A força das magistradas

26 de março de 2024

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Da esquerda para a direita: Desembargadora Maria de Nazaré Silva Gouveia dos Santos (Presidente do TJ do Pará); Des. Nélia Caminha Jorge (Presidente do TJ do Amazonas); Des. Regina Célia Ferrari Longuini (Presidente do TJ do Acre); Des. Ricardo Cardozo (Presidente do TJ do Rio de Janeiro); Des. Clarice Claudino da Silva (Presidente do TJ do Mato Grosso); Des. Ângela Maria Ribeiro Prudente (1ª Vice-Presidente do TJ do Tocantins) e Des. Cynthia Maria Pina Resende (Presidente do TJ da Bahia). Foto: Brunno Dantas/TJRJ

Seis presidentes de Tribunais de Justiça se reúnem no Rio de Janeiro

Elas vestem azul, branco, lilás, preto, rosa e o que quiserem e estão não somente “do alto de seus saltos”. Estão na ponta da escala de suas carreiras na magistratura, abrindo caminhos em postos ocupados, em geral e ao longo de décadas, por homens. São Desembargadoras que presidem Tribunais estaduais de Justiça, as “presidentas”, como chamou o presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, Ministro Luís Roberto Barroso, defensor contumaz da presença de mais mulheres na magistratura. Neste mês de março, dedicado mundialmente às mulheres, seis delas se encontram no Tribunal de Justiça do Rio, dando brilho especial ao encontro X Conselho de Presidentes de Tribunais de Justiça, o Consepre.

Ao falar de sua carreira vitoriosa, a Presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, desembargadora, Nélia Caminha Jorge, destacou a importância da postura diante dos homens que ela lidera. “Aos poucos a gente vai quebrando essas barreiras, mas é difícil, porque você precisa se impor. Às vezes, a gente precisa ser mais incisiva para até se fazer respeitar. Eu quero ver meu Tribunal no topo. Nós somos oito mulheres no colegiado (Consepre) de 26, mas nós nos fazemos respeitar pela própria postura”, afirmou.

Ex-Presidente do Tribunal de Justiça do Tocantins e agora exercendo a vice-presidência da Corte, a Desembargadora Ângela Maria Ribeiro Prudente, representou a desembargadora Etelvina Maria Sampaio Felipe, hoje Presidente do TJTO – um tribunal que tem quatro mulheres no topo do poder. Além da Presidente e da Vice, a Corregedoria Geral da Justiça tem à frente outras duas mulheres: a Corregedora e a Vice-Corregedora.

“Ser mulher já é um desafio.  Você constrói toda sua trajetória e caminhada e as pessoas acabam por te respeitar. Acho que é da natureza da mulher ser persistente, resiliente e guerreira. Se me perguntassem se eu gostaria de ser homem em uma nova vida, responderia que não, que quero ser mulher novamente”, afirmou a desembargadora Ângela Maria Ribeiro Prudente.

No Pará, mulheres são maioria no Plenário – As contas, no Pará, mostram um avanço de equidade de gênero. E quem conta é a presidente do Judiciário paraense, a desembargadora Maria Nazaré Silva. “São mais de 40 homens na nossa equipe de administração direta. E na administração indireta esse número sobe para mil ou mais. No nosso Tribunal temos mais de 50% de mulheres no plenário do Tribunal. Entre os desembargadores somos mais mulheres. E o trabalho flui muito bem. Os desafios para as mulheres são muito grandes. Mas, quando chegam, ocupam esses cargos com muito orgulho e perseverança”, disse.

“Chegar até aqui realmente foi uma luta. Não minha, pessoal, mas uma luta das mulheres magistradas. Hoje, nós temos mais de 40% de mulheres desembargadoras e temos cerca de 50% ou um pouco mais de juízas em nossa Corte”, apontou a presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, desembargadora Cynthia Maria Pina Resende.

Alguns homens dizem que é mais difícil dizer não a uma mulher. Que o diga a Desembargadora Clarice Claudino da Silva, presidente do Tribunal de Justiça do Mato Grosso. “Alguns homens dizem que é mais difícil dizer ‘não’ a uma mulher, mas outros aceitam com naturalidade. É também natural que a gente ainda sinta os resquícios do patriarcado, que é uma cultura muito forte. E justamente pela condição do feminino nos postos de comando ainda ser uma novidade, essa cultura vai cedendo lugar, vai nos dando o espaço necessário para que nós tenhamos uma naturalidade maior nessa situação de comando”, constatou a desembargadora.

Dito que a mulher faz mais em menos tempo que os homens em diferentes funções, a desembargadora Regina Célia Ferrari, presidente do Tribunal de Justiça do Acre, fala sobre isso e o seu dia a dia e a preocupação com o cidadão que bate às portas do Judiciário, muitas vezes expondo o choro do desespero humano por ajuda.

“Nós somos vistas, às vezes, como muito rápidas, como querendo tudo para ontem e, às vezes, somos confundidas. Mas no geral, os homens têm sido muito parceiros. E esse despertar é a cada dia. Penso que ele será construído e solidificado.”

E concluiu ao falar de sua missão profissional: “Qual é o foco principal da magistratura? É o nosso cidadão, a quem nós prestamos serviços. Mas que nós estejamos muito despertos para que nós, homens e mulheres, estejamos a serviço do cidadão. Todos os dias eles batem às portas dos nossos tribunais e, muitas vezes, com lágrimas nos olhos”.