Em entrevista, presidente uruguaio fala sobre a legalização das drogas e do aborto no seu país

5 de dezembro de 2014

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MujicaO presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, 79, concedeu entrevista à correspondente do jornal Folha de São Paulo, Sylvia Colombo, publicada no dia 26 de novembro. E entre outros assuntos, Pepe Mujica falou sobre leis de cunho liberal aprovadas durante a sua gestão, como a regulação da produção e do consumo de maconha e a legalização do aborto.

Sobre a legalização da maconha, Mujica disse: “Pior que a maconha é o narcotráfico. O que está acontecendo é que, pela via repressiva, o narcotráfico está se matando de rir. Cada vez se trafica mais, se gasta mais dinheiro em polícia, em colocar gente nas prisões. Estamos cultivando um esplêndida derrota.”

E sobre a forma como o Uruguai e os demais países da América Latina combatem ao tráfico de drogas, José Mujica foi taxativo: “Parecemos estados falidos. Cada vez armamos aparatos maiores para reprimir, cada vez temos mais gente presa, e cada vez há mais tráfico de drogas! “Se você quer mudar, não pode seguir fazendo a mesma coisa, tem que buscar outra maneira. Eu não sei porque o mundo não vê o que está acontecendo, parece que colocamos uma venda sobre os olhos, como se a droga fosse uma coisa feia que não se pode mencionar.”

Segundo o presidente, a legalização parcial permite que os consumidores sejam identificados, aconselhados e tratados. “Aqui nós temos um problema de dose. Se eu tomo uns três copos de uísque por dia, talvez não em faça bem, mas é suportável. Se eu tomo um litro, vão ter de me internar. É isso que queremos identificar. Hoje, como está tudo no mundo clandestino, quando identificamos o problema, é tarde demais.”

Sobre a legalização do aborto, Pepe fala sobre a discussão de temas polêmicos na história de seu país. “Existe uma tradição política no Uruguai de colocarmos os problemas sérios na mesa, e não escondê-los. Aqui neste país, em 1914, o Estado reconheceu a prostituição e fundou uma universidade feminina para que as famílias conservadoras se animassem a mandar suas filhas estudarem, entre outras coisas. Naquela época, se pensava que a sociedade ia dissolver-se se as mulheres fossem estudar.”

O presidente do Uruguai lembra também que “ninguém está a favor (do aborto), mas por muitas razões as mulheres, sozinhas, ou com problemas, continuam realizando-o. Se as deixamos  sozinhas, isoladas, é uma covardia, uma irresponsabilidade. Muito mais se ela é pobre.” Mujica reforça que seu governo oferece o serviço, mas a primeira ação é tratar de dissuadir a mulher e oferecer-lhe apoio. “Assim salvamos mais vidas. Se as mulheres persistem em sua decisão, nós o realizamos, e assim lidamos melhor com os problemas que ocorrem se o aborto se faz de modo incorreto. Ou seja, há um custo humano menor.”

A Frente Ampla, partido de Pepe Mujica, é o favorito para vencer o 2o turno das eleições do próximo domingo, no Uruguai. Reconduzindo ao cargo Tabaré Vázquez. As pesquisas apontam vitória do líder socialista sobre Luis Lacalle Pou, do partido Nacional, por 52% a 48%.

A entrevista completa de José Mujica, aqui: http://bit.ly/1vNvPxW