Feminismo para quê?

7 de março de 2020

Advogada, Diretora de Redação da Revista JC / Promotora de Justiça, Coordenadora do Núcleo de Gênero do Ministério Público de São Paulo, Integrante do Conselho Nacional do Ministério Público

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Na sociedade de hoje, na qual corremos constante risco de gerar polêmica aos nos expressar, o conceito de “feminismo” encabeça extensa lista de assuntos que despertam paixões. Há quem diga, ostensivamente, que “não precisa de feminismo para nada”, como se defender a equidade de gêneros fosse algum tipo de “desequilíbrio”, ou pior, de radicalismo, “coisa de gente progressista” (este, aliás, outro termo mal interpretado).

Uma parcela das mulheres imagina – ou genuinamente acredita – que feminismo é um comportamento que propõe a negação completa da feminilidade ou estilo de vida de quem não gosta do sexo oposto. Ao mesmo tempo, felizmente, outra respeitável parcela entende perfeitamente o valor do feminismo e da luta para ampliar o espaço das mulheres na sociedade.

Foi o movimento feminista que garantiu às mulheres alguns dos seus direitos mais básicos, como o voto; o trabalho em áreas antes restritas aos homens; a graduação em qualquer profissão; a participação em todas as modalidades esportivas; e até poder escolher se e com quem casar ou ter filhos. A lista fica muito maior quando elencamos as mulheres por trás das maiores evoluções da ciência, todas elas feministas em algum grau, tenham expressado isso publicamente ou não.

Por que continuar na luta? Há outra gigantesca lista de respostas, dentre as quais se destaca o alto índice de feminicídios, que cresceu 7,2% ano passado, quando 1.310 mulheres foram assassinadas por sua condição de gênero ou vítimas de violência doméstica.

Precisamos também do feminismo: para que mulheres possam entrar no carro de aplicativo e dele saírem ilesas, ainda que não estejam sóbrias; para que o homem recém chegado na empresa não seja promovido antes da mãe com anos de dedicação ao trabalho; para que todas sejamos respeitadas no transporte público; e, sobretudo, para ajudar as próprias mulheres a não repetir padrões machistas, o que muitas fazem sem perceber.

Cabe repensar o 8 de março e seu significado. Mais do que nos congratular pela data, a sociedade deve se empenhar em oferecer condições igualitárias o ano todo, em reconhecimento à luta das mulheres e não por mera compensação a uma frágil minoria, o que nos recusamos a ser. O 8 de março precisa ser visto como o que de fato é: dia de luta.

As últimas notícias dão conta que o “Einstein” dessa geração é uma mulher; que pesquisadoras negras lideraram estudo que, em tempo recorde, ajudou a revelar a origem do coronavírus; e que a Forbes trouxe pela primeira vez uma gestante (brasileira) na capa. Fatos que ajudam a combater a invisibilidade à qual ainda são relegadas as conquistas femininas.

Pensando nisso, convidamos para essa edição mulheres que militam em diferentes postos de batalha do Direito, cada qual com um ponto de vista diverso. Múltiplas facetas que, somadas, reforçam as razões pelas quais precisamos sim do feminismo, hoje e talvez sempre, sem perder a fé em um mundo melhor para nossas filhas e as filhas que elas decidirem ou não ter.

Como diz a escritora nigeriana Chimamanda, toda(o)s deveríamos ser feministas!