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Fazer o bem, apesar de tudo

31 de maio de 2007

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É difícil fazer o Bem no Brasil. No início de “Os Sertões”, Euclides da Cunha ressaltava ser o sertanejo, antes de tudo, um forte. O filantropo brasileiro, ou aquele que almeja avançar sua contribuição ao amparo do conceito de responsabilidade social, também o é.

Qualquer cidadão brasileiro que tenha desejado fazer uma doação, liderar um projeto social, resgatar a dignidade de setores menos favorecidos mediante iniciativas de reforço da cidadania, sabe bem do que estou falando.

Mais do que se concentrarem em sua atividade-fim – a benemerência, a solidariedade alicerçada em padrões de eficiência administrativa – instituições e indivíduos também se vêm engalfinhados, no setor social, no pantanoso “Custo Brasil”. É dizer, também para operar no setor social, os atores têm de se converter em verdadeiros “malabaristas” de legislações e práticas esdrúxulas.

No mundo dos negócios – e no da promoção da dignidade da pessoa humana – o Brasil cartorial ainda prevalece sobre o País mais justo que queremos construir neste século XXI.

A infernal máquina burocrática que atazana e atrofia o ambiente de negócios também dilui, como robusto inibidor, o ímpeto do empresariado e da sociedade civil em contribuir para a melhoria de nossos indicadores sociais.

O Jornal do Brasil, por exemplo, deu início, no dia 2 de maio, ao projeto social “Banca de Jornal, Uma Escola de Vida”, que conta também com o inestimável apoio da Cyrela e da Pastoral do Menor.

O projeto oferece a oportunidade do primeiro emprego a jovens carentes, na faixa dos 18 aos 20 anos. Estes são selecionados pela Pastoral do Menor para serem promotores em bancas de jornal, inicialmente na cidade do Rio de Janeiro. Sessenta candidatos foram treinados e atuarão nesta tarefa. Aprenderão a relacionar-se com clientes. Tomarão gosto pela leitura, pelo mundo das letras e das comunicações. Conviverão no dia-a-dia com os desafios da gestão de um pequeno negócio. Serão remunerados e assim inaugurarão, enfim, sua cidadania econômica.

A iniciativa é tanto mais inovadora por resultar da união de forças de uma empresa de mídia e uma ONG. Com o competente aconselhamento da Dra. Claudia Costin, ex-ministra da Administração e atual vice-presidente da Fundação Victor Civita, e Maria Cristina Sá, da Pastoral do Menor, atuaremos concretamente na promoção da bandeira da empregabilidade e da educação. É aprender fazendo, como ensina a eterna lição do grande filósofo e educador John Dewey.

Foram inúmeras as dificuldades para o lançamento de um projeto dessa envergadura. Ele poderia também contemplar jovens adolescentes. Esbarra-se, no entanto, no arcaico, extenuante – e desnecessário – compêndio de exigências. Estas, em nome de proteger o bem-estar do menor adolescente, na prática, o afasta – e, muitas vezes, exclui em definitivo – do mundo do fazer e do mercado de trabalho.

Para a permanência desses jovens na rua, na ilegalidade, no tráfico de drogas e armas, na ruptura, enfim, de vidas e famílias, experimentamos, aí sim, ambiente de livre-iniciativa, de harmonização concorrencial.

É como se o Mal, no Brasil, fosse subsidiado e compelido a progredir. E o Bem, destituído de vantagens comparativas, fosse relegado às condições periféricas de atratibilidade e competição.

Em muitos casos, as demandas que se reclamam de empre-sas e instituições do terceiro setor para a empregabilidade do adolescente ou do jovem adulto são as mesmas que se entrelaçam nas amarras da vetusta CLT e da resultante ineficiência
na produção de emprego e prosperidade para o Brasil.

Não obstante todas as barreiras, deve-se fazer o Bem. E este é tanto mais abençoado quando dirigido às crianças e aos jovens. O Evangelho de São Mateus inspira a todos nós, no Jornal do Brasil, nesta nobre iniciativa do “Banca de Jornal: Escola da Vida”. O apóstolo asseverava o ensinamento de Jesus quanto à prática do Bem e do Mal “(..) Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, o fizestes a Mim”.