O exemplo de Lázaro

8 de novembro de 2019

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Um dos mais importantes nomes do mercado financeiro no País, Lázaro de Mello Brandão ajudou a fazer do Bradesco um gigante entre os bancos privados brasileiros. Reconhecido por seu perfil discreto, ético e extremamente dedicado ao trabalho, deixa um legado imenso de ensinamentos.

Em 16 de outubro, o Brasil perdeu um dedicado “Dom Quixote”, um homem que construiu singular trajetória de vida e trabalho, estando presente na história de fundação das Organizações Bradesco. Nascido em Itápolis (SP), em 1926, Lázaro de Mello Brandão começou a trabalhar como escriturário na Casa Bancária Almeida, na cidade de Marília, em 1942, um ano antes de esta se tornar o Banco Brasileiro de Descontos. Era apenas um garoto de 15 anos com muita vontade de trabalhar para mudar os rumos de uma vida modesta. Filho do administrador de fazenda José Porfírio Bueno Brandão e da dona de casa Anna Helena Mello, ele sonhava ser funcionário concursado do Banco do Brasil. Não foi assim que aconteceu, ainda bem. Ao ingressar em seu primeiro emprego formal, Lázaro começou a construir uma trajetória de 75 anos no Bradesco.

Tal era sua dedicação, que, dois anos depois de ingressar no emprego, Lázaro foi promovido a chefe da Inspetoria Geral do Bradesco, que fazia algo parecido com o que hoje se entende por controladoria. Foi a primeira oportunidade de demonstrar na prática seu perfil de gestor, uma vez que estava encarregado de todos os procedimentos administrativos do banco, incluindo custos. Dez anos mais tarde, em 1953, mudou-se para Osasco, na grande São Paulo, onde o Bradesco instalou sua nova sede, a Cidade de Deus, um projeto de Amador Aguiar, o fundador e então presidente do banco. Transcorrida mais uma década, Lázaro tornou-se o diretor responsável pela rede de agências, que crescia exponencialmente.

Em 1977, assumiu o cargo de diretor vice-presidente e, finalmente, em 1981, chegou à presidência do Bradesco, permanecendo até 1999. Acumulou, no mesmo período, o posto mais alto do Conselho de Administração, até renunciar em 2017. Foi, então, substituído por Luiz Carlos Trabuco Cappi, que era vice-presidente do colegiado e diretor-presidente do Bradesco. Por sua vez, Trabuco passou o bastão para Octavio de Lazari Júnior, o atual CEO do Bradesco.

Desde os tempos da agência de Marília, Lázaro trabalhava, em média, 12 horas por dia. Hábito que cultivou durante todos os anos de Bradesco. Chamado por todos de “seu” Brandão, era a figura mais próxima do “dono do banco” que funcionários e altos executivos tinham como referência. A pontualidade, a dedicação, a lisura e a ética eram apenas algumas de suas muitas qualidades pessoais. Atribuições que contribuíram para conduzir o Bradesco ao posto de maior instituição financeira do País em ativos. Foi durante sua gestão que ocorreram as maiores aquisições, como a do Banco de Crédito Nacional (BCN), na década de 1990, e do HSBC Brasil, em 2016.

Um discreto Dom Quixote

Em 2010, Lázaro Brandão foi um dos agraciados com o Troféu Dom Quixote de La Mancha, oferecido pela Confraria Dom Quixote e pela Revista Justiça & Cidadania, como prêmio por sua efetiva participação como presidente da Fundação Bradesco, na grandiosa obra social e educacional que proporcionou, ao longo do tempo, para 4.500 milhões de alunos, filhos e dependentes de funcionários da Organização, além de jovens de locais carentes em municípios onde o Banco Bradesco tem atuação.

Em fevereiro do mesmo ano, também a Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) promoveu uma solenidade para homenagear Lázaro Brandão, com a entrega da Medalha Grau Ouro, comemorativa aos 200 anos da Edição do Alvará Régio, que deu origem à Praça do Comércio, atual ACRJ. Compareceram à cerimônia os diretores da Revista Justiça & Cidadania, Orpheu Santos Salles e Tiago Santos Salles.

Raro frequentador de eventos sociais, Brandão apenas comparecia quando o encontro tinha algum objetivo profissional, como as reuniões realizadas pela Associação de Bancos do Estado de São Paulo (Assobesp), que daria origem à Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Em comunicado oficial de sua morte, a Bradespar aludiu ao “homem de visão de futuro e inesgotável capacidade de trabalho, foi uma personalidade marcante, que influenciou a todos que com ele conviveram. Será sempre lembrado pelo talento, honradez, capacidade empreendedora e sua fé no Brasil”. Lázaro Brandão deixa sua esposa, Albertina Tassinari Brandão, duas filhas e um neto. Sua biografa está registrada no livro “Lázaro de Mello Brandão, senda de um executivo financeiro”, da Editora FGV, organizado por Celso Castro, Sergio Praça.