A quarta agenda

11 de agosto de 2014

Membro do Conselho Editorial e Direto Executivo da Fetranspor

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LelisMuitos acreditam que, desde o ano passado, o Brasil mudou o futuro. As manifestações, a indignação latente e a oportunidade das eleições deste ano trazem a mensagem de novos caminhos, nova agenda para o País.

Tivemos, segundo o professor e filósofo Renato Janine Ribeiro, três agendas democráticas bem-sucedidas: a derrubada da ditadura e a da inflação e a inclusão social em larga escala. Agora entra em pauta a quarta: transporte, educação, saúde e segurança pública de qualidade. É essa agenda que marcará o fim do apartheid entre quem paga ao setor privado pela qualidade dos serviços e quem ainda depende daqueles de qualidade inferior oferecidos pelo Estado.

Tal agenda ganha mais relevância quando se sabe que 85% dos brasileiros moram em cidades quando, em outros países, 50% da população residem em áreas urbanas. Além disso, o Brasil tem 16 municípios com mais de um milhão de habitantes nas áreas metropolitanas, pessoas que não são assistidas por políticas públicas integradas.

O caso do Rio de Janeiro é exemplar. Com 92 municípios, que reúnem mais de 16 milhões de habitantes, inclui a segunda maior região metropolitana do País, terceira da América do Sul e 20a maior do mundo. Os 21 municípios da Grande Rio abrigam 75% da população fluminense e produzem 66% do PIB estadual.

Este Rio Metrópole exige planejamento urbano integrado por um Plano Diretor de Transporte Metropolitano para oferecer serviços de qualidade a 12 milhões de moradores do estado. A ampliação da infraestrutura de transporte coletivo, em ação no município do Rio de Janeiro – e um dos grandes legados da Olímpiada 2016 – tem de beneficiar também os vizinhos da região metropolitana.

Os BRTs com seus atributos, como a rapidez na implementação, o custo reduzido de construção comparado a outros modais, o menor tempo de viagem realizada por corredores exclusivos e as estações com total acessibilidade, devem ser ampliados para abranger todo o arco metropolitano. Afinal, merecemos todos um transporte público de massa e com serviço de qualidade adotado em 166 cidades de países tão diferentes quanto Estados Unidos da América e Índia, México e Austrália, Peru e Colômbia.

E não por acaso. Cada ônibus articulado que passa no corredor exclusivo tira três ônibus das ruas. Como cerca de mil articulados vão operar os quatro BRTs – Transoeste, Transcarioca, Transolímpica e Transbrasil –, 2.500 ônibus deixarão de circular pela cidade do Rio de Janeiro até 2016. As vantagens, só para citar algumas, incluem trânsito menos caótico e meio ambiente mais preservado. E, especialmente, provam que o sistema integrado de transporte público começa a ser realidade. A estação com mais movimento no corredor Transcarioca é a de Vicente de Carvalho, ponto de ligação com o metrô. Recebeu 66 mil passageiros em um mês.

A quarta agenda é viável. É possível e urgente a integração entre os modais (ônibus, trens, metrô, barcas e VLT) a partir da adoção de uma política unificada de transporte público urbano que englobe todas as cidades da metrópole e beneficie seus habitantes. Gente que sabe que quanto melhor o serviço de transporte, melhor a qualidade de vida.