Os desafios e as oportunidades com Legaltechs

12 de março de 2024

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A profissão do Direito no Brasil apresenta números impressionantes com mais de 1,3 milhões de advogados inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e uma força de trabalho complementar de mais de 2 milhões de paralegais atuando no mercado, muitos sem registro na OAB, o que torna o país o maior do mundo em número de advogados, proporcionalmente à população atual. Esses números massivos são reflexo de um setor que enfrenta desafios significativos, incluindo dificuldades de acesso a novos clientes e a ascensão da inteligência artificial.

O termo Legal Tech vem da abreviação, em inglês, de Legal Technology, cujo conceito diz respeito à junção entre o Direito e a Tecnologia. De forma geral, as legaltechs são startups que se dedicam a usar a tecnologia para resolver problemas e otimizar o trabalho de advogados, escritórios de advocacia e departamentos jurídicos.

Segundo a Agência Javali, nos Estados Unidos, país que possui um ecossistema de startups muito bem amadurecido, as legaltechs chegaram a receber mais de US$1,6 bilhão em 2018, um aumento de mais de 700% em relação aos anos anteriores. Já no Brasil, a Associação Brasileira de LawTechs e Legaltechs (AB2L) apontou que houve aumento de 300% na quantidade de startups jurídicas no país, entre 2017 e 2019.

O Brasil é um ambiente propício para esse mercado por muitos motivos, dentre eles se destaca a alta quantidade de processos acumulados: o relatório Justiça em Números 2021, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), contabilizou 75,4 milhões casos pendentes. Além da demanda massiva por automatização e gerenciamento desses processos, as legaltechs também se beneficiam do fato de que o sistema judiciário brasileiro se digitalizou rapidamente nos últimos anos. Em 2020, por exemplo, apenas 3% das ações ingressaram fisicamente para análise da Justiça, ainda de acordo com o CNJ.

Quando observado o mercado de investimento privado no mundo, a chamada indústria de “venture capital”, onde estão os investidores anjo e fundos de investimento “seed capital”, é clara a fartura de recursos captados aplicados entre 2018 e 2021 em diversas startups, sendo que a partir de 2022 houve um período de retração, que ficou conhecido com o inverno das startups. 

Durante o mesmo período, o mercado de legaltechs experimentou crescimento significativo devido à crescente demanda por soluções tecnológicas na área jurídica. Em meados de 2018 e 2019, o mercado de legaltechs estava em ascensão, com aumento em startups que ofereciam soluções inovadoras para problemas jurídicos como a automação de contratos, a gestão de documentos legais, pesquisa jurídica avançada, entre outros. Esse crescimento continuou nos anos seguintes e muitas empresas tradicionais de serviços jurídicos também começaram a adotar tecnologias oferecidas pelas legaltechs para melhorar a eficiência, reduzir custos e aumentar a precisão na prestação de serviços.

Apesar do grande contingente de profissionais qualificados, muitos advogados e paralegais enfrentam obstáculos na captação de novos clientes e na gestão eficiente de processos. A concorrência acirrada e a falta de diferenciação de serviços têm dificultado a expansão dos negócios jurídicos.

A chegada da inteligência artificial e a automação de processos têm sido tanto uma bênção quanto um desafio para os profissionais do Direito. Enquanto a IA oferece oportunidades para otimizar tarefas repetitivas, melhorar a análise de dados e aumentar a eficiência, também desperta preocupações sobre a substituição de algumas funções tradicionalmente executadas por advogados e paralegais.

Neste contexto, os investimentos ano ou via “seed capital” em startups legaltechs surgem como uma oportunidade para enfrentar desafios dos profissionais do Direito, considerando que essas empresas estão desenvolvendo soluções inovadoras para aprimorar a prática jurídica, oferecendo desde plataformas de gestão de processos até ferramentas de análise preditiva e automação de documentos. As legaltechs não estão apenas redefinindo a maneira como os serviços jurídicos são entregues, mas também proporcionando soluções para a aquisição de clientes e para o gerenciamento eficaz de processos, ampliando o alcance dos profissionais do direito.

Aqui é onde o conceito de “Venture Builders” entra em jogo. Os “Venture Builders”, ou construtores de startups, são organizações especializadas em construir e desenvolver startups desde o início, oferecendo suporte estratégico, financeiro e operacional para transformar ideias em empresas viáveis. Na área das legaltechs esses empreendimentos têm desempenhado um papel crucial no desenvolvimento e na aceleração dessas startups, proporcionando não apenas capital inicial, mas também orientação estratégica, acesso a redes de contatos e expertise para crescerem de maneira sustentável.

A ascensão da inteligência artificial não é mais uma perspectiva futura, mas uma realidade presente. Ferramentas de IA estão sendo implementadas para analisar contratos, prever decisões judiciais, realizar pesquisas jurídicas avançadas e até mesmo oferecer atendimento jurídico básico através de chatbots. Com o suporte dos “Venture Builders” as legaltechs podem acelerar sua jornada de desenvolvimento, desde a concepção até a maturidade do negócio. Essas organizações proporcionam não apenas investimentos financeiros, mas também conhecimento especializado, estratégias de crescimento e acesso a uma rede de mentores e parceiros.

Os investimentos “seed capital” em startups legaltechs, impulsionados pelo apoio dos “Venture Builders”, representam uma oportunidade para os profissionais do Direito enfrentarem os desafios atuais e abraçarem a transformação digital. Essa colaboração entre investidores e empreendedores permite o surgimento de soluções inovadoras que não apenas aprimoram a prática jurídica, mas também ampliam o alcance e a eficiência dos serviços oferecidos.

A integração da inteligência artificial, aliada ao suporte estratégico dos “Venture Builders”, não só impulsiona o desenvolvimento das legaltechs, mas também posiciona os profissionais do Direito na vanguarda da inovação, permitindo que ofereçam serviços jurídicos mais eficazes, acessíveis e alinhados com as demandas do mercado moderno.