Após pedido de prisão, delegado do caso MEC irrita membros da PF e deve sofrer represálias
14 de agosto de 2022
Para delegados da instituição ouvidos pela CNN, Bruno Calandrini pode responder por abuso de autoridade depois de pedir prisão da cúpula da PF
O pedido de prisão de integrantes da cúpula da Polícia Federal apresentado pelo delegado Bruno Calandrini indignou outros integrantes da corporação, também delegados, e colocou em risco a permanência dele na instituição.
Para colegas de corporação, Calandrini pode responder por abuso de autoridade, a menos que consiga justificar o pedido de prisão.
Calandrini é responsável pela investigação que prendeu o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e vinha denunciando que a PF concedeu tratamento diferenciado ao ex-ministro.
A informação sobre o pedido de prisão contra o alto escalão da PF foi publicada, neste sábado, pelo site Metrópoles e confirmada pela CNN. A decisão agora cabe à ministra Carmén Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF). O STF informou que o processo é sigiloso e não confirmou informações.
Em junho, o delegado denunciou que houve tratamento diferenciado da PF ao ex-ministro, que não foi levado de Santos, litoral paulista, para Brasília devido a uma decisão superior. Ele enviou mensagem a colegas em que afirmou que o ex-ministro recebeu da PF “honrarias não existentes na lei”.
Semanas depois, a Polícia Federal abriu uma sindicância para investigar a conduta do delegado. Calandrini também foi retirado do setor que investiga pessoas com foro privilegiado e transferido para o departamento de crimes cibernéticos.
Negando se tratar de represália, a PF informou na época que a mudança teria ocorrido a pedido do próprio delegado. Apesar de haver uma expectativa interna de que Calandrini não recuaria da acusação contra a cúpula da PF, o pedido de prisão foi duramente criticado e surpreendeu alguns integrantes da corporação, com que a CNN conversou neste sábado.
O pedido foi classificado de grave e drástico por fontes em Brasília. Delegados que já trabalharam no mesmo grupo que Calandrini avaliaram, sob reserva para CNN, que a denúncia de interferência é de difícil configuração.
Para eles, o pedido apenas se justificaria se houvesse elementos como gravações ou mensagens. Caso contrário, estaria mais para um manifesto de insubordinação. Para essas fontes, mesmo que a justiça não acolha, o pedido de prisão deixa estragos na imagem da instituição. Com base nisso, a permanência de Calandrini na corporação é considerada insustentável, e dificilmente ele não sofrerá represálias.
Procurado, o delegado Bruno Calandrini não respondeu às tentativas de contato por telefone e mensagens. Também a Polícia Federal não se posicionou oficialmente. Já o advogado do ex-ministro Milton Ribeiro, Daniel Bialski, acusou o delegado de cometer “diversos abusos” e “usar a máquina para fazer política contra o governo”, afirmou à CNN.
Desde que o caso chegou ao Supremo, em junho, o advogado afirma que não consegue ter acesso ao processo porque não recebeu autorização da justiça. Em um telefonema interceptado pela investigação, o ex-ministro afirmou que o presidente Jair Bolsonaro lhe relatou um “pressentimento” de que a PF cumpriria mandado de busca e apreensão sobre supostas fraudes na liberação de verbas do Ministério da Educação (MEC). O ex-ministro chegou a ficar um dia preso. Depois, o governo o demitiu.
Publicação original: CNN Brasil