolher livremente quem você quer. Eu vejo poucos momentos em que a gente é tão livre na vida como é na cabine eleitoral. Naquele momento é você com você, não há como alguém saber como você votou, não há alguém para te cobrar pelo que você votou, você não deve satisfação”, disse.
Cármen Lúcia fez um apelo aos influenciadores: “Eu, como cidadã, estou pedindo e esperando que cada um dos senhores, que têm um papel muito mais importante porque têm a capacidade de falar com muito mais gente, faça apenas isso: confie em você mesmo e confie nesta urna. Ela pode te dar a resposta que você quer”.
Entre selfies com ministros e palestras – um dos momentos de destaque foi a recepção calorosa que fizeram ao ministro Alexandre de Moraes –, os influenciadores também receberam o Guia para Influenciadores nas Eleições, da entidade Redes Cordiais, que traz dicas de como compartilhar informações de forma segura durante as eleições.
“Espero que coloquem nas pautas de vocês essa imensa instituição [o Supremo] imensamente desconhecida, tanto nas suas virtudes quanto nos seus defeitos”, disparou o ministro Flávio Dino.
O ministro André Mendonça reforçou a necessidade de a sociedade buscar civilidade e integridade. “Eu também vim de uma cidade simples, rural, basicamente, com 18 mil habitantes, e a vida vai nos trazendo a possibilidade de crescer. Então, não desistam das suas atividades, não desistam dos seus ideais, e não desistam da busca de tentar fazer o Brasil cada vez um país melhor.”
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