A fascinante trajetória do café

31 de dezembro de 2006

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A notável história da agropecuária brasileira não só caminhou para a produção de alimentos mas, vencendo às vezes condições climáticas hostis, ao longo de sua trajetória, contribuiu e permanece contribuindo para o desenvolvimento integrado da nação.

Desde os primórdios, quando do descobrimento do continente brasileiro, até os dias de hoje, a agricultura vem colaborando substancialmente para a consolidação da cidadania nacional, dada a força de sua produção em várias e inúmeras atividades. Conduzindo nesse sentido, poderíamos expor sobre o café, a pecuária, o ouro branco (algodão), a cana de açúcar ou a agricultura energética, impulsionada mais recentemente devido à produção natural e permanente de oleoginosas. Porém, vamos tratar, nesta abordagem, apenas do café.

Com as recentes matérias publicadas pela imprensa, noticiando os grandes investimentos por parte de redes de cafeterias  internacionais no Brasil, tais como a lendária marca americana Starbucks e a italiana Illicaffé, inevitavelmente somos levados a rememorar a fascinante trajetória do café, originada há cerca de três séculos.

Grande força que impulsionou o desenvolvimento do país, a cultura cafeeira abriu espaço para toda a economia do Brasil, influenciando, inclusive, o desenvolvimento urbanístico e industrial. Ainda que não adequadamente transformada a sua matéria-prima, o café vem dando solidez ao agronegócio e, em que pesem as vicissitudes, vem se mantendo na geração de riquezas, empregos e valores agregados.

Oportuno fazer referência ao particular papel sócio-econômico desenvolvido pelo setor que, no seu auge, viabilizou a ascensão econômica e social dos antigos colonos, os quais conquistaram a condição de proprietários rurais produtores de café. Destaque-se também, nesse sentido, outro dado interessante que aponta ter sido o setor cafeeiro o grande incentivador da criação das Santas Casas de Misericórdia.

A cafeicultura brasileira é uma das mais competitivas do mundo, posicionando o país em primeiro lugar no ranking mundial de produção e exportação de café. O Brasil colhe cerca de 41 milhões de sacas de café. A produção concentra-se na região Sudeste do país, com destaque para os estados de Minas Gerais, Espirito Santo e São Paulo que, juntos, respondem por mais de 81% da produção nacional de café.

O parque cafeeiro brasileiro é bastante complexo e diverso, capaz de produzir café verde, solúvel, torrado e moído, bem como os mais variados tipos de grãos e bebidas. Estima-se que a cafeicultura brasileira ocupe uma área de 2,3 milhões de hectares e seja constituída por 350 mil cafeicultores, 1,1 mil indústrias de café e cerca de 150 empresas de exportação.

As indústrias de café concentram-se na região Sudeste, especialmente em São Paulo, responsável pela torrefação de metade do café beneficiado no país. O segmento de café solúvel é voltado predominantemente ao mercado externo  e o de café torrado e moído ao mercado interno. O café industrializado é classificado em três categorias: tradicional, mais simples, cuja venda concentra-se em supermercados; superiores, feitos com matéria-prima similar à exportada; e gourmets, mais exclusivos e que produzem uma bebida mais sofisticada. Este último, além de apresentar qualidade superior, é comercializado com um plano de marketing especial, incluindo uma apresentação diferenciada e a valorização dos atributos qualitativos do produto, que conta também com rastreabilidade de origem.

Vale destacar que na implantação da indústria de café solúvel no Brasil, a Federação da Agricultura do Estado de São Paulo – FAESP teve um papel fundamental. Na execução dos primeiros projetos de beneficiamento, a entidade teve uma participação decisiva na obtenção dos recursos e na liberação do café em grão necessários para alavancar o projeto do café solúvel. Após todo aquele esforço do passado, atualmente tem-se uma indústria de café solúvel sedimentada, que agrega valor à produção nacional e representa 13,5% das exportações totais de café.

As exportações brasileiras são de aproximadamente 26 milhões de sacas, gerando uma receita cambial de US$ 2,9 bilhão. Cerca de 86% das exportações brasileiras de café são realizadas com o produto cru (grão), enquanto que 13,5% são de café solúvel e 0,5% de café torrado e outros.

Um nicho de mercado que surgiu nos últimos anos é o de cafés orgânicos, produzidos sem a utilização de defensivos químicos. Este segmento conta com centenas de produtores certificados e vem apresentando tendências de crescimento no Brasil.

Devemos lembrar ainda que o homem do campo, em especial o cafeicultor, assim como o próprio povo brasileiro, com muita fé, espiritualidade e sentimento religioso, sempre investiu permanentemente na construção de igrejas e universidades, inclusive jurídicas, contribuindo também dessa forma para o desenvolvimento científico-cultural. Assim, vê-se hoje pelo Brasil afora, grandes universidades, sobretudo as públicas, além das entidades econômicas representativas da agropecuária, tidas como referência tanto no âmbito nacional como além de nossas fronteiras.

Ademais, esses notáveis produtores de café, extraordinários homens do campo, sempre investiram em segmentos alicerçados na agricultura brasileira, na ordem pública, no respeito às leis, às regras e às decisões das autoridades constituídas, sobretudo quando revestidas de bom senso, de forma a evitar as injustiças que venham a comprometer o desenvolvimento social e seu equilíbrio.

Nesse direcionamento, sem citar nomes, rememoramos os grandes e admiráveis homens que implementaram as atividades agrícolas neste país, pela visão que tiveram no passado, ao usarem os meios disponíveis do setor da iniciativa privada em parcerias com os governos, para investimentos em todos os campos das atividades agrícolas.