2022, o mundo pós-pandemia

7 de janeiro de 2022

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Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de covid-19 causada pelo novo coronavírus (sars-cov-2). Logo em seguida, no dia 16, o Estado de São Paulo decretou estado de calamidade pública em razão da pandemia, o mesmo fazendo o Congresso Nacional no dia 18. Há quase dois anos, portanto, o mundo convive com esta situação restritiva inusitada. 

Durante este longo período, a covid-19 exigiu medidas de isolamento social e restrições de circulação, alterando significativamente o dia a dia de toda a população mundial. Os efeitos da pandemia mudaram drasticamente a rotina de trabalho, lazer, alimentação e hábitos de higiene das pessoas. O uso de máscara e de álcool em gel, por exemplo, passou a fazer parte do cotidiano. 

Com a imposição do isolamento social foi imperioso se socorrer da tecnologia para manter em funcionamento algumas atividades. Afinal, a economia global não poderia ficar totalmente paralisada. Todos os setores da economia foram afetados, uns mais outro menos, na medida em que alguns puderam continuar realizando atividades de forma virtual e outros não tinham esta possibilidade. 

O mundo jurídico, como não poderia deixar de ser, também foi deveras afetado pelo isolamento social. O Poder Judiciário imediatamente fechou as portas e a tecnologia foi o único meio de contato entre os operadores do Direito. 

A sociedade foi obrigada, do dia para noite, a se organizar e aprender a se comunicar de forma telepresencial. As reuniões, audiências, despachos com magistrados, aulas, encontros, congressos e simpósios passaram a ser realizados exclusivamente no ambiente virtual. As lives foram incorporadas ao cotidiano, assim como as plataformas de streaming e podcasts. 

Neste novo contexto de um mundo em constante e rápida transformação, atualizar e aprimorar o conhecimento são vitais para o profissional sobreviver em um mercado cada dia mais competitivo. Afinal, muitos postos de trabalho foram fechados, algumas atividades perdem espaço enquanto outros serviços ganham mercado. 

A Associação dos Advogados de São Paulo (AASP) produziu inúmeros cursos, webinars e discussões on-line de forma gratuita, o que possibilitou que advogadas, advogados, estudantes e demais interessados de todo o País pudessem participar de forma remota e tivessem contato com palestrantes de renome que, provavelmente, não teriam oportunidade de assistir presencialmente. 

O ensino à distância deverá se consolidar nos próximos anos. A tecnologia disponível permite que o conhecimento seja difundido para um número maior de pessoas, no entanto, deve se assegurar a qualidade do conteúdo que se transmite. 

Todas estas inovações estão consolidadas no nosso dia a dia e deverão permanecer. Esperamos que a partir deste 2022 que se inicia possamos incorporar os bons hábitos e providências assimiladas com a pandemia para facilitar a vida de todos. 

Acreditamos que teremos que adotar um sistema híbrido nas relações profissionais. O despacho virtual, na grande maioria dos casos, se mostrou eficiente. Assim sendo, não mais se justifica, para todos os casos, dispender recursos e um dia inteiro para se deslocar à Brasília para um despacho de poucos minutos com um ministro dos tribunais superiores. 

Muitos negócios foram fechados por encontros virtuais, as reuniões de trabalho na maioria dos casos são produtivas por meio das plataformas colaborativas de trabalho remoto. Nas grandes cidades onde se tem uma enorme dificuldade de locomoção, as reuniões telepresenciais são uma boa alternativa para a discussão de muitos temas. 

O home office se apresentou eficiente para muitos escritórios de advocacia e mesmo para os órgãos públicos, como é o caso do Poder Judiciário. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) ao longo da pandemia divulgou números grandiosos de sua produção, sendo que até o início de dezembro, dois milhões de atos processuais foram realizados desde o começo do trabalho remoto, informou o site do TJSP. 

O trabalho remoto que já era realidade para alguns se tornou necessário para quase todos durante a pandemia e deverá ser a realidade de muitas atividades doravante. Várias empresas pretendem manter o home office para alguns dias da semana e nos outros o trabalho presencial. Além do formato remoto, muitas empresas estão anunciando a ampliação de modelos de gestão por projetos, a remuneração mais variável, relações de hierarquia menos rígidas e a flexibilização dos horários de trabalho. 

Todas essas novas tendências trarão impactos nas relações trabalhistas que terão que se compatibilizar com a legislação em vigor, um flanco que se abre para longas discussões no âmbito do Direito do Trabalho, sendo que muitas delas acabarão sendo judicializadas. 

No ambiente forense, o acompanhamento de um processo que tramita em outra comarca passou a ser acessível através de uma simples consulta ao site do respectivo tribunal. 

As audiências virtuais, que se tornaram necessárias, poderão ser híbridas quando houver necessidade de ouvir uma testemunha fora da comarca do juízo do processo (o que já era utilizado por muitos magistrados). As partes podem comparecer ao local da audiência e ouvir a testemunha de forma remota. Alguns juízes estão facultando inclusive que advogados de fora da comarca participem da audiência remotamente, o que, a critério do profissional, poderá lhe ser conveniente. 

Logicamente, que não se pode viver apenas no ambiente virtual, na medida em que o cafezinho, o aperto de mão, o olho no olho e o abraço são extremamente importantes e necessários. O ambiente escolar, por exemplo, é essencial para o estudante, por isso mesmo precisa ser retomado urgentemente. 

No fim de novembro passado, a Secretaria de Administração Penitenciária retomou o contato físico entre os presos e seus familiares, o que é muito salutar para ambos. 

A pandemia nos apresentou outros meios eficazes de comunicação que agora conviverão conjuntamente. Portanto, a covid-19 fez acelerar estes novos meios que muitos nem conheciam e que outros se utilizavam esporadicamente, mas que agora passaram a fazer parte do cotidiano, seja para estudar, trabalhar ou mesmo para o entretenimento. 

A realidade vivenciada até março de 2020 ficou para trás. Atualmente, quando se marca uma reunião, já se tornou comum perguntar se será presencial ou virtual. O tempo que era consumido no deslocamento pode ser direcionado para mais estudo, mais trabalho ou mais lazer, sem contar a economia de recursos financeiros. 

Nunca se pode perder de vista que qualquer solução que se adote não servirá para todos os casos. Há situações que não comportam encontro virtual e o presencial continuará sendo a regra, mas em muitas outras o remoto foi muito eficaz e produtivo, motivo pelo qual deverá ser adotado e mesmo incentivado. 

Esta deverá ser a nova realidade que iremos enfrentar nos próximos anos. 

Nota__________________________

1https://www.tjsp.jus.br/Noticias/Noticia?codigoNoticia=79110, acessado em 08/12/2021.