Eleição no Tribunal de Justiça do Piauí

9 de dezembro de 2019

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A nossa vida é um ato contínuo de tomadas de decisão, em relação a nós mesmos, aos que estão em nosso redor e ao meio em que vivemos. No entanto, a experiência que a prática nos enseja, não nos dá a necessária garantia da serenidade adquirida, com atos repetidos, como se nós pudéssemos, com o tempo, nos tornar imunes a quaisquer emoções fortes, mesmo àquelas que, periodicamente, nos ocorrem.

Aí está a explicação que mostra porque, diante de situações sérias, difíceis e de curial importância, como as que podem nos causar determinados embaraços e perturbações, voltamos a sentir emoções fortes, como se tudo estivesse acontecendo pela primeira vez. É que cada situação, é uma situação, cada caso é um caso, e para usar das ponderações do pré-socrático Heráclito, as circunstâncias e a vida, na sua dinamicidade, constantemente mudam à semelhança das águas dos rios. Heráclito dizia, com inteira razão, que ninguém toma banho em um rio corrente, por mais de uma vez. É que o rio continua o mesmo, mas as águas com que nos banhamos, já não são as mesmas.

Há mais de 40 anos, integramos o Poder Judiciário piauiense. Durante todo esse tempo, aprendemos uma verdade crucial: toda decisão entregue ao nosso arbítrio nos obriga a mergulhar no complexo mundo da nossa consciência, exigindo de nós o necessário cuidado e o sacrifício, cujo cálice amargo, a exemplo do de Cristo, gostaríamos que estivesse afastado de nós.

O ato de julgar ou de fazer escolha de importância vital para um dos poderes emblemáticos do Estado, como o da Justiça, torna-se um encargo torturante e dos mais difíceis que se pode atribuir a um ser humano, detentor do múnus de decidir sobre o patrimônio, liberdade e a vida dos seus semelhantes.

Toda vez que temos de enfrentar o impostergável dever de solucionar conflitos, buscando a realização do justo, suprema aspiração do homem, somos tomados pelo mesmo estado emocional, impactados e com a efervescência mental como se estivéssemos julgando pela primeira vez, sentindo o peso da nossa responsabilidade moral, intelectual e profissional, em momento de tal magnitude.

Embora estejamos acostumados a participar das mais embaraçosas e nem sempre fáceis situações, exigidas pela nossa atuação funcional, tanto no âmbito administrativo quanto no jurisdicional, não podemos deixar de confessar que, em determinados momentos, se pudéssemos, abdicaríamos de nossas prerrogativas, para não experimentar de acontecimento a este semelhante, escolhendo dentre os colegas concorrentes aqueles que irão exercer os mais importantes cargos da estrutura organizacional do Judiciário a que pertencemos, se todos estão devidamente preparados e com as mesmas qualificações.

Não há quem desconheça a importância e a singularidade dessas escolhas e sabemos que todos os integrantes deste mais do que centenário Tribunal se encontram moral e funcionalmente preparados para, da melhor maneira possível, integrar os seus quadros diretivos, ou serem indicados para dirigirem o Tribunal Regional Eleitoral do Piauí.

Infelizmente, temos que fazer as nossas opções, escolhendo uns, em detrimento de outros concorrentes, por sentimento de ordem puramente pessoal, sabendo que entre nós todos estão em pé de igualdade e sempre dispostos a oferecerem o melhor de si em favor dos supremos interesses do Poder Judiciário e da magistratura a que servimos com desprendimento e zelo inexcedível.

Essas opções poderão gerar incompreensões, mas não significam nenhuma ruptura, ou qualquer outro tipo de desconfiança, em relação àqueles que possuem a mesma pretensão. Tudo isso faz parte do jogo proporcionado pelas benesses do Estado Democrático de Direito, em franca expansão, em todos os Tribunais do Brasil, nesses tempos de pós-modernidade. A prova disso é o ar de incerteza e de provável mudança de opinião, que paira na expectativa de todos os que participam desse democrático jogo. É como uma partida de futebol, entre colegas da mesma entidade associativa. Mais tarde, os que perderem e os que ganharem estarão unidos na confraternização dos que foram escolhidos e que, amanhã, noutro prélio cívico, poderão ser os perdedores.

Assim caminha a humanidade. É este mundo de contrastes mutantes, que sustenta o nosso ser e nos salva da angústia existencial, pois do contrário, como afirmava Nietzsche, se não fosse assim, morreríamos das cruezas da verdade.

Ao final deste embate amistoso, quem levará a copa da vitória será o próprio Tribunal de Justiça do Piauí, com todos os seus jogadores treinados e aptos ao exercício pleno da missão de que se encontram encarregados: realizar o justo, oferecendo aos que necessitam de sua proteção, o mínimo existencial para que possam viver com dignidade. Referimo-nos às constantes eleições que ocorrem no nosso colendo Tribunal, seja para escolher os seus quadros dirigentes, ou para indicar os que irão conduzir os destinos do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí, por um biênio administrativo.

“Aos vencedores as batatas!”, como diria, não mais Júlio César, mas o nosso bruxo do Cosme Velho, Joaquim Maria Machado de Assis, primeiro Presidente do Petit Trianon do Brasil.