Edição

Um sopro de mudança

30 de abril de 2006

Carmen Fontenelle Advogada

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Que momento especial estamos vivendo! De forma irreversível as mulheres despontam em todo o mundo como líderes ou futuras líderes, num compasso sucessivo e impactante. Chegam aos mais altos postos sem o uso de força, negociatas ou trocas, lançando mão apenas de sua capacidade. A sensibilidade e a franqueza da mulher seduzem cada vez mais no sentido de se buscar novos tempos. Hoje, a ascensão feminina representa um sopro de mudança.

Esta esperança na renovação e na expectativa de que as mulheres sejam capazes de imprimir ao exercício do poder algo diferente é fato que se demonstra em qualquer estatística: a Organização das Nações Unidas apresentou em 2005 um estudo que mostra o crescimento, em progressão geométrica, da participação da mulher nos postos de liderança. Segundo a pesquisa da ONU, a média mundial de mulheres em cargos eletivos de primeiro escalão é de 9%, quase o dobro dos cerca de 5% do início do século XXI e bem superior à marca registrada nos anos 90, que não ultrapassava os 2%. Os avanços são notórios, mas certamente ainda há um longo caminho a percorrer.

Caminho que começou a ser trilhado numa época de poucas combatentes, que venceram inúmeras barreiras a um alto custo, pago até mesmo com vidas. O feminismo era, então, repudiado principalmente pelas próprias mulheres, insatisfeitas com um estereótipo criado para o movimento, de perfil masculinizado. Isso acabou. A luta feminista de longa jornada se divorciou das atitudes agressivas e de confronto, para assumir um comportamento alicerçado essencialmente na competência e dedicação. A maioria das mulheres hoje é feminista por essência, fazendo de suas escolhas as armas para atingir seus objetivos.

Nossas antepassadas conseguiram diluir o preconceito, o que possibilitou às mulheres modernas um avanço das trincheiras e a conquista de espaços até então inacessíveis. Todo o esforço dos últimos anos ajudou a construir o que faltava, ou seja, identidade e referências próprias. Cada vez que a sociedade se depara com uma mulher no comando, soa menos estranho. Quem sabe não chegará o dia em que isto será comum, afinal somos mais de 50% da população.

Hoje já possuímos nossos próprios referenciais, ou seja, mulheres que se destacam no mundo, independentemente de qualquer figura masculina. Como esquecer o caso da ministra Ellen Gracie, eleita para comandar a mais alta corte do país. Ou ainda, de algumas que alcançaram cargos de líderes de nações, como Angela Merkel, na Alemanha, e Ellen Johnson-Sirleaf, na Libéria, entre outras. Mas considero o emblema desta nova era a recém-empossada presidenta do Chile, Michele Bechelet, que chegou ao Poder com personalidade e feminismo autênticos, pavimentando um caminho novo para todas nós.

Elas personalizam todas as mulheres contemporâneas e a possibilidade de sermos as protagonistas e não assistentes da história. Podemos, sim, superar o preconceito e a discriminação, que apesar de muitas vezes subliminares estão lá para nos impedir de galgar postos mais altos. Com competência e trabalho, sem perdermos as nossas características.

Nossa essência feminina é capaz de oferecer a perspectiva de um mundo melhor. Se a natureza fez das mulheres as geradoras de vida, chegou a hora de assumirmos o nosso papel na sociedade e nas instituições para conceber esta nova era. Cada vez mais fica evidenciada a possibilidade de mudança, de fazer com que os sonhos se tornem realidade. É isso que comemoramos no Dia Internacional da Mulher: a realização e o sucesso de nossas lutas.