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Renovação na casa dos jornalistas

24 de novembro de 2014

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ABIABI elege sua diretoria e dá início ao processo de reorganização administrativa, com propostas voltadas ao fortalecimento da categoria. Associados de outros estados brasileiros votaram pela primeira vez e escolheram o repórter Domingos Meirelles para liderar a entidade

Realizadas em 26 de setembro, as eleições para a diretoria executiva da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) deu vitória, por 218 a 147 votos, à chapa Vladimir Herzog, encabeçada pelo jornalista Domingos Meirelles, que tem como vice Paulo Jeronimo de Sousa.

Esta é a primeira vez na história da entidade que um repórter de televisão assume o cargo de diretor-presidente da entidade. O pleito também foi o primeiro realizado em âmbito nacional. Desde que a ABI foi fundada, em 1908, participavam somente os eleitores radicados na capital do Rio de Janeiro. Dessa vez, a entidade, que tem cerca de três mil associados, contou com votantes do estado e também de São Paulo, Minas Gerais, Maranhão, Alagoas e Distrito Federal. O sistema de voto eletrônico será implantado para os próximos pleitos, – uma das propostas de campanha da Chapa Vladimir Herzog – de modo que, daqui para diante, associados de todo o Brasil possam votar.

Harmonia
O editor da Revista Justiça & Cidadania, Orpheu Santos Salles, foi reconduzido ao cargo de diretor administrativo. Mais antigo sócio e decano da ABI, ele é observador privilegiado não apenas da trajetória da categoria no Rio de Janeiro, como da própria história da ABI, já que integra a diretoria há alguns anos.

Nesse momento em que a nova diretoria assume, com a prerrogativa de “trazer de volta a harmonia à entidade”, Orpheu Salles comenta que a ABI foi criada em 1908 para ser a “Casa dos Jornalistas”, mas transformou-se em um símbolo do Brasil moderno. “Sua importância na vida do País transcendeu a agenda de uma agremiação fundada apenas para a defesa da liberdade de imprensa e do exercício profissional. Nos anos de chumbo, a ABI foi a mais notável das trincheiras na luta contra o arbítrio e a opressão”, diz o jornalista. Nesse viés, destaca-se a participação da entidade, ao lado da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na denúncia contra a tortura e morte de presos políticos, como no caso da morte de Vladimir Herzog (1937-1975), o que foi, de acordo com ele, fundamental para o restabelecimento do Estado Democrático de Direito.

Para o diretor, o papel da ABI não foi apenas decisivo na consolidação do regime democrático, depois do golpe de 1964. Antes, seu envolvimento na Campanha do Petróleo foi também determinante com a criação da Petrobras. “As primeiras reuniões da memorável mobilização popular, cujo lema era “O Petróleo é Nosso”, foram realizadas no auditório do nono andar da Casa dos Jornalistas. A ABI sempre esteve na vanguarda da discussão das grandes questões nacionais. Foi uma das primeiras entidades a liderar a luta pela anistia e a participar da campanha das Diretas Já. Ao lado da OAB, teve participação relevante no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo”, comenta.

Ele lembra que, nos últimos anos, a ABI, que foi a “Casa” de respeitadas figuras históricas como Barbosa Lima Sobrinho, Gustavo Lacerda, Herbert Moses e Prudente de Morais Neto, abdicou de participar da vida política do País. “Suas intervenções passaram a ser meramente protocolares, sempre a reboque de outras instituições. A ABI tem o dever histórico de resgatar o espaço que perdeu entre as entidades mais representativas da sociedade civil, sob pena de ver sua identidade se esmaecer para sempre.”

Para Orpheu Salles, as eleições realizadas com o resultado do novo comando da Casa demonstraram que foi alcançado o principal objetivo de estancar a perda de importância e significado de uma instituição que, nos últimos anos, havia renunciado a qualquer tipo de intervenção no mundo moderno. “Como consequência, a ABI se levanta e se renova, conclamando as gerações mais jovens a darem sua contribuição no estimulante processo de revitalização da entidade. Convoca todos os jornalistas a se envolverem no resgate da antiga vocação republicana da ABI como fulcro nacional dos grande debates políticos, econômicos e sociais, convencidos de que a democratização do conhecimento é o mais eficiente instrumento da inclusão social para que o Brasil deixe, de uma vez por todas, a ser o País injusto e perverso em que vivemos.”

Como diretor administrativo da Associação, Orpheu Salles afirma que a principal tarefa será desassociá-la da letargia que a levou, em consequência, a dívidas colossais que se acumularam ao longo dos anos, deixando-a “mumificada pelos equívocos cometidos arbitrariamente por sucessivas gestões”. De acordo com ele, a penhora de todos os pavimentos do edifício-sede tem de ser anulada com atitudes, ações administrativas e providências legais pertinentes, livrando um patrimônio inestimável que não pertence apenas aos seus associados, mas a toda a sociedade. “A ABI vai se reconciliar com o seu passado, visando ao futuro, e voltar a representar o papel que historicamente sempre foi seu.”

Em termos de gestão, o comando da ABI, com a recente eleição e o firme intento dos seus diretores, possibilitará o reencontro democrático com a OAB, a CNBB e outras organizações que defendam também os princípios da honra, dignidade e a ética nos entes públicos, com a intransigente defesa dos direitos políticos e sociais da sociedade. “Será nossa meta atingir as demandas que visam a alcançar a moralidade na administração pública, propugnando pelo atendimento aos direitos sociais consignados na Constituição Federal. O principal e o que se pretende é voltar a tornar a ABI o Bastião das liberdades cívicas e morais, em defesa da Pátria e da sociedade”, conclui o diretor.

Propostas
Depois de um acirrada disputa entre as duas chapas, a diretoria eleita se prepara para colocar em prática as propostas anunciadas durante a campanha eleitoral. De acordo com informações da própria ABI, entre as providências mais importantes, a partir de uma proposta administrativa de gestão compartilhada, está a recuperação e a harmonização da entidade, o que inclui uma campanha de filiação em todo o País, fazendo da Associação, efetivamente, a entidade representativa de todos os jornalistas brasileiros.

Entre as propostas da Chapa Vladimir Herzog, no que tange ao fortalecimento da categoria, estão a de promover ações de geração de empregos e de capacitação, com a oferta de cursos livres para profissionais e estudantes. Outra meta é buscar a revitalização da imprensa do interior e a publicação dos Cadernos de Jornalismo ABI, utilizando-se o rico material do acervo do Centro de Memória.

Está nos planos da atual diretoria a criação do Fórum de Políticas Públicas, em parceria com entidades representativas da sociedade civil, para discussão de assuntos de interesse dos jornalistas e da população em geral.

No âmbito da recuperação do patrimônio, a prio­ridade está na continuidade das reformas do edifício-sede. Prevê-se o restabelecimento das atividades culturais, incluindo sessões de cinema, teatro e realização de exposições de arte. Para tanto, será feita reforma total do auditório. Também foram anunciadas ações na área de saúde, com a implantação de um ambulatório e a reestruturação de seguro de vida, convênios médico-hospitalares e outros benefícios.

Domingos-JoãoO novo presidente da ABI
Aos 74 anos de idade, o carioca Domingos João Meirelles iniciou sua carreira como estagiário do jornal Última Hora, em 1965. O jornalista atuou na Editora Abril e nos diários O Jornal, O Globo, Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo. No vídeo, Meirelles estreou na Rede Globo de Televisão em 1985, primeiro como repórter especial e, depois, como apresentador de programas como Fantástico, Jornal Nacional, Globo Repórter e Linha Direta. O novo presidente da ABI também registrou passagem pelo SBT e, atualmente, apresenta o Repórter Record Investigação, da Rede Record.

Meirelles conquistou, em 48 anos de profissão, mais de 30 prêmios, entre eles dois Prêmios Esso e dois Vladimir Herzog, além do Prêmio Rei da Espanha de Televisão. Ele também é escritor com várias obras publicadas, entre elas “A Noite das Grandes Fogueiras: uma História da Coluna Prestes (Prêmio Jabuti de Reportagem de 1996) e “1930: os Órfãos da Revolução”, vencedor do Jabuti de 2006, na categoria Ciências Humanas.

Na Associação, ele foi editor do antigo Boletim ABI – atual Jornal da ABI –, órgão oficial da entidade. Em 2004, passou a ocupar o cargo de diretor econômico-financeiro.

Nova diretoria da ABI
Diretor presidente: Domingos Meirelles
Diretor vice-presidente: Paulo Jeronimo de Sousa
Diretor administrativo: Orpheu Santos Salles
Diretora econômico-financeiro: Ana Maria Costábille
Diretor de cultura e lazer: Jesus Chediak
Diretor de assistência social: Arcírio Gouvêa
Diretor de jornalismo: Eduardo Cesário Ribeiro